Ataque de Jean Wyllys repercute pelo estado e autoridades catarinenses saem em defesa da Schützenfest

Foto divulgação/Schützenfest

Por: Pedro Leal

28/04/2022 - 16:04 - Atualizada em: 28/04/2022 - 18:03

Não é apenas em Jaraguá do Sul que tem repercutido a fala do ex-deputado federal Jean Wyllys, com críticas à Schützenfest de Jaraguá do Sul e às tradições alemãs, inclusive com uma comparação do evento com propaganda nazista.

Em Blumenau, o prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) e a Associação dos Clubes de Caça Tiro se manifestaram e criticaram a postura de Wyllys.

Mário Hildebrandt escreveu na internet que lamenta a atitude do ex-parlamentar e sugere pesquisar as tradições antes de disparar ataques preconceituosos, desmerecer o trabalho do artista que produziu o cartaz e lançar acusações sobre todo um povo.

“Não fala de Blumenau, mas tranquilamente poderia, já que temos cerca de 40 Clubes de Caça e Tiro presentes e um stande de tiro ao alvo dentro da Oktoberfest. Os atiradores fazem parte da história dos colonizadores europeus que aqui chegaram e iniciaram a construção da sociedade que temos hoje. Não trata-se de Jaraguá do Sul, apenas, mas é sobre todos nós.” disse.

A Associação dos Clubes de Caça e Tiro de Blumenau também se manifestou, defendendo as tradições de caça e tiro.

“Demonstração clara de que desconhece completamente a história do nosso povo e a nossa cultura. A festa de Jaraguá do Sul está entre as 5 maiores festa do tiro do mundo. A tradição do tiro desportivo é forte e estamos trabalhando muito para fortalecê-la ainda mais.”, destaca o presidente da associação, Paulo Sérgio de Almeida.

Almeida acrescenta que a declaração de Jean Wyllys ofende as origens da população de Blumenau. “Da qual temos muito orgulho e que nos distingue. Uma cultura e tradição riquíssima cultivada desde os primeiros anos da colônia, que merece o respeito de todos.”, comenta.

Algumas reações foram mais agressivas. O deputado estadual Ricardo Alba (PSL) criticou a fala do ex-deputado federal. “Seu ignorante, vai estudar um pouco. Respeita a tradicional Schützenfest e todas as festas culturais de Santa Catarina.”, disse em um vídeo na internet.

O deputado federal Peninha (MDB) afirmou que não era admissível o desrespeito do ex-parlamentar com a história da região

 

A deputada Federal Carol de Toni criticou a ofensa histórica do ex-deputado, que alegou que a região teria sido colonizada por “fugitivos de guerra nazistas”. De Toni apontou que não apenas Jaraguá do Sul foi colonizada antes das duas guerras mundiais, como seria uma das cidades mais seguras do país.

As declarações de Wyllys também alimentaram discursos raivosos contra o estado como um todo, chamando SC de “antro de nazistas”.

Enquanto as redes sociais alimentam a tese de que SC é a fonte primária (ou única) de nazistas no país, o estado com maior número de movimentos nazistas no país é São Paulo – estado que também conta com os maiores movimentos neonazistas do país.

Segundo pesquisas, dos 300 grupos neonazistas em atividade em 2014, 99 seriam paulistas – e o número cresceu deste então: um monitoramento da Doutora em Antropologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) Adriana Dias, aponta que São Paulo é o estado com maior presença desses grupos, chegando a um total de 137 células em atividade, dos quais 51 estão na capital. Em Santa Catarina seriam 69 células.

Segundo a mesma pesquisa, grupos neonazistas cresceram 158% em Santa Catarina no último um ano e meio. Em três anos, em todo Brasil o aumento foi de 270%. A estimativa é que existam no país 530 células extremistas com cerca de 10 mil participantes.

Em defesa das declarações do ex-parlamentar, a socióloga e filósofa Márcia Tiburi definiu a festa tradicional como “um neointegralismo bizarríssimo”, insinuando uma ligação espúria entre a Schützenfest e o movimento fascista da década de 30.

 

Embora movimentos integralistas existam atualmente, eles se concentram primariamente no Rio de Janeiro.