Anos atrás eu lecionava Tanatologia. Para quem não sabe, tanatologia é o estudo da morte. Luto era um tema central desta aula: como comunicar notícias ruins, como estar ao lado de uma pessoa que perde alguém.
Como profissional de saúde, e parte de uma família, parentes vez ou outra me falavam de alguém que tinha perdido alguém e me pediam que fosse abordar a pessoa, ajudá-la com a dor, como se houvesse alguma solução imediata para que a pessoa parasse de sofrer.
Mas será que é possível fazer a dor da perda desaparecer? E por que falar de luto nesse momento?
O luto acontece não apenas com a morte, mas com todas as perdas simbólicas: um relacionamento, uma crença, um trabalho, uma capacidade. Todos passamos e vamos continuar passando por perdas neste ano.
Todos nós perdemos uma boa parte da nossa liberdade recentemente. Dando tudo certo, abriremos mão desta liberdade ainda mais por alguns meses, controlando o progresso da epidemia. Se perdermos o controle da epidemia perderemos a liberdade por mais tempo lá na frente. Todos vamos perder mais ainda: renda, trabalho, planos, sonhos, expectativas, e potencialmente pessoas amadas.
Tudo isso causa uma boa dose de ansiedade. Vemos o futuro cheio de incertezas, precisamos tomar inúmeras precauções sem saber realmente se as nossas atitudes estão funcionando, já que não podemos ver o mal que nos aflige. Precisamos fazer tudo o que podemos e esperar que seja suficiente, ao mesmo tempo que nos deparamos com a insegurança do futuro, com todas as possíveis perdas.
Frente a isso, um conselho: não se cobrem demais. Sofrer faz parte. Algumas pessoas vão reagir limpando, estudando, outras vão ver muitas séries, outras vão cozinhar, e outras não vão fazer muito. E tudo bem. Não se cobre para ser produtivo, para ter tudo resolvido.
O mundo muitas vezes parece nos cobrar que a dor seja resolvida em tempo cronometrado, mas essa não é a realidade. Acelerar ou pular o luto pode causar problemas mais a frente. Para bem e para o mal, temos tempo. Se você quiser estudar, limpar ou cozinhar, e estas coisas te fazem bem, faça. Se não quiser também está tudo bem. Sofrer com perdas faz parte. Não sofrer perante uma perda, isto sim é sinal de algo estranho.
Quando encontramos alguém que perdeu algo queremos amenizar esta dor, seja como for. As vezes queremos oferecer um sentido maior, algo como “Deus quis assim”, ou “foi para melhor”. Mas na posição de quem está sofrendo, isso é ouvido apenas como “não sofra”. Um pedido, as vezes uma ordem. “NÃO SOFRA”. E pedir isto de alguém que está sofrendo é pedir que se cale, tira o valor do que foi perdido. Não façamos isto. Precisamos dar espaço para que a pessoa fale, se expresse, “bote pra fora” o que sente. E muitas vezes a única coisa a expressar é o silêncio, e o melhor que podemos fazer é estarmos em silêncio juntos.
Ninguém, nem amigo, parente nem profissional, tem a capacidade de retirar a dor de uma perda. Nós psicólogos podemos sim auxiliar as pessoas com o processo de elaboração deste luto, especialmente das pessoas que continuam a sofrer sem conseguir voltar a caminhar.
Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos
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