“No Carnaval, a realidade é a fantasia!”

Por: Nelson Luiz Pereira

23/02/2020 - 22:02 - Atualizada em: 23/02/2020 - 22:49

“Ô abre alas que eu quero passar”. A clássica marchinha de Chiquinha Gonzaga, há mais de um século, já expressava nas entrelinhas de sua letra, a soberania e irreverência da instituição Carnaval. Aquela imortal marchinha continua dizendo, em sua essência, que todo cidadão brasileiro, quer aprecie ou não, traz consigo um pouco, ou muito, de Carnaval como um arquétipo de sua identidade.

Portanto, independentemente do conceito que alguém possa nutrir sobre o Carnaval, a ordem inquestionável e institucionalizada é: “ô abre alas que eu quero passar”. Isso porque, não há como renegar o Carnaval sem renegar a nacionalidade. É legítimo não apreciar, mas inadmissível depreciar. Alguns até tentam evidenciar sua repulsa, mas a máscara acaba caindo, pois não há como suprimir da dinâmica existencial, a dança, o canto, a imaginação, o sonho, a fantasia, a alegria, a sensualidade, tampouco reprimir o instinto natural humano de subversão de papéis sociais.

É da junção desses elementos que deriva a ‘folia’ como sinônimo de alegria. Então, minha mensagem aos renegados depreciadores, sempre será: “aceite que dói menos e caia na folia”. Naturalmente, por sermos um país de dimensão continental, dotado de grande diversidade cultural, a folia incorporou peculiaridades de cada região.

Por isso, o samba, o axé, o frevo, o maracatu, o boi-bumbá e, aqui em Jaraguá, a nossa tão esperada Schützenfest, representam as mais diversas expressões carnavalescas desse Brasilzão. Certamente, alguém me questionará: “mas a Schützenfest não é carnaval”. Então eu direi: se de toda essa gama de manifestações típicas culturais, cada qual possui seus ritos, mitos e figurinos característicos, quais seriam as razões da Schützenfest não ser carnaval? ‘Palavra aberta’.

“Ô abre alas que eu quero passar”, também é dirigido à beatice ortodoxa, cuja retórica da moral rasa, insiste em cunhar pechas como, orgia, depravação, malandragem e promiscuidade, como forma de justificar o olhar, casto-fantasioso, de Sodoma e Gomorra. Encontra-se tudo isso no Carnaval? Claro que sim, porém, não é o que determina a apoteose. O retrato contemporâneo vem revelando que, na diversidade carnavalesca, há espaço para acolher e respeitar todas as crenças e conceitos.

Particularmente, vejo no Carnaval o meio mais didático e democrático de transmitir história e cultura a um povo tão carente de tais conhecimentos, além de configurar um “case” de organização, gestão, geração de empregos, rendas e alegria. Portanto, “ô abre alas que eu quero passar”. Viva o Carnaval brasileiro. Vá de Uber.