Mulheres que consomem mais alimentos ultraprocessados têm maior chance de apresentar doenças crônicas e uma percepção negativa da própria saúde. É o que revela um estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A partir de dados da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, o trabalho identificou que mulheres com uma alimentação rica em produtos in natura e minimamente processados, como orienta o Guia Alimentar da População Brasileira, têm 28% menos chances de ter obesidade e 15% menos em relação à hipertensão, na comparação com as mulheres que consomem mais alimentos ultraprocessados. Elas também têm 31% menos chances de apresentar depressão e 45% menos para uma autoavaliação negativa da saúde, na mesma comparação.
Foram analisadas mais de 102 mil entrevistas de mulheres, feitas entre 2018 e 2021, nas capitais dos estados e no Distrito Federal. O estudo apontou, ainda, diferenças socioeconômicas e demográficas entre os perfis alimentares das mulheres.
Entre aquelas com uma alimentação menos saudável, a maioria é composta por mulheres negras, com menos de 35 anos, nove a 11 anos de escolaridade e que vivem sem a presença de um companheiro. Em relação às que consomem mais produtos in natura estão as mulheres acima de 50 anos, com nível superior de escolaridade e com companheiro.
Taciana Maia de Sousa, professora da UERJ e uma das autoras do trabalho, avalia que essa desigualdade impacta de forma negativa o acesso das mulheres a alimentos mais saudáveis: “Essa desigualdade agrava o risco de insegurança alimentar naqueles lares que são chefiados por mulheres, que hoje representam um pouco mais da metade dos lares brasileiros. E, além disso, as mulheres ainda enfrentam a sobrecarga de trabalho profissional e doméstico, com o cuidado que inclui essa responsabilidade com o planejamento e preparo das refeições, recaindo muitas vezes sobre essas mulheres e influenciando diretamente no consumo dos demais membros da família”.
A pesquisadora cita que essa sobrecarga de trabalho vem reduzindo o consumo de refeições tradicionais, como o arroz e o feijão, com muitas optando pelo delivery ou o consumo de alimentos ultraprocessados, como as refeições congeladas, macarrão instantâneo, suco artificial e refrigerante. Outro fator importante, segundo Taciana Sousa, é o preço dos alimentos in natura.
“A crise econômica que foi enfrentada pelo país na última década, juntamente com uma crise climática, reflete nesse aumento do preço dos alimentos, que vai reduzir o acesso da população a uma alimentação mais saudável, visto que aqueles alimentos ultraprocessados conseguem manter o preço mais estável, enquanto os alimentos básicos, como arroz, feijão, frutas e hortaliças tornam-se cada vez mais caros”.
A professora também defende que é preciso implementar mais ações que incentivem o consumo de produtos saudáveis.
“Programas importantes, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar, por exemplo, limita a participação de ultraprocessados na merenda escolar. O governo atual também promoveu outros avanços importantes, como o decreto que proíbe a inclusão de alimentos ultraprocessados na composição da Cesta Básica Nacional de Alimentos, além de incluir a isenção de impostos para esses alimentos da cesta básica na reforma tributária. Incluiu também os refrigerantes e as bebidas açucaradas no chamado Imposto Seletivo. Assim, além de conscientizadoras, essas ações são essenciais para promover o consumo alimentar saudável”.
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Entre 2017 e 2021, houve um aumento na prevalência combinada de obesidade, diabetes e hipertensão entre mulheres no país, de 5,5% para 9,6%.
* Com informações da Agência Brasil