A pressão por produtividade e resultados rápidos faz com que muitos profissionais adotem uma postura multitarefa como solução para dar conta de uma série de demandas simultâneas. No entanto, essa prática, que pode parecer eficiente à primeira vista, traz sérios riscos à saúde mental e física.
De acordo com a psicanalista e especialista em desenvolvimento profissional Rachel Poubel, o acúmulo de tarefas e o hábito de fazer várias coisas ao mesmo tempo podem resultar em estresse, ansiedade e fadiga mental.
“Ao contrário do que muitos acreditam, o cérebro não realiza múltiplas tarefas simultaneamente. Ele alterna entre as atividades, o que gera baixa produtividade, aumento de erros, sobrecarga emocional e da mente. Uma mente acelerada é confundida facilmente com ansiedade, pois seus sintomas são quase idênticos, como tensões musculares, dores de cabeça e insônia, por exemplo”, destaca a profissional.
O que a ciência diz
Pesquisas indicam que a multitarefa não é tão eficaz quanto se imagina. Em um estudo da Universidade de Stanford, nos EUA, cerca de 100 estudantes foram divididos em dois grupos.
Um era composto pelos chamados “multitarefadores pesados”, pessoas que têm o hábito de se dedicar a mais de uma tarefa ao mesmo tempo.
Já o outro era composto de indivíduos ditos “normais”, isto é, que só fazem atividades simultâneas de vez em quando.
Após uma série de testes, os cientistas ficaram surpresos ao constatar que os multitarefadores pesados, na verdade, distraem-se com mais facilidade e são menos hábeis em filtrar informações irrelevantes do que os demais.
Multitarefa e burnout
O burnout, que em tradução livre do inglês significa “combustão completa”, é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma síndrome ocupacional, e é caracterizado por três principais sintomas: exaustão emocional, aumento da distância mental em relação ao trabalho ou sentimentos de negativismo e eficácia profissional reduzida.
Em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout – é o maior número dos últimos dez anos no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social.
O aumento ocorreu, principalmente, durante a pandemia do coronavírus. De 178 afastamentos por burnout, em 2019, o Brasil passou para 421, em 2023, um aumento de 136%.
Rachel destaca que a multitarefa intensifica esse quadro ao manter o indivíduo em um estado constante de alerta, dificultando o descanso e a recuperação mental.
“O burnout é o excesso de estresse e de cansaço. Quando a pessoa chega a esse nível, ela dorme e, ao acordar, no outro dia, continua cansada. Geralmente essa pessoa está fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, não coloca limites, está sobrecarregada e a pressão psicológica é muito grande. Isso vai gerando um mal-estar e a multitarefa é um dos principais fatores para chegar a esse quadro. Isso pode gerar crises de ansiedade fortíssimas, entre outros sintomas. O burnout é o estresse multiplicado várias vezes”, explica a psicanalista.
Como gerenciar o tempo e evitar o acúmulo de tarefas
Para que os profissionais consigam gerenciar melhor o tempo de trabalho, evitar o acúmulo de tarefas e manter uma rotina mais saudável é essencial adotar estratégias de organização e priorização. A profissional sugere algumas medidas práticas:
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Rotina e planejamento: ter uma rotina realista é muito importante. Não pense que vai dar conta de tudo sendo que o dia tem 24h e você precisa cuidar do seu tempo de maneira eficaz. Ter um aplicativo de agenda é fundamental: anote cada atividade em seu momento devido, não ao mesmo tempo.
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Pausas estratégicas: fazer pausas entre uma tarefa e outra, ou durante um trabalho muito longo e desgastante é importante. Aproveite para tomar água, fazer um alongamento e ir ao banheiro. Entre as atividades é preciso uma pausa de, pelo menos, cinco minutos. Isso não é perda de tempo, é ganho de produtividade.
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Estabelecer limites: no ambiente profissional, muitas vezes as demandas parecem intermináveis. É fundamental estabelecer limites claros e realistas sobre o que pode ser feito em um determinado período de tempo. Aprender a dizer não é fundamental, porque assim você consegue estipular uma rotina com limites. As pessoas só vão ultrapassar os limites que você não colocar.
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Evitar distrações: a concentração é essencial para manter a produtividade e evitar o estresse. Desligar notificações de e-mail e redes sociais, além de estabelecer horários para verificar mensagens, ajuda a manter o foco nas atividades mais importantes.
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Delegar tarefas: muitos profissionais têm dificuldade em delegar, o que resulta em uma carga excessiva de trabalho. Aprender a delegar e entender que outras pessoas também têm capacidade de fazer as tarefas é importante. Pedir ajuda é essencial.