Clique aqui e receba as notícias no WhatsApp

Whatsapp

O humorista Léo Lins, o MC Poze e a tal da internet

Foto: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

10/06/2025 - 11:06 - Atualizada em: 10/06/2025 - 14:37

♫ “Cause I’m free to do what I want/ To be what I want any old time/ And I’m free to be who I choose/ To get my booze any old time”♫ (I´m free; Soup Dragons)

Nesta última semana as grandes polêmicas, tirando o entra e sai do aumento do IOF, foram a condenação do humorista Léo Lins e a prisão do MC Poze do Rodo. De início é necessário explicar duas coisas (embora não devesse ser): este é um texto de reflexão e questionamentos, não um texto de respostas, muito menos de respostas certas; e eu mal conhecia o trabalho do humorista e nem sabia que o MC existia e, agora que conheço melhor, definitivamente posso dizer que não iria ao show de nenhum dos dois.

O fato é que a internet repercutiu muito ambos os episódios. E houve uma dissonância abissal, para grande parte dos críticos de plantão, entre o tratamento dado a um e a outro. No mínimo, um silêncio ensurdecedor em relação a um deles.

E qual é o cerne da questão? A liberdade de expressão. Mas, parece, que isso só importou em um caso.

As tretas

Para quem não sabe exatamente o que aconteceu, uma rapidíssima explicação.

A internet ficou estrondosa (não só ela, é verdade; todos os canais de televisão repercutiram) por causa da condenação do humorista Léo Lins a oito anos de prisão por racismo e capacitismo. Para quem não sabe, ambos os comportamentos são criminosos.

Não sei se o leitor leu a sentença; eu li. Não vem ao caso, aqui, minha opinião jurídica sobre a decisão. É fato, porém, que há excelentes profissionais do direito tanto concordando quanto discordando do julgamento. Também é importante esclarecer que a juíza que julgou o caso, não o fez por iniciativa própria; ela foi provocada (termo para dizer que alguém entrou com a ação) pelo Ministério Público Federal.

E, segundo o MPF, em seu show que foi utilizado de base para a denúncia, o humorista teceu “comentários odiosos, preconceituosos e discriminatórios contra pessoas pertencentes a diversos grupos vulneráveis, reproduzindo discursos e estereótipos que incentivam a perseguição religiosa, a exclusão das minorias e discriminação contra pessoas com deficiência, incitando, desse modo, a discriminação e preconceito de cor, étnica, religião ou procedência nacional, assim como em razão de deficiência física e mental” (trecho da sentença).

No outro caso, da prisão do MC Poze do Rodo, uma das acusações é que suas músicas falam de armas, facções e críticas a grupos rivais. A polícia entendeu isso como apologia ao crime. Não vi o inquérito policial, mas parece que houve uma ordem judicial; logo, o MP e o juiz, na primeira instância, concordaram com o raciocínio da polícia. Em prol de um texto com noções concretas, tive o desprazer de ler as letras de algumas músicas dele; definitivamente não recomendo. Mas tem quem goste.

A liberdade de expressão

Você provavelmente viu muita gente defendendo o humorista, argumentando que humor não tem limite, que, como o próprio Léo Lins vem dizendo, é só um personagem que está no palco, que quem tem gatilhos com as piadas não deve ir ao show, que a liberdade de expressão está acima de tudo, mesmo se tratando de piadas racistas, capacitistas ou de qualquer outro preconceito.

Você provavelmente não viu ninguém defendendo a liberdade do MC se expressar sobre armas e violência e tantas outras bobagens que ele fala (coisas que se houve de vez em quando em alguns grupos reacionários, embora supostamente sob outras justificativas), a não ser as imagens da multidão de fãs na saída dele da prisão.

Você também deve ter visto, na CPI das bets, a doce, meiga e inocente Virgínia recebendo afagos e pedidos de selfies dos sérios deputados que deveriam estar investigando as bets que levam pessoas e famílias à ruína financeira e psicológica.

Afinal de contas, o que baliza mesmo a liberdade de expressão?

 

Clique aqui e receba as notícias no WhatsApp

Whatsapp

Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.