♫ “Eu não sabia, eu não tinha percebido/
Eu sempre achei que era vivo//
Nada é orgânico, é tudo programado/
E eu achando que tinha me libertado//
Pense, fale, compre, beba/
Leia, vote, não se esqueça/
Use, seja, ouça, diga/
Tenha, more, gaste, viva”
(Admirável chip novo Pitty).
Parte considerável da vida, hoje, é conduzida por algoritmos, que eu chamo de robozinhos. Algoritmo, simplificando, é uma sequência de ações ou comandos que levam à solução de um problema; no caso, programas de computador.
Os robozinhos, cada vez mais inteligentes, que nos levam a fazer o que “achamos” que queremos fazer e a nos fechar em nossos mundinhos cada vez mais herméticos.
Somos o que achamos que queremos ser.
Comprar por impulso é algo que existe desde os primórdios. Antes íamos às lojas e… pah!, voltávamos com o que não tínhamos ido comprar. Hoje a loja vem até nós. A todo instante, no computador, no tablet, no smartphone.
Mais do que isso, “compramos” ideias como se fossem nossos próprios pensamentos ou reflexões. Filosofias, ideologias, pensamentos políticos. E isso faz que, se não houver atenção, fique-se dentro de um círculo tão fechado quanto ignorante.
Mas esse círculo vicioso nem sempre é ruim: os algoritmos que fazem você ler só sobre o político que você pensa que gosta são os mesmos que entendem quais são as músicas e filmes que você mais curte e lhe indica títulos similares.
Reforçando os preconceitos.
Para confirmar o que digo, a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) publicou um estudo que comprova o trabalho dos robozinhos treteiros, ou seja, dos algoritmos que reforçam os preconceitos.
A pesquisa foi realizada por doutores (de verdade) de ciência da computação, com análise de quase 332 mil vídeos e 79 milhões de comentários do YouTube, de 360 canais de orientações políticas diversas, no contexto político norte-americano.
Restou constatado que a trajetória dos usuários que iniciavam comentando em canais moderados seguia para outros mais radicais. Segundo a pesquisa, houve uma migração consistente de conteúdos mais leves para os mais extremos.
Colocando gasolina na fogueira.
Outros estudos já apontaram que os robozinhos treteiros da internet alimentam sistematicamente o discurso de ódio. As pessoas se veem cercadas pelo que querem acreditar e isto alimenta seus conceitos, muitas vezes errados, sobre quase tudo, pois os “treteirinhos” já perceberam suas preferências políticas, religiosas ou ideológicas. Igual ao que fazem com as músicas e os filmes.
Se o usuário não se esforçar para abrir a mente e tentar entender os dois ou muitos lados de tudo, vai acabar se afogando no mar de lama da ignorância ou sufocado numa bolha invisível. Estamos sendo programados pelos programas.