“Pensamento mágico”

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Por: Francisco Hertel Maiochi

05/05/2020 - 09:05 - Atualizada em: 05/05/2020 - 09:55

Há um bom tempo conheci a Ladainha de Gendlin, em um livro sobre o pensar racional. Eugene Gendlin foi um filósofo e pesquisador de psicologia ao lado de Carl Rogers, grande psicólogo humanista. Ele diz algo como:

O que é verdade, já é verdade.
Aceitá-la não a faz pior.
Não ser aberto sobre ela não faz com que vá embora.
E, porque é verdade, é com o que interagimos.
Qualquer coisa falsa não está lá para ser vivida.
As pessoas podem dar conta do que é verdade,
pois elas já estão a encarando.

Quando a psicologia começou a existir como um campo de estudo, um dos primeiros conceitos desenvolvidos por Freud foi o pensamento mágico. É uma das primeiras formas de pensar, que surge lá na infância.

As crianças, ao não entender muito bem como o mundo funciona, não conseguem distinguir muito bem o que são elas mesmas e o mundo que está fora delas, e frequentemente tem a impressão que os seus pensamentos e desejos afetam o mundo de maneira direta.

Algo como acreditar que desejar bolo de chocolate vai fazer a mãe trazer um, na volta do trabalho, mesmo sem nenhuma comunicação, por exemplo. Se tem raiva de alguém, quem sabe isso faça a pessoa topar o dedão na quina.

O pensamento mágico pode se estender para a idade adulta. Superstições são um exemplo comum. Imaginar que usar a camisa tal vai fazer o time favorito ganhar o jogo de futebol, mesmo que não haja forma de que a camisa de um torcedor em SC afete a performance de vinte e tantos homens, a mil quilômetros de distância.

Esse pensamento mágico também pode ser disfarçado e vendido para adultos. Um exemplo conhecido é aquele livro “O segredo”. Dizem que mentalizar coisas pode mudar a realidade. Certamente mentalizar, desejar, é algo forte, mas para mudar qualquer coisa é necessário ação, e ações estão firmadas em uma realidade concreta, que oferece limites.

Ninguém deseja ficar doente, mas cedo ou tarde ficamos, e desejar não é o suficiente para a cura. Também precisamos de boa alimentação, tratamento, ciência, apoio de profissionais, recursos financeiros, e uma dose de sorte.

Numa tentativa mágica de controle, de imaginar que coisas ruins não nos acontecerão, muitos de nós passamos a negar a realidade para acreditar no que desejam que ela fosse. Mudar pensamentos sem mudar atitudes não funciona.

Se acreditarmos nessa ilusão a despeito de toda a evidência ao contrário, se passamos a acreditar que somos especiais e podemos voltar a viver normalmente, ir ao shopping, à igreja, a relaxar no parque aos domingos, esse pensamento é mágico. Pensar isso não faz com que um vírus desapareça.

Já cometemos esse erro, e agora começamos a pagar o preço, mas ainda podemos evitar algo ainda pior.

Aceitar a verdade não a faz pior. Essa fantasia de normalidade não existe, essa vida não existe mais, por um bom tempo, no mínimo até existir uma vacina ou tratamento eficaz. Fiquemos em casa.

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos

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