“♫ É claro que somos as mesmas pessoas/
Mas pare e perceba como o seu dia-a-dia mudou/
Mudaram os horários, hábitos, lugares/
Inclusive as pessoas ao redor” (Anacrônico, Pitty).
O sistema educacional já passava por uma forte transformação nos últimos anos. As formas de ensinar e de aprender estavam sendo constantemente discutidas e reposicionadas. A pandemia, porém, com sua quarentena e distanciamento social, foi um abrupto e forte choque, catalisando esta discussão.
Há algum tempo tem-se ouvido sobre a desnecessidade de diplomas do sistema tradicional; que os novos profissionais não estão, obrigatoriamente, atrelados à formação clássica para atingirem sucesso.
Por outro lado, havia desconfiança com aulas EAD pelos mais diversos fatores (o baixo valor dos cursos, por exemplo).
Competindo com a internet.
Nas salas de aula, porém, os professores de adolescentes e jovens sofrem com a concorrência em tempo real da internet. Se no ensino fundamental e no médio há um certo controle, nos cursos técnicos e nas faculdades a história é, em alguns casos, bem diferente.
Muitos professores se lamentam ao perceberem que a atenção dos seus alunos está mais nas telinhas dos celulares do que nos quadros negros (verdes ou brancos) da sala. E talvez aí esteja o primeiro problema.
Não dá para competir com a dinâmica da internet ministrando aulas estanques escritas nas lousas tradicionais. É uma disputa entre o anacrônico e o futuro. Os alunos acreditam que, com um vídeo de dez minutos do YouTube, vão aprender mais do que numa aula de 50 minutos ou três horas na sala de aula.
Possivelmente vai ser mesmo mais interessante; provavelmente vai ser bem mais superficial. E cabe ao professor resgatar a atenção do estudante.
A pandemia.
A pandemia chegou como um furacão, inclusive nas escolas e faculdades. Professores tiveram pouco tempo para se adaptar à nova necessidade: aulas online. E aqueles que estavam presos a formatos do século passado foram os que mais sofreram.
Vive-se uma era em que o excesso de informação atrapalha a transformação em conhecimento. Perspectivas e formatos novos de educação estão sendo avaliados e estão surgindo em alta frequência. Aulas em plataformas digitais, com dinâmicas modernas, têm atraído a atenção dos alunos. Aulas virtualmente imersivas, inclusive.
Se até agora, as aulas EAD eram quase exclusividade de grupos educacionais (cada vez maiores ao comprarem pequenas instituições locais), ramificando-se pelos cantões do mundo inteiro, não se surpreenda, caro leitor, se daqui a pouco a Netflix, por exemplo, tiver pacotes de aulas em sua grade de programação.
Depois do impacto.
Com o fim da pandemia a humanidade entrará no novo normal. No sistema educacional também. Esse está sendo um período denso de aprendizado para professores, alunos e gestores. O que for realmente aproveitável será incorporado nas escolas, do jardim de infância às faculdades.
Calculava-se, antes da pandemia, que 70% das crianças que estavam entrando no ensino fundamental exerceriam alguma atividade ou profissão, em sua vida adulta, que ainda não existe. As instituições de ensino já estavam preocupadas com esta realidade. A pandemia veio apenas alertar que há muito mais por se fazer do que se pensava.
Se, no final das contas, nossas aulas serão pacotes de streaming no Netflix ou se serão com grupos pequenos em parques verdes da cidade, não sei. Espero que se consiga conciliar os dois, pois muito do que aprendi foi interagindo com meus colegas de sala.