Por:
Juliana Nardelli
Se você tem uma rede social ativa e um mínimo de interesse por comida, é bem provável que já tenha se deparado, repetidamente, com o mesmo doce ou prato aparecendo em diferentes perfis, vídeos acelerados e versões ligeiramente adaptadas. A última febre? O morango do amor, com morango, brigadeiro e caramelo. Antes dele, tivemos o pão de alho com queijo, o iogurte fake com gelatina, o café batido coreano, o mousse de maracujá com suco em pó, a torta de leite condensado de 3 ingredientes… E assim seguimos.
Essas receitas virais movimentam o mercado — isso é inegável. Influenciam desde o comportamento dos consumidores nas gôndolas do supermercado até a produção nas confeitarias artesanais, que correm para adaptar seu cardápio ao que está “bombando” no TikTok ou no Instagram. Algumas receitas esgotam ingredientes em redes inteiras de varejo. Outras são só versões repaginadas de velhos clássicos.
Mas fica a pergunta: por que estamos todos repetindo a mesma receita?
Uma possível resposta está no poder do algoritmo. As redes sociais tendem a amplificar o que já está funcionando. Quando uma receita viraliza, ela passa a ser mostrada para mais e mais pessoas — que, por sua vez, também passam a replicá-la. Aí entra a “síndrome da padronização do paladar”: cozinhamos o que todo mundo está cozinhando. E o diferente perde espaço.
Outra hipótese é a busca de segurança. Em tempos de incerteza, buscamos o conhecido, o simples, o doce, o fácil de fazer com ingredientes que temos em casa. As receitas virais oferecem exatamente isso: acessibilidade e uma promessa de acerto — geralmente com um visual muito apetitoso.
Mas será que essa repetição em massa não está sufocando a criatividade? Quantas receitas autorais ou ingredientes regionais você viu viralizarem nas últimas semanas? Quando foi a última vez que uma receita “nova” realmente surpreendeu pelo sabor e não apenas pelo número de curtidas?
Isso não é um lamento nostálgico — adoro ver a comida ganhar espaço nas redes, ainda mais quando incentiva as pessoas a colocarem a mão na massa. Mas talvez seja hora de equilibrar. De olhar para além da tela. De buscar sabores que contem histórias reais, receitas com contexto, memória, identidade. Nem tudo precisa viralizar. Às vezes, uma receita vale por si só — mesmo que só você tenha feito. Concorda comigo?