SC não existe para a União – Claudio Prisco Paraíso

Por: Claudio Prisco Paraíso

17/04/2024 - 06:04

 

Santa Catarina vem sendo mais uma vez duramente castigada pelas chuvas. Embora a expectativa seja de melhoria no tempo, os estragos desde a noite de sexta perduram até este começo de semana. Isso realmente exige uma ação coordenada do governo do estado com os municípios mais atingidos. E a União?

Bem, parece que o governo federal não está preocupado com Santa Catarina. Apesar de termos um catarinense, Décio Lima, à frente do Sebrae nacional, amigo, correligionário e compadre de Lula da Silva, e além dos investimentos do ano passado em rodovias federais, a realidade é outra.
Os recursos próprios prometidos ao Senado, sinalizados para neutralizar os efeitos das enchentes de outubro, chegaram? Os valores são reduzidíssimos, muito aquém da necessidade e do prometido.

 

Lados opostos

Hoje, o que se verifica é uma total falta de sintonia e um absoluto distanciamento entre as administrações federal e estadual. A grande verdade é que Lula III e Jorginho Mello não querem conviver.

 

Noite e dia

Eles preferem manter distância no contexto político, considerando as questões partidárias e as eleitorais. E o componente administrativo que deveria prevalecer num caso desses? Lula da Silva, com 15 meses no cargo, não pisou em Santa Catarina. Nas cheias do ano passado, enviou vários ministros e nada mais.

 

Troco de bala

As verbas? Irrisórias. Um levantamento da Secretaria da Fazenda, relativo a 2022, mostra que a receita global do estado, 94.9%, é oriunda de arrecadação própria. As transferências federais representam apenas 5.1%.

 

Mão única

Para se ter uma ideia, em 2002, Santa Catarina foi o quinto estado que mais transferiu recursos para Brasília de tributos federais e foi o penúltimo no que diz respeito ao retorno desses recursos pela União.

 

Justiça fiscal

Ah, mas o estado catarinense é redondo, anda com as próprias pernas, sendo essencialmente exportador, empreendedor, gerador de emprego e competitivo em inovação. Isso mantem a máquina funcionando, mas para os grandes investimentos, como obras de porte no contexto infraestrutural que possam neutralizar os gargalos logísticos, dependemos de recursos externos.

 

Custos elevados

Nenhum estado, com exceção de São Paulo, que é a locomotiva econômica do país, nem mesmo Minas Gerais ou Rio de Janeiro, dispõe de recursos para bancar essas obras.

 

Iniciativa privada

Então, se a União não tem dinheiro ou não quer transferir, que desenvolvamos um programa de concessões para que a iniciativa privada entre e banque os investimentos. O que não é possível é, a cada 4 ou 5 meses, enfrentar novas enchentes e cheias, enquanto a manutenção das estradas fica pela hora da morte.

 

Caos total

Tivemos nos últimos dias na BR-101 Sul, no Morro dos Cavalos, uma queda de barreira e o trânsito foi interrompido, mas já restabelecido. É possível fazer consertos, mas o necessário em termos de infraestrutura é continuamente adiado. E são rodovias federais!

 

Nem aí

A União parece desinteressada. Fica a sensação de que chegou o momento tanto para o governador quanto para o presidente da República esquecerem ou deixarem de lado as diferenças e buscarem uma convivência administrativa, pelo menos institucional.

 

Boleto

Caso contrário, será Santa Catarina quem pagará a conta. O problema é que o eleitorado catarinense derrotou Lula em 22. Dentre os principais estados, aqui foi a maior derrota proporcionalmente do PT.

 

Afasta de mim

E Jorginho Mello, por sua vez, não quer imagem, não quer foto, não quer vídeo com Lula, porque isso pode prejudicar sua reeleição em 2026 em um estado essencialmente conservador e potencialmente bolsonarista. Me parece que chegou a hora dos dois praticarem conjuntamente um gesto em nome de uma prosperidade ainda maior de Santa Catarina.