Associações de transporte e alimentícias ouvidas pela reportagem do OCP News estimam que o impacto no abastecimento de alimentos nos mercados e frutarias de Santa Catarina deve ser percebido caso a paralisação dos caminhoneiros complete cinco dias. O movimento que iniciou após tentativas de negociações sem sucesso com o governo Federal a fim de reduzir o preço dos combustíveis, ganhou força pelas estradas do País.
Quem convocou a paralisação foi a Associação Nacional dos Caminhoneiros (Abcam), que orientou os trabalhadores a ficarem parados nos postos ou em casa a partir de segunda-feira (21). Porém, o movimento avançou para as estradas, onde há queimas de pneus e obstrução de passagens de veículos de cargas.
No segundo dia de paralisação, nesta terça-feira (22), a Polícia Rodoviária Federal já contabilizou 27 movimentos em rodovias catarinenses. A Abcam estima que mais de 200 mil caminhoneiros pararam as atividades na segunda. As manifestações acabaram movimentando ações na Justiça Federal que está impedindo judicialmente a obstrução de rodovias.
Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga (Abtc), Pedro Lopes, a paralisação tomou as ruas porque muitos caminhoneiros já estavam na estrada, sem contar que a categoria é organizada.
Lopes afirma que as associações já vinham tentando alertar o governo Federal sobre as consequências decorrentes das constantes altas nos preços dos combustíveis, mas as reivindicações não foram ouvidas.
“Eles (governo e Petrobrás) não se dão conta de que estamos vendendo um frete hoje calculado num custo anterior. Amanhã, não é mais o mesmo valor, os autônomos e as empresas vão sentindo um reflexo muito forte, instabilidade e insegurança financeira”, destacou o presidente da Abtc.
O presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado de Santa Catarina (Fetrancesc), Ari Rabaiolli, disse que a instituição é solidária ao movimento dos autônomos, uma vez que as empresas também são impactadas com o aumento dos combustíveis.
A orientação das empresas também é manter os caminhões em casa durante a paralisação, por questão de segurança e para permitir que os funcionários participem do movimento, caso tenham interessem.
“Se o governo não tomar uma medida, o desabastecimento vai ocorrer. Imagine o que será do País se ficar cinco dias sem os caminhões? Vai começar a faltar comida, medicamento e outros produtos. É uma coisa muito séria, nós também sofremos com isso (a política de aumento do preço)”, destacou Rabaiolli.
A Associação Catarinense de Supermercados (Acats) não quis se manifestar sobre a paralisação. A instituição limitou-se a dizer que os mercados ainda não sentiram o impacto da paralisação.
Já a Centrais de Abastecimento do Estado de Santa Catarina (Ceasa/SC) informou que alguns boxistas de hortifrútis fretados de outros estados começam a sentir o impacto. De acordo com o gerente da Ceasa de São José, Edmilson Moreira, se a paralisação permanecer por mais quatro dias, o mercado ficará desguarnecido de frutas.
O gerente lembra que o aumento nos combustíveis interfere diretamente no preço dos alimentos por causa do valor do frete.
“Não descordo da paralisação. O diesel está muito caro, interfere no preço de tudo o que a gente consome. O governo aumenta muito (o valor) e reduz pouco. No caso do abacaxi, por exemplo, que sai do Tocantins, o preço da mercadoria é mais barato do que o valor do frete”, avaliou Moreira.