O tamanho da cruz – Leia a coluna de Luiz Carlos Prates

Por: Luiz Carlos Prates

08/11/2022 - 05:11

Costumamos olhar para os outros e, não raro, suspirar de inveja. Por que dessa inveja? Porque imaginamos os outros mais felizes que nós, sem os pesos que estamos a carregar. Baita erro. Essa maioria que vemos do nosso lado de fora tem seus perrengues também e, bem provável, maiores que os nossos.

E dizendo isso, me lembro da história do sujeito que vivia gemendo a cruz que dizia carregar na vida. Rezava todas as noites pedindo ao seu deus que o aliviasse, dizia que a cruz que carregava era muito pesada.

Rezava todas as noites, até que um dia deus o chamou para ir até à fábrica das cruzes, de onde saiam as cruzes que os humanos costumam carregar. O cara que vivia gemendo esfregou as mãos: – “Oba, vou trazer uma cruz “melhor”, bem mais leve”!

O “senhor” o acompanhou e o cara foi à fábrica das cruzes, as cruzes que os humanos carregam. Chegou, olhou, olhou, e viu que todas as cruzes eram deste tamanhão e que a dele, a que ele carregava, era uma cruzinha de nada. Agradeceu ao “senhor” e voltou à Terra.

Voltou feliz com sua cruzinha, as outras que ele viu eram de assustar… Já contei esta historinha, mas é preciso repeti-la porque temos o vezo de achar que nós somos os mais atormentados do mundo. Até pode ser que a nossa cruz seja mesmo deste tamanhão, mas não nos enganemos, tem quem carregue cruz maior.

Ah, antes de terminar, leitora, conversei ontem por alguns minutos com uma garota, caixa num supermercado. Jovem, bonita, tem três outras irmãs, mas… Ela segura um tchan danado na vida. A mãe, idosa e doente, depende só dela, as outras irmãs inventaram desculpas e se mandaram.

Uma casou, a outra mudou de cidade e a terceira diz-se muito ocupada. A filha que ficou com a mãe segura a barra sozinha. Uma cruz deste tamanhão. E as outras “maninhas”? As ordinárias se mandaram. Quem vê aquela moça na caixa do supermercado, sorridente, bonita, jovem, pensa que ela vive no paraíso.

É assim de modo generalizado. O ricaço aqui da cidade não dorme de noite, vive entupido de barbitúricos, não se engane. Mas muitos o invejam. Cuidado, nossa cruz pode ser uma cruzinha, melhor é não chiar e carregá-la.

CASAMENTO

Quando me sinto calmo, busco modos de me irritar. Um deles é ir aos meus arquivos. Acabei de ir e de reencontrar uma publicidade de joalheria numa revista. Uma foto de mão de mulher com uma aliança e anel… O texto diz o seguinte – “Vestibular – Faculdade – Pós-graduação – Mestrado – Especialização nos Estados Unidos, Doutorado – Especialização em Londres… Mulher, a melhor proposta é casamento, aceite.” E logo abaixo o nome da joalheria. Horror? Para 99.999% delas, a mais pura verdade.

MATANÇA

Não vejo uma única campanha “oficial” pela popularização das livrarias e da leitura. Nada. Ah, entendo, essa popularização não daria “uns por fora” para os seus “políticos” defensores… E também não vejo ninguém erguendo a voz contra a popularização cada vez maior dos jogos eletrônicos, que os babacas chamam de “games”. Jogos em que os vencedores são os que matam mais… Ah, entendo, indústria das armas… Ah!

FALTA DIZER

Há dois tipos de críticos, os invejosos, que criticam por inveja, e os que criticam por ver um erro na conduta da outra pessoa. Ouçamos as críticas. Quando a crítica tem procedência só temos um caminho: corrigir o comportamento, a ação errada. Quando não procede, sair assoviando. Mas ouvir, sempre.