♫ “When I was a child, I caught a fleeting glimpse/ Out of the corner of my eye/ I turned to look, but it was gone/ I cannot put my finger on it now/ The child is grown/ The dream is gone/ And I have become/ Comfortably numb”♫ (Comfortably numb; Pink Floyd)
Saiu no portal do tradicional jornal britânico The Guardian: “Poesia de IA é mais bem avaliada do que poemas escritos por humanos, mostra estudo” (em tradução livre).
O que me assustou mais não foi o título, mas aquela pequena introdução entre o título e a matéria em si: “Os resultados sugerem que os leitores de poesia não especialistas que participaram preferiram as obras de IA porque as consideram mais diretas e acessíveis”. Ou seja, aparentemente, quanto mais rasa e simples, mais atraentes.
O problema é que estamos falando de poesia! Poesia deve tocar a alma, e ser complexa não significa necessariamente ter que usar palavras inacessíveis ou malabarismos gramaticais, mas ela deve fazer refletir, viajar na mente, e até levar a uma certa sublevação do espírito. Ou, como disse uma poetisa entrevistada na matéria, “poesia é o que acontece no espaço entre a lógica e o caos”. Rimas fáceis normalmente não fazem isso.
O estudo
O estudo foi conduzido pela Universidade de Pittsburg, dos EUA. Os pesquisadores mostraram aos participantes poemas escritos por dez famosos poetas de língua inglesa e poemas gerados no estilo desses poetas pelo ChatGPT 3.5. Eram poemas reais e imitações de Geoffrey Chaucer, William Shakespeare, Samuel Butler, Lord Byron, Walt Whitman, Emily Dickinson, TS Eliot, Allen Ginsberg, Sylvia Plath e Dorothea Lasky.
Ainda, segundo a matéria, os resultados mostraram que a probabilidade de poemas escritos por pessoas reais serem julgados como de autoria humana era de aproximadamente 75% em relação a poemas gerados por IA serem considerados como de autoria humana. O estudo também apontou que os participantes classificaram os poemas gerados por IA melhores em termos de qualidade geral.
Em uma análise rápida, podemos dizer que, na mente das pessoas que participaram da pesquisa, a inteligência artificial parece mais humana do que os homens, apesar de mais simples.
Enganos
Mas não nos enganemos! Talvez realmente estejamos chegando naquele momento – que muitos ainda teimam negar – de que a IA vai ser tão ou mais criativa que o ser humano.
Em algum outro momento – não sei quão distante – enfrentaremos o dilema de continuar com o desenvolvimento desta tecnologia porque os robôs passarão – e aqui há uma corrente de importantes especialistas que também dizem que isso não vai acontecer – a ter empatia e consciência.
Sou do grupo dos céticos pessimistas. Não duvido mais das máquinas ou aonde poderão chegar; mas daqueles que duvidam que elas chegarão lá. Não sei se a ponto de nascer uma IA Skynet igual a do filme o Exterminador do Futuro, que passou a ter consciência e deflagrou uma guerra contra a humanidade. De todo modo, provavelmente, não estarei aqui para ver. Cuidem-se humanos!!
O fato é que, por ora, tem muita gente achando que coisas ruins produzidas por inteligência artificial são boas, que têm qualidade. Isso mostra que a mediocridade no discernimento humano está se alastrando, com cérebros cada vez mais preguiçosos. E essa lerdeza mental é o primeiro passo para sermos passados para trás sem sequer percebermos.
Então não sei se viraremos guerrilheiros do submundo lutando contra máquinas comandadas por uma inteligência central como a Skynet ou se viraremos obesos preguiçosos física e mentalmente como aqueles do filme Wall-E. Confortavelmente entorpecidos…