“Nunca houve uma CPI tão BBB e, ao mesmo tempo, tão real”

Por: Nelson Luiz Pereira

06/10/2021 - 19:10 - Atualizada em: 06/10/2021 - 19:54

Hoje meu ponto de vista é a vista direta no ponto. Não é a vista para esquerda, nem para direita e, tampouco, para o meio. É para o ponto, ou seja, o sistema. A CPI travestida de BBB e seus atores, é o retrato mais fiel da sociedade brasileira. Ponto. Sendo assim, não vejo nada de errado com os figurões que lá se encontram. Aquilo é a amostra mais fidedigna do perfil padrão do povo brasileiro. Brasília é o povo espelhado. É um colossal espelho refletindo 213 milhões de cidadãos curvados sob o jugo de uma tirania abastada e blindada.

Espelho esse, cujo feitiço, é manter o povo sentado sobre seu próprio poder constitucional, porém, anestesiado pelo juízo da servidão voluntária, admitindo a continuidade do sistema, na bucólica expectativa de que lá na frente os preços ‘das coisas’ (e da cerveja) vão baixar e os investimentos em educação vão aumentar consideravelmente. Mesmo que a voz do povo já ecoe mais retumbante por conta das redes sociais, o quadro geral da nação ainda se mostra muito distante do status varonil.

Não há como negar que as redes sociais tenham intensificado, de fato, a voz do cidadão. Mas é utópico pensar que este mesmo canal, tenha desencadeado ações e mobilizações efetivas capazes de promover mudanças estruturais significativas. O cidadão sóbrio sabe que a estratégia da polarização segue um propósito: quanto mais polarizada a sociedade, tanto mais desfocada das prioridades. Essa miopia social ofusca o essencial. Dessa forma, enquanto se exibe a CPI, se ignora que a máquina pública brasileira é uma das mais caras, e menos produtivas do mundo, notadamente, por conta da inexistência de tetos dos salários públicos e benesses.

Enquanto as atenções se voltam para a CPI, o duto bilionário e recordista de Emendas Parlamentares, irriga os acórdãos como meio de governabilidade. Enquanto os olhares são desviados para as seções ‘pastelão’ da CPI BBB, se asseguram os bilhões do fundão partidário. Enquanto o povo se distrai com uma CPI política, aumenta-se impostos ao invés de reduzir o tamanho do Estado e da desigualdade social. Enfim meu povo, a balbúrdia é intensa, mas o foco não está no que interessa ao Brasil real. É preciso quebrar o espelho.