“Em 2022 terei um pé na ‘realidade fática’ e outro na ‘utopia construtiva’”

Por: Nelson Luiz Pereira

13/12/2021 - 07:12

Aqui estou, repetindo uma indagação que faço a cada final de ano: o que esperar do ano vindouro? Bem, espero estar vivo; mais feliz do que o ano que passou; e com uma pitada a mais de ‘saudável loucura.’ Logo, considero essa, uma espera substancial. Entretanto, por incrível que pareça, isso não nos basta. Buscamos sempre construir nossa trajetória apoiados, naturalmente, numa expectativa de modelo social que nos proporcione segurança, certeza, reconhecimento, objetividade, além de resultados favoráveis, palpáveis e mensuráveis.

Inconscientemente, isso nos vale mais do que estarmos meramente vivos. Ocorre que a realidade que nos impacta, favorável ou desfavoravelmente, não é só aquela de natureza palpável e mensurável. Sempre me apoio na ideia de que há um “espaço” imensurável entre ‘realidade’ e ‘possibilidade.’ A esse espaço denomino utopia. No entanto, para alguns essa utopia não passa de imaginação ou ilusão. Mas para outros, e aqui me incluo, ela não é a utopia pura e simples, mas, “utopia construtiva”, ou seja, aquela que move, instiga, impulsiona, entusiasma a ousar, atrever, correr riscos, desafiar a lógica formal estabelecida e, sobretudo, sonhar.

Em tempos sombrios, regidos por dúvidas e ceticismo, uma pitada de ‘saudável loucura’ nos faz ver além do que nossos olhos retêm. Então, como aficionado quixotiano que sou, procurarei ver 2022, pela perspectiva do clássico fidalgo, que via o famoso elmo de Mambrino enquanto seu fiel escudeiro Sancho Pança via, tão somente, uma bacia de alumínio nas mãos de um barbeiro. Para não se deixar infectar por essa realidade bizarra, é preciso permitir que o mundo se revele além de nossos olhos mortais.

Sendo assim, no ano vindouro terei um pé na ‘realidade fática’, compreendendo que entre o desejável e o alcançável há que se ‘dançar na corda bamba de sombrinha com esperança equilibrista.’ E terei o outro pé na ‘utopia construtiva’, feito cavaleiro andante, procurando “sonhar o sonho impossível, pisar onde os bravos não ousam, reparar o mal irreparável, enfrentar o inimigo invencível, tentar quando as forças se esvaem, alcançar a estrela inatingível.” Que venha o gigante 2022. Estou de lança em punho, escudo e elmo, pronto para a batalha.