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Brasil é o segundo país com mais diagnósticos de burnout

Por: Priscila Horvat

17/10/2024 - 14:10 - Atualizada em: 17/10/2024 - 14:31

“Trabalhe enquanto eles dormem”! A cultura de se dedicar exageradamente ao trabalho tem se difundido em redes sociais de influenciadores que disseminam conteúdos incentivando a conquistar o primeiro milhão de reais ou ter ascensão social. Esse tipo de rotina de trabalho pode levar a pessoa a ter sérios problemas de saúde, como o burnout, que segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), atinge aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros.

O Brasil é o segundo país com mais diagnósticos de burnout, ficando atrás apenas do Japão, que ocupa a primeira colocação em incidência da doença ocupacional, Brasil teve aumento de 236% de afastamentos do trabalho por burnout no período da pandemia da Covid-19, passando de 178, em 2019, para 421, em 2024, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

O burnout é uma síndrome causada pelo estresse crônico no ambiente de trabalho. A pessoa fica esgotada emocional, mentalmente e fisicamente. Ela passa a se sentir sem energia para a fazer coisas do dia a dia e, mesmo após um período de repouso, o cansaço ainda persiste.

“O burnout não é um cansaço temporário. Não é porque a pessoa está triste com o trabalho ou teve uns dias ruins. É quando a pessoa vem se negligenciando há muito tempo, se arrastando. Esse esgotamento acaba afetando o bem-estar emocional e físico e, se não tratado, pode provocar desenvolvimento de ansiedade ou depressão”, explica a psicóloga Bárbara Couto.

A doença ocupacional pode levar ao distanciamento emocional e do trabalho também. Mesmo a pessoa que antes gostava muito do trabalho, pode passar a se relacionar de maneira diferente com clientes, pacientes e colegas do serviço.

“Muitos começam a sofrer só de pensar em ir ao trabalho. Como consequência, a pessoa passa a se sentir incompetente e improdutiva. Mesmo tendo um bom desempenho, ela não consegue se ver assim, sempre como fracassada, como se não servisse mais para trabalhar” esclarece a psicóloga.

Causas do burnout

A principal causa do burnout é a sobrecarga de trabalho. Mas outras situações também podem causar a síndrome, como pouca autonomia para tomar decisões, falta de recursos para desempenhar a função, ambiente hostil e conflituoso, desvalorização, excesso de pressão, metas altas e difíceis de alcançar, entre outros abusos, como o moral e o sexual dentro do trabalho.

Esta síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos e outros profissionais de saúde, professores, policiais, jornalistas, entre outros. Também podem afetar pessoas que cuidam de familiares, principalmente, com doença crônica, algum tipo de demência ou deficiência.

A psicóloga explica que a doença também é comum em pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e dentro do espectro autista, que são mais propensas à síndrome pela sobrecarga sensorial, dificuldades do cérebro descansar, distúrbios do sono e outros que podem cooperar com o desenvolvimento do burnout, além de indivíduos com ansiedade e depressão.

“E também as mulheres, principalmente as que acumulam o trabalho fora de casa com as responsabilidades domésticas”, relata Bárbara.

Sintomas do burnout

Entre os sintomas da síndrome estão a exaustão extrema, a insônia, muita irritabilidade, dificuldade de concentração, lapso de memória, dificuldade de tomar decisões, tontura, sensação de desmaio, alteração do batimento cardíaco, dor de cabeça, pressão alta e problemas gastrointestinais.

“E, como consequência vêm a ansiedade, depressão, baixa autoestima, isolamento social, distanciamento de pessoas que gosta, dificuldade para lidar com pessoas, procrastinação e desmotivação. Algumas pessoas passam a buscar alívio no uso exagerado da bebida e de drogas. É muito importante dar atenção aos sintomas para não cair no vício”, alerta a psicóloga.

Tratamento

A primeira coisa que a pessoa precisa fazer é descansar, se afastando do trabalho. Depois, buscar um novo estilho de vida, com uma rotina mais flexível, que inclua momentos de descanso e de lazer.

“Não adianta a pessoa descansar e depois voltar para o que a adoeceu. É interessante fazer terapia para achar os gatilhos que a levaram a adoecer, mudar e encontrar um caminho para não repetir mais. Também é necessário aprender a dizer não e dar limites, além de passar a delegar tarefas. E quando o burnout está muito grave, é importante também a intervenção de um médico psiquiatra para ajudar a pessoa a se restabelecer”, explica Bárbara.

Como evitar o burnout

Há maneiras de evitar chegar a um quadro de exaustão tão grave. A primeira delas é ter a consciência do que se dá conta e não ultrapassar seu próprio limite. Também ter um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, com momentos de descanso, prazer e relaxamento. Fazer exercícios físicos é outra forma de prevenir o burnout.

“É preciso se conhecer e entender que nenhum ser humano dá conta de tudo e, se insistir, vai pifar. Nosso cérebro precisa de descanso e distração, então, é bom parar e viajar, e não somente nas férias, além de gerenciar o tempo, organizar as tarefas, priorizar o que é urgente e delegar responsabilidades. E lembrar sempre que não somos robôs, somos humanos com todas as fragilidades que nos são inerentes”, finaliza a psicóloga Bárbara Couto.

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