Filhos: Educação, Valores e Prazer

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Por: Eu, Mulher e Carreira

08/09/2021 - 07:09 - Atualizada em: 08/09/2021 - 07:51

Revendo minhas anotações dos livros que adorei ler e que muito me ensinaram, quero neste texto, dividir contigo dois pensamentos do Livro A virtude da raiva, de Arun Gandhi.

O convite hoje é te fazer pensar sobre a tua relação com teus filhos.

O primeiro trecho do livro me incomodou profundamente porque mexeu em algo importante dentro de mim. Me deixou desconfortável e com esse desconforto, surgiu a oportunidade para mudar.

Está pronta? Então, lá vai!

“Muitas pessoas fazem testamento para distribuir sua herança material – o dinheiro, a casa ou o anel de diamante que queremos passar para a próxima geração. Mas qual herança deixamos? Nosso estilo de educar e a forma como oferecemos ou negamos nosso amor ecoam por gerações”.

Toda vez que leio esse trecho, preciso te confessar que ainda me surge um mal-estar. No início era um mal-estar pela minha própria criação e educação com os meus filhos, depois passou pela educação que recebi e hoje meu mal-estar é pelo desafio e responsabilidade que tenho em levar essa informação importante para muitas mães.

Falo mal-estar porque o meu grande desejo é de que todas as pessoas que decidem ter filhos, ou que receberam esta nobre missão na vida, queiram ir e consigam sustentar suas questões psicológicas em um tratamento psicoterápico. Sei que isso é utópico porque ainda existem muitos preconceitos em cuidar da sua saúde emocional, e principalmente, porque poucas pessoas conseguem sustentar esse processo de amadurecimento psíquico. Digo sustentar, não no sentido financeiro, mas sim emocional. Muitas desculpas surgem neste caminho para que ele não se sustente. O dinheiro é só uma delas.

Mas, acredito fortemente que este é o caminho da cura de gerações mal-amadas, inseguras, violentadas. Afinal é esta herança que recebemos há tantos anos.

Entender a forma como oferecemos ou negamos nosso amor, faz parte de autoconhecimento e aqui não quero te fazer pensar que precisamos ou que uma boa mãe é aquela que não nega amor aos filhos. Negamos sim, e isso faz parte da nossa constituição. Nós temos vazios dentro nós, temos travas emocionais e sempre teremos. Nossos filhos também.

Porém, iniciamos um processo de cura que ecoará por gerações quando paramos de projetar em nossos filhos os nossos vazios e travas e os deixamos com as suas próprias travas e vazios emocionais.

Outra questão importante é que quando estamos em tratamento psicoterápico, conseguimos aceitar nossas limitações, e cai por terra essa necessidade de ser a mãe perfeita, porque isso não existe. Mas, por mais que saibamos disso racionalmente, nossos boicotes inconscientes nos levam para esta perfeição, alimentando as travas do não sou boa o suficiente, não dou conta, não mereço porque não faço bem-feito, a vida é pesada demais…

Uma mulher que conhece suas profundezas, suas escuridões, sabe que ela é a melhor mãe que ela consegue ser. Que nega amor hoje, mas sabe que amanhã ela buscará uma forma consciente, possível, de reparação do jeito que ela da conta!

Vamos para o próximo trecho?

“Muitos pais hoje em dia são bons em falar que amam os filhos, mas os pais de Bapuji demonstravam seu amor incondicional sem usar essas palavras. Para eles, os filhos vinham em primeiro lugar em todas as equações da vida e nunca eram um peso ou um sacrifício. Sentir o amor dos pais nas interações cotidianas foi muito bom para ele. Em vez de reclamar que não pode mais ir a festas ou desfrutar os prazeres da vida de solteiro, dê a seus filhos um dos maiores presentes que você tem a oferecer: mostre que agora eles são o seu verdadeiro prazer”.

O que tu sentes depois de ler isso?

Talvez venha culpa, na forma de estou fazendo tudo errado, venha negação, em forma de não acredito nisso, mas a ideia aqui é te trazer realidade e autorresponsabilidade. Você escolheu ser mãe, você tomou essa decisão e para que você consiga acolher, receber e olhar seu filho de forma diferente da que você foi criada, educada, olhada e amada, é necessário trabalhar seus sentimentos e seus vazios e travas emocionais.

O maior presente que você pode dar para os seus filhos é cuidar de você e da sua saúde psíquica. Ressignificar o peso e o sacrifício de ser criança e olhar com amorosidade à sua inveja em relação a infância dos seus filhos, é a forma mais madura de ser mãe e de educar filhos com valor, prazer e satisfação.

Seguimos juntas!

Um beijo,

Karine Becker Petelinkar

Psicoterapeuta – CRP 06/133876

@karinebeckerpetelinkar

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