“Sucessão familiar: idoso ajuda, velho atrapalha!”

Foto Freepik

Por: Emílio Da Silva Neto

18/09/2020 - 04:09 - Atualizada em: 28/09/2020 - 09:27

A sucessão empresarial familiar há muito deixou de ser mera transmissão pontual de poder entre gerações. Trata-se de um processo (e não um evento) de compartilhamento do conhecimento intergeracional, lado a lado, um apoiando o outro, em que o sucedido (o patriarca) passa a assumir funções eminentemente estratégicas, com base em sua experiência acumulada, deixando para o sucessor, pleno de energia, funções tático-operacionais do dia a dia.

Compartilhando conhecimento, principalmente tácito (pois sabe-se muito mais do que consegue-se expressar), o sucedido e o sucessor constroem novos conhecimentos, alicerçados na máxima, segundo a qual o conhecimento só é útil se aplicado na geração de valores, ou, parafraseando Sócrates, se aplicado para melhorar o mundo (a empresa).

Assim como na “Revolução Gloriosa”, em que a monarquia inglesa cedeu seus poderes ao Parlamento, mantendo com o rei os direitos de ser consultado, de advertir e de aconselhar, mas jamais o de governar, na empresa familiar em fase de sucessão, o patriarca, mesmo perdendo o poder efetivo, passa a estabelecer sua legitimidade como fiador da estabilidade empresarial, paradigma moral e defensor das boas causas.

Ou seja, nesta fase, o papel do patriarca, antes de ‘pendurar as chuteiras’, é o de usar sua experiência de vida, como conselheiro, assistente de diretoria ou ‘espelho’ (em ideias e avaliações) do seu sucessor.

Isso é muito funcional, não só para a empresa, como para a saúde do patriarca, se o trabalho ainda significar realização pessoal, pela continuidade de sua utilidade (prestabilidade) e significado (legado) para o coletivo (empresa e sociedade).

Mas, tudo isso só é factível se o patriarca ainda “usufruir” de saúde mental (cognitiva), isto é, se mesmo idoso (acima de 65 anos) não for um “velho” (cheio de limitações e, principalmente, sem sonho algum pela frente).

Também, longe de sentir-se um “coitado”, que encare a terceira idade de forma positiva, vivenciando felicidade, independência, disposição e produtividade. Ainda, que atribua a essa etapa da vida características positivas como ter mais sabedoria, orgulho das próprias realizações e sensação de dever cumprido.

Felizmente, hoje, quem passou de 65 anos está ativo, bem informado, mantém bom convívio social, tem preocupação com a aparência e até faz planos para o futuro, porque ainda espera viver muito mais.

Hoje em dia, o idoso sente-se ofendido, quando é chamado de “velho”, tal qual como, para um colecionador de carros antigos, quando alguém adjetiva sua coleção como de “carros velhos”. Num caso ou noutro, os “novos idosos” esperam ser apreciados como úteis e exemplos de durabilidade, mesmo nem sempre a vida sendo um mar de rosas ou um poço de tranquilidade.

Assim como um patriarca idoso e sua sabedoria tácita é muito útil à perenidade de uma empresa familiar, um “velho” atrapalha, pois vivendo preso ao passado, pouco usa de sua inteligência para construir, a quatro mãos, um novo futuro. Pouco se atualiza, recolhe-se ao claustro de suas visões de vida, rodeia-se de gente amarga e maximiza suas dores e desconfortos.

O sucedido “velho” – fazendo um paralelo com uma orquestra – insiste, já combalido, em continuar “carregando o piano”, enquanto o idoso, ciente do passar do tempo, delega este “peso” ao sucessor, reservando a si apenas “inspirações extras para composições e execuções” àquele “moço” repleto de energia, planos e sonhos.

Por fim, ao sucedido e sucessor, vale lembrar: “o que importa não é o que eles têm, mas quem eles têm na vida”… um ao outro.

Disponível para compra na Grafipel, em Jaraguá do Sul. Também com dedicatória personalizada, diretamente com o autor.

Emílio da Silva Neto

Dr. Eng., Industrial, Consultor, Conselheiro, Palestrante, Professor (*) Sócio da ‘3S Consultoria Empresarial Familiar’ (especializada em Processo Decisório Colegiado, Governança, Sucessão, Compartilhamento do Conhecimento e Constituição de Conselhos Consultivos e de Família). Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento.

Curriculum Vitae: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4496236H3
Tese de Doutorado: http://btd.egc.ufsc.br/wp-content/uploads/2016/08/Em%C3%ADlio-da-Silva.pdf
Contatos: emiliodsneto@gmail.com | (47) 9 9977-9595 | www.consultoria3S.com