“O corpo”

Por: Rita Grubba

14/11/2019 - 13:11 - Atualizada em: 14/11/2019 - 13:36

O corpo humano é extremamente complexo e maravilhoso. Sempre trabalha para manter tudo em ordem e, em condições normais, funciona de maneira a não se perceber. O corpo fala e ele é o meio de acesso ao mundo. Ter consciência do mundo por meio do corpo e ter consciência do corpo neste mundo.

O corpo humano é um corpo vivido, não somos pensamento puro, como também não somos mera coisa. O corpo é sonoro, que pode ser ouvido e ouvir, bem como ouvir-se. É um corpo que se movimenta entre outros moventes, sendo movido, podendo mover e podendo mover-se.

É uma ação, um esforço, um movimento consciente e outras vezes espontâneo. O corpo faz algo que imediatamente é sentido por ele, que transforma sua posição no espaço, sua sensibilidade no ambiente, o horizonte apresentado para o olhar. Transforma sua postura e sua estrutura. Os gestos corporais são criadores de significados.

O corpo se vê agindo e se percebe. Gasta sua energia e se recarrega. A consciência aprende com o corpo, a refletir. O corpo assume o que sentimos e através deles contamos as histórias. Quem imagina que ele carrega tantas informações? Uma máquina perfeita e tão cheia de defeitos. Ele conta uma história, que mantém viva memórias e que dão significado às ocorrências da vida. Carrega cicatrizes, mistérios e emoções.

O corpo diz muitas coisas aos outros e ele tem muitas coisas a dizer para você. Ele é um centro de informações para nós mesmos, é uma linguagem que não mente. E como podemos aprender com o corpo? Observando, percebendo. Eu, fisioterapeuta, me reinventei alargando meus horizontes e recursos para interpretar as falas e as expressões corporais. Aquelas metas curativas que aprendi na faculdade há mais de 15 anos, cederam lugar ao objetivo de cuidar, a médio e a longo prazo, de pessoas que buscam qualidade de vida ou que já tem algum problema de saúde.

Precisei reformular a mim, mesmo no Pilates, incorporando novas compreensões a minha formação, utilizando abordagens que alguns anos atrás nem passaria pela minha cabeça. O que mudou é o entendimento do ser humano, do corpo como um contexto, com mais clareza. Olhei mais para o que o corpo queria me falar, o porquê de suas dores, medos e angústias.

A saúde e a doença são processos essencialmente vividos por ele. Não olhei apenas a sua mecânica e sim o porque do seu mal funcionamento. Aprendi a ouvir e a interpretar essas histórias que refletem suas crenças e comecei a utilizá-las como ferramentas para o seu cuidado. Parei de impedir que as pessoas se movam, e mostrei a elas que é seguro estar ativas, o corpo deve ser usado, mesmo quando ele se limitou.

O corpo é único e um só, um diferente do outro. Percebi que além da literatura, é necessário ter um repertório de possibilidades, buscar diversos caminhos, questionamentos, que se encontram lá na frente, sem perder a essência. Não deixei de ser fisioterapeuta, mas me tornei uma profissional do movimento, que acrescenta a empatia e a reflexão para distinguir cada harmonia e desarmonia corporal, que acredita que o corpo funciona quando está ativo, em movimento.

Nós somos adormecidos, não temos consciência nem do nosso corpo e das posturas que adotamos, nem das emoções e dos desgastes que causam no nosso organismo quando negativas, nem dos nossos pensamentos. A medida que nos tornamos conscientes de nós mesmos podemos passar a controlar e conduzir a nós mesmos. Eu sei que você não percebe e não ouve seu corpo, mas ele tem muito a falar para trvocê.

Ser profissional do movimento é entender que as pessoas estão em constante movimento. Adotar uma visão diferente doadicional e associar esta visão como complemento é que nos torna um profissional diferenciado. A decisão a ser tomada para cuidar de alguém é muito mais difícil e trabalhosa, mas com um resultado mais ampliado e eficiente.

Como que nós profissionais podemos mudar nossa visão? Olhando com os olhos, observando, buscando entender e se aprofundar sobre aquilo que você se dispôs a fazer. Mas não apenas um estudo linear, ir além de uma literatura, ter um repertório de possibilidades. Buscar diversos caminhos, questionamentos, que se encontram lá na frente, sem perder a essência. Manter a técnica pura que deve ser constantemente aprimorada com atualizações, acrescentando a empatia e a reflexão. É muito mais fácil confiar em um profissional que está disposto a entender você e que tem estrutura para direcioná-lo a compreender o processo de adoecimento.