A história nos ensina uma lição incontestável: nenhum país do mundo se reergueu com base na dependência do Estado, no ócio ou no enfraquecimento da iniciativa privada. Alemanha e Japão, por exemplo, destruídos após a Segunda Guerra Mundial, tornaram-se potências globais justamente por investirem em reconstrução com base na educação, inovação, indústria e cultura de trabalho sério. A Coreia do Sul, em poucas décadas, saiu de um dos menores PIBs per capita do mundo para um modelo de desenvolvimento baseado na tecnologia e na meritocracia.
Por isso, me preocupa profundamente o rumo que o Brasil vem tomando. Vivemos um momento em que o esforço e o empreendedorismo são penalizados, enquanto a dependência do Estado é incentivada. Um modelo que, embora vendido como inclusão social, acaba por aprisionar milhões de brasileiros em ciclos viciosos de assistencialismo, endividamento e falta de perspectivas.
O Bolsa Família, por exemplo, deveria ser uma rede de apoio temporária para os mais vulneráveis — uma ponte entre a crise e a retomada da autonomia. No entanto, sem critérios rigorosos e acompanhamento efetivo, o programa muitas vezes perpetua a dependência, em vez de promover a emancipação, tudo por interesses claramente políticos. E quem paga por esse programa são os trabalhadores e empreendedores, que ficam cada vez mais sufocados.
Como agravante, vivemos uma explosão silenciosa de um fenômeno que merece atenção: as apostas online. De acordo com dados do Banco Central, os brasileiros gastam entre R$ 20 a R$ 30 bilhões por mês com apostas esportivas. Isso significa um volume de até R$ 360 bilhões por ano — valor superior ao orçamento do Ministério da Saúde em 2024, que foi de cerca de R$ 231 bilhões.
Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, 30% dos beneficiários do Bolsa Família têm contas em plataformas de apostas. Isso revela uma falha grave na gestão dos recursos públicos e na falta de educação financeira da população.
E em vez de conter esse cenário, o governo federal aprofunda a armadilha: a liberação de crédito consignado para trabalhadores da CLT e beneficiários de programas sociais. Com isso, até 35% da renda mensal pode ser comprometida automaticamente com dívidas. Antes, as verbas rescisórias protegiam o trabalhador demitido. Hoje, viram garantia para os bancos — e o endividamento segue, mesmo sem emprego.
A consequência? Mais informalidade, menos proteção social, menos arrecadação previdenciária e uma bomba-relógio fiscal.
O que fazer?
– Reformar o sistema de assistência social, estabelecendo metas de emancipação para os beneficiários, com foco em capacitação profissional e inserção no mercado de trabalho.
– Regulamentar e tributar de forma justa o mercado de apostas online, com mecanismos para rastrear o uso de recursos públicos e campanhas de educação contra o vício em jogos.
– Rever a liberação de crédito consignado para populações vulneráveis, impondo limites mais rígidos e exigindo análise de risco social e econômico.
– Desonerar a folha de pagamento, para estimular a geração de empregos formais e aumentar o poder de compra dos trabalhadores. O dinheiro deve estar na mão de quem trabalha.
– Promover educação financeira nas escolas públicas, desde o ensino fundamental, para preparar os jovens para lidar com dinheiro, crédito e consumo consciente.
– Apoiar o empreendedorismo, especialmente entre jovens e mulheres, com acesso a crédito orientado e simplificação tributária.
O Brasil precisa parar de premiar o vício e punir a virtude. Precisamos valorizar quem produz, quem gera empregos, quem transforma recursos em progresso. A verdadeira inclusão social se faz com trabalho, educação, responsabilidade e liberdade.
Não há dignidade onde há dívida. Não há liberdade onde há dependência. A maior homenagem que podemos fazer ao povo brasileiro é garantir sua liberdade de trabalhar, crescer e prosperar.