Embora para muitos, a grande tenda instalada ao lado do teatro do Centro Cultural da Sociedade Cultura Artística (Scar) possa significar uma sombria caverna platônica, para uma parcela seleta da população essa mesma tenda se transforma, por 11 dias, num mundo de luz e sentidos. E o tema que norteia essa 11ª edição é exatamente “a literatura em todos os sentidos”. Por esse prisma, se nos dermos conta de que a diversidade das manifestações humanas só se expressa por meio de alguma forma literária, captaremos a mensagem relevante e subliminar que a Feira do Livro sempre quer nos deixar em cada edição: “quem lê, vive mais”.

Mensagem esta, bem mais branda do que a apregoada pelo saudoso Mário Quintana, “os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprenderam a ler e não leem”. Então me vem um cidadão com o argumento de que no Brasil o livro é muito caro. Eu digo: não criatura, não é. Livro não tem preço. O que tem preço é cerveja, cigarro, tênis Nike, champagne Perrier Jouet Belle Epoque Rosé, aquela preferida do Neymar, coisas assim.

Mas livro não tem preço. Livro só tem valor. E é por essas e outras que no Brasil o livro ainda é ‘um amigo que espera’. Se podemos nos orgulhar de ter, de acordo com a Unesco, uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo (Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro), considerada a maior da América Latina, devemos lamentar, paradoxalmente, em exibir, nessa mesma dimensão geográfica, um dos piores índices de leitura.

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Apesar da tímida evolução verificada nos últimos seis anos, pesquisas recentes apontam que ainda 44% dos brasileiros não leem e 30% nunca compraram um livro. Obviamente temos, como produto desta equação, um destacado grau de alienação social. Não vislumbro outro caminho capaz de reverter esse inibido status senão pela massificação do livro.

Só a literatura nos emancipará do mundo diminuto, do vácuo cultural, da servidão dogmática, da miopia política, do viver lacônico, do niilismo existencial, características estas que identificam a sociedade brasileira nesse campo. Uma nação verdadeiramente livre e desenvolvida se constrói com instrução, educação e cultura. O que vem depois é consequência dessa base.

Sob essa premissa podemos nos orgulhar de exibirmos, localmente, indicadores qualitativos que nos difere da realidade nacional graças a projetos dessa grandeza. Dentro desse contexto, é notório que nossa Feira do Livro já tenha se tornado evento consolidado em nosso calendário anual. Que sua programação surpreenda a cada edição. Que é dirigida por uma abnegada e competente equipe, com patrocínio e apoio de sensíveis e visionários parceiros.

Mas a inquietante realidade nos diz que a consagração de tamanho esforço só será proporcionada com presença expressiva de pessoas circulando no interior dessa grande tenda, ávidas em explorar o imensurável e transformador mundo literário. Vá à feira com a família. Não ignore esse programa.

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