♫ “Eu quero levar/ Uma vida moderninha/
Deixar minha menininha/ Sair sozinha/
Não ser machista/ E não bancar o possessivo/
Ser mais seguro/ E não ser tão impulsivo/
Mas eu me mordo de ciúme” (Ciúme, Ultraje a Rigor).
Dizem que ciúmes fazem bem aos relacionamentos, que quem ama cuida, e outras coisas do gênero. Entretanto há uma gigantesca diferença entre ter cuidado e ter ciúme doentio, daquele que o ciumento não tem a mínima segurança no seu relacionamento e inferniza, mesmo sem notar, a vida do seu par.
Os stalkers.
Por conta do ciúme, alguns passam a seguir seus companheiros. Vão nos mesmos lugares que a pessoa amada, ficam de tocaia, sabem da rotina. Modernamente estas pessoas – namorados, cônjuges ou não – são chamadas de stalkers.
Quando este monitoramento é via internet, especialmente com o acompanhamento incansável das redes sociais, há o cyberstalking. O agravante, nestes casos, é que a vítima raramente percebe.
Os espiões de celular.
O amor doentio – que, em realidade, está mais para patologia do que para amor – torna as pessoas neuróticas. Nessa levada, os apaixonados doentes pensam que seu par pode estar sempre lhe traindo.
Em consequência desta aflitiva sensação de impotência, o amante patológico busca meios de confirmar suas teorias conspiratórias. E a tecnologia lhe abre portas para lugares que não deveria entrar.
Hoje é muito fácil, se houver oportunidade, instalar um aplicativo espião no celular do “seu amor”. Por este programinha, o apaixonado poderá saber, por exemplo, por onde a pessoa andou e para quem ligou ou de quem recebeu ligações. Poderá ver as trocas de mensagens, os arquivos de fotos e vídeos e as redes sociais.
E, em alguns casos, poderá ter acesso à câmera e ao microfone do smartphone sem que seu proprietário perceba, vendo ou ouvindo tudo o que estiver ao alcance do dispositivo. Muitas vezes tudo isso em tempo real!
O crime e Carolina Dieckmann
Ainda que o enamorado ciumento se depare com uma situação destas (de traição comprovada pelas informações obtidas no celular por meio de um aplicativo indevidamente instalado), ao acessar ilegalmente o aparelho de outra pessoa, ele cometeu um crime.
Este crime tem nome pomposo: invasão de dispositivo informático. A norma que o criou: Lei Carolina Dieckmann. Ganhou esse apelido porque a atriz teve seu computador invadido por crackers que tentaram extorqui-la para não divulgar fotos nuas suas.
Ela não cedeu, os responsáveis divulgaram e foram presos, e o legislador brasileiro produziu esta lei polêmica nos meios jurídicos.
O fato é que se aproveitar da tecnologia instalando espiões no celular ou computador da vítima amada não salvará o relacionamento. Apenas criará mais instabilidade e sujeitará o invasor a responder civil e criminalmente por seus atos.
Levar uma vida moderninha e ser mais seguro depende de conversa franca e não de tecnologia.