“O mundo por uma janela!”

Por: Nelson Luiz Pereira

31/03/2020 - 08:03 - Atualizada em: 31/03/2020 - 08:29

E então, como num passe de mágica, somos surpreendidos e sentenciados a ver o mundo externo pela janela. Subitamente, também somos induzidos a redimensionar o mundo dentro da janela. Uns se sentindo enclausurados, outros, desafiados e até remodelados. Para alguns, e aqui me incluo, essa experiência tem mostrado que o mundo, mesmo visto pela janela, pode se tornar essencialmente maior que o anterior.

Aquele matutino olhar casual para a árvore do quintal, agora me revela seus parasitas, seus novos ramos, as folhas e frutos que caíramos e surgiram, aquela flor que até ontem era botão, os ninhos e pássaros que nela habitam. Até mesmo seu minúsculo crescimento passa a ser perceptível. Revela-se, também, que a sombra, por ela projetada, a cada dia muda sutilmente sua trajetória.

A complexa fórmula da relatividade do tempo, parece se converter, agora, numa simples equação, cuja incógnita é: movimento. Nos damos conta de que o mundo não parou. Ele é que nos parou. Como se nos alertasse: vocês estão enfeitiçados, desorientados e vazios.

Surpreendentemente, pelo lado de dentro, o mundo também se amplia e se ressignifica. A casa, que era habitação, virou lar. A despensa, até então um espaço secundário, agora é um oásis. A cozinha, um ‘entretenimento masterchef’ com calor humano. A sala, tida como um espaço decorativo, com peças e quadros em exposição, virou um ponto de encontro e convivência presencial. A sacada, com churrasqueira e a mesinha redonda, estampada em mosaico com a língua dos Rolling Stones, obra do brother artista Paulico, se transmuta em melhor bar já frequentado. E o quarto? Bem, o quarto deixou der ser aposento do exausto caixeiro viajante.

Espera-se que o mundo pós pandemia, por qualquer que seja o ponto de visão, possa elevar o senso de humanidade, redefinindo os conceitos de tempo, pressa, prioridade, vulnerabilidade, superficialidade, cooperação e tolerância. A desconstrução é bem-vinda