Coluna do Prisco: Fim da polarização em SC

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Por: Claudio Prisco Paraíso

21/02/2023 - 06:02 - Atualizada em: 21/02/2023 - 08:19

Santa Catarina se habituou a fazer política em torno da Arena e do MDB. Era a realidade durante o Regime Militar, onde imperava o bipartidarismo. Processo que durou até 2014. Estamos falando de mais de meio século de história política.Depois, em 1979, chegou o pluripartidarismo, um dos símbolos do processo de redemocratização.Da Arena, surgiu o PSD. O MDB virou o PMDB. Havia a exigência de que houvesse um P, de Partido, à frente das siglas.Outras legendas foram sendo criadas. No pleito indireto, com a votação sob a responsabilidade do Congresso Nacional, de 1985, Tancredo Neves, do PMDB, que havia passado pelo PP (Partido Popular) e voltou ao Manda Brasa, também canalizou o apoio do PFL (Partido da Frente Liberal). Esta nova sigla nasceu de uma defecção do PDS.O mineiro bateu Paulo Maluf por larga margem. Não tomou posse por uma destas curvas da história. José Sarney, eleito vice-presidente pelo colégio eleitoral, acabou empossado. Teria um mandato de quatro anos, mas o maranhense articulou a extensão de mais um ano em seu período, proposta aprovada por deputados e senadores.

Embate

Com o restabelecimento das eleições diretas para governador, em 1982, sempre tivemos o enfrentamento entre o PDS e o MDB. Até 2018.

Mano a mano

Foi assim entre Esperidião Amin e Jaison Barreto, com o resultado sendo favorável ao primeiro. Isso lá em 82. Em 1986, houve uma tri-polarização com o surgimento de Vilson Kleinübing pelo PFL. O candidato do PSD e de Amin, Amílcar Gazaniga, ficou em terceiro. Pedro Ivo Campos, do MDB, venceu o pleito. Ainda não havia o instituto da eleição em dois turnos.

Kleinübing contra Paulo Afonso

Chegamos a 1990 com a vitória de Kleinübing. O pefelista derrotou Paulo Afonso Vieira, do MDB. Quatro anos depois, o emedebista bateu Angela Amin, do PPB (uma das siglas que se originou do antigo PDS).

Segundo round

Naquele 1994 já se registrou a eleição em dois turnos. Em 1998, primeiro ano em que o governador poderia concorrer à eleição, Paulo Afonso perdeu para o marido de Angela, Esperidião, que voltou para seu segundo mandato à frente do Executivo estadual.

Surpresa

Em 2002, Amin concorreu à reeleição, que era dada como quase certa. Mas foi derrotado pelo peemedebista Luiz Henrique da Silveira, que se reelegeu em 2006 também batendo Amin.

Dois lados

Em 2002, Esperidião era o candidato à frente da máquina. Foi derrotado. Quatro anos depois, ele era a oposição. E perdeu novamente para um LHS que havia renunciado ao mandato, abrindo espaço para Eduardo Moreira cumprir mandato-tampão em 2006. Luiz Henrique concorreu sem a caneta nas mãos, situação que ele havia criticado pelo fato de Amin permanecer no cargo em 2002.

Duas vezes

Raimundo Colombo, apoiado por LHS, derrotou Angela Amin e também Ideli Salvatti, do PT, que era senadora. Isso em 2010. Em 2014, Colombo venceu Paulo Bauer. O lageano elegeu-se e se reelegeu no primeiro turno, em ambos os pleitos.

De fora

Quatro anos mais tarde, o MDB, pela primeira vez ficou fora do segundo turno diante do advento do Bolsonarismo. Gelson Merisio (PSD – nascido do PFL) foi derrotado pelo desconhecido Moisés da Silva.

Repeteco

No ano passado, o fenômeno de 2018 levou o troco por ter traído e abandonado Jair Bolsonaro. Jorginho Mello, o candidato do ex-presidente, venceu Décio Lima, do PT, no segundo round do pleito estadual.

era

A bipolarização entre Arena e seus sucedâneos e o MDB, portanto, se encerrou em 2018. As duas correntes partidárias, registre-se, estão em estágio avançado de extinção.

Ver navios

No ano passado, o clã Amin foi derrotado. Esperidião não chegou ao segundo turno na tentativa de um terceiro mandato de governador. Sua mulher não renovou o mandato de federal e seu filho, João, também não conseguiu a reeleição a deputado estadual.

Carreira longa

Esperidião tem mais quatro anos no Senado. Concluindo este período ele terá quase 80 anos. Nas mãos de quem ficará o PP? O nome natural seria o do prefeito reeleito de Tubarão, Joares Ponticelli. Ocorre que ele está no xilindró, por obra e efeito da Operação Mensageiro.

Reinventar-se é preciso

E o MDB? A exemplo de 2018, o partido novamente não carimbou passaporte para o turno final do pleito de 2022, quando indicou o vice e o candidato ao Senado na chapa de Moises da Silva. Qual será o futuro do MDB? É uma grande incógnita.

Novo tempo

Trocando em miúdos: o estado vive uma nova configuração partidária. O PT ainda dá o ar de sua graça. Mas sem grandes perspectivas, considerando-se que o eleitorado catarinense é majoritariamente conservador.

Força

Há o PL, que em 2022 foi o PSL de 2018, vinculado ao bolsonarismo. Quem mais? O PSD? Cambaleante, patinando. Basicamente, temos o partido de Bolsonaro e um PT muito enfraquecido.

Fim da linha

Acabou-se, até segunda ordem, a polarização. Temos o partido ligado ao bolsonarismo e os demais tentando sobreviver a qualquer custo. As décadas históricas de polarização entre a Arena e o MDB chegaram ao fim. É história. Novas páginas já começaram a ser escritas no estado.