Para uma cidade crescer e prosperar com saúde, segurança e qualidade de vida, ela precisa cuidar dos seus descendentes.
Jaraguá do Sul tira essa missão de letra com uma grande rede de solidariedade formada entre moradores, empresários e entidades que tem como prioridade o amor ao próximo e a generosidade.
Um exemplo que deixa bem claro esse sentimento que move a cidade é a Corporação de Bombeiros Voluntários.
A história da entidade, que completa 53 anos em agosto, mostra uma trajetória de desafios e sucessos em épocas que a boa vontade dos voluntários superava a necessidade de equipamentos.
Era começo da década de 1960 quando um grande incêndio atingiu a casa comercial Willi Mahnke.
O caso conturbou a população de Jaraguá e deu início a uma ação mais contundente da sociedade a fim de formar um grupo de bombeiros voluntários.
A corporação mais próxima ficava em Joinville e os caminhões demoravam de uma a duas horas e meia para fazer a viagem pelas estradas sem pavimentação.
Diante do surgimento de novas indústrias e a necessidade de atendimento à população de 32 mil habitantes, a entidade Bombeiros Voluntários de Jaraguá do Sul foi oficialmente fundada no dia 22 de agosto de 1966.
Com a colaboração dos bombeiros de Joinville, membros do Lions Club da época tomaram a iniciativa.
No início, os únicos veículos com os quais a entidade podia contar era um caminhão Ford Tames e um Jipe, que foi doado em 2010 ao Museu Wolfgang Weege, no Parque Malwee, para ficar em exposição permanente.
Um caminhão tanque da Prefeitura, usado para molhar as ruas empoeiradas da época, também auxiliava o serviço dos bombeiros.
O espírito de luta em prol da comunidade jaraguaense fez a entidade ser uma das maiores e mais modernas da área em Santa Catarina atualmente, contando com 150 bombeiros voluntários e 41 efetivos.
“Vinha de bicicleta aqui e deixava currículo sempre”
A comoção gerada pela entidade é tanta que desperta os mais jovens a seguirem por este caminho. Fernando Valdemar de Lima ingressou nos Bombeiros aos 16 anos como aspirante, mas buscava pela vaga desde a infância.
“Por um desencontro entre as datas de abertura de turmas e de aniversário, não dava certo. Eu ia até a sede dos Bombeiros de bicicleta e deixava currículo sempre”, recorda Lima.
Depois de começar as atividades, Lima iniciou o treinamento de atendimento às vítimas. Aos 18, ele passou a ser bombeiro operacional.
Com cinco anos de voluntariado, ele foi efetivado. “Desde pequeno tive um olhar para isso, está dentro de mim, é o que eu amo fazer. Atender chamados, sair para ocorrência e ajudar as pessoas”, declara.
Hoje, ele atua na corporação como motorista e socorrista. “Às vezes não sobra tempo nem para almoçar”, brinca.
Ocorrência mais marcante
Eram 15h15 do dia 19 de dezembro de 2009 quando Fernando Lima recebeu um chamado de princípio de incêndio em um apartamento no Centro de Jaraguá do Sul.
Pelo caminho, novas informações iam chegando e, ao se aproximar do local, o bombeiro viu a proporção do fogo que tomava conta do último andar do prédio.
“Na medida que eu ia subindo as escadas para tentar conter as chamas, os moradores iam descendo desesperados, com crianças no colo e chorando. Isso foi algo que me marcou muito”, relata Lima.
Ele recorda que foram montadas linhas de combate para chegar ao fogo e conseguir resgatar três moradores que estavam isolados na sacada do apartamento.
A operação levou cerca de três horas. Outra ocorrência de destaque na carreira de Lima foi no ano de 2008, quando um grande deslizamento matou nove pessoas da mesma família no bairro Barra do Rio Cerro.
O bombeiro fez parte da força tarefa para retirar as últimas vítimas soterradas.
“Nós estávamos revezando as equipes. Eu fiquei para o grupo da noite. Localizamos o casal de idosos que estava junto em um local que parecia ser o quarto, com roupas, gavetas e armários soterrados pela terra”, completa.
Certeza de estar no caminho certo
A história de Luan Macedo nos Bombeiros Voluntários começou aos 12 anos. Da categoria mirim ele foi para a aspirante.
Hoje, Macedo é chefe dos voluntários. Cargo este que concilia com a carreira de analista de qualidade na empresa Indumak.
O desejo surgiu ainda mais cedo, quando ele presenciou um incêndio na casa de uma tia que morava ao lado.
“Vi caminhões passando com a sirene ligada, luzes, o pessoal todo correndo para combater o fogo. Com o passar dos anos, fiquei cada vez mais motivado a seguir essa caminhada e fazer o bem sem olhar a quem”, declara.
O incêndio em um apartamento no ano de 2009 também foi uma das ocorrências mais marcantes para Macedo. Ele estava em outro atendimento quando as primeiras viaturas se deslocavam para o local.
“Eu levei a vítima que estava comigo no hospital e fui para a sede. De lá, fomos para o local do incêndio levando mais água, cilindros, capacetes e outros equipamentos”, aponta.
Como chegou um pouco depois, Macedo ficou esperando para montar a equipe de resgate das pessoas que estavam presas no apartamento do último andar.
“Subimos até oitavo andar, depois fomos batendo na porta de cada um para ver se não tinha ninguém e achar quem estava preso. No último apartamento do décimo andar achamos as vítimas. Todas as portas estavam fechadas e eles estavam do lado de fora da sacada”, conta.
“Quando nos viram agradeceram muito. Era o pai e dois filhos. O helicóptero águia ajudou no resgate das crianças com uma corda e o pai desceu com nós pelas escadas. Molhamos um cobertor e enrolamos nele”, comenta Macedo.
Bombeiros de toda a região auxiliaram na ocorrência. Empresas também enviaram caminhões com reserva de água.
“O incêndio era numa proporção que não estamos acostumados, vertical e em um local mais íngreme. O caminhão tinha que ficar numa posição que fosse possível a água ser bombeada”, avalia.
Macedo observa que o agradecimento recebido naquele dia comprovou, no passado, que ele tomou a decisão certa.
“Faço isso pela vida. É uma satisfação poder ajudar as pessoas, seja no que for”, completa.
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