Injeções intraoculares no tratamento de doenças vasculares da retina

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Por: Elissandro Sutil

16/09/2021 - 07:09 - Atualizada em: 17/09/2021 - 08:11

Muitas doenças inflamatórias, infecciosas e vasculares podem ser tratadas com injeções intraoculares. O benefício desse procedimento é a disponibilidade em clínicas oftalmológicas e a ação imediata e concentrada dos fármacos diretamente nas estruturas intraoculares. Anti-inflamatórios e antibióticos podem ser aplicados dessa forma.

Mas, de acordo com o oftalmologista e retinólogo, Dr. Marcos Henrique Martins, uma nova família de medicamentos, chamados antiagiogênicos, está revolucionando a capacidade de preservar a visão nas doenças vasculares da retina que são as principais causas de cegueira atualmente.

“Há menos de duas décadas tínhamos disponível apenas o laser e cirurgias complexas para o tratamento dessas patologias e a maiorias dos paciente acabavam invariavelmente evoluindo para cegueira”, explica o médico.

Quando a injeção intraocular pode ser recomendada?

As injeções de antiangiogênicos são utilizadas no tratamento das doenças vasculares da retina. Os vasos retinianos, quando doentes, liberam moléculas mediadoras de inflamação que comprometem o funcionamento e a arquitetura saudável da retina causando perda visual.

O especialista pontua que essas alterações estão presentes, principalmente, na retinopatia diabética, na obstrução da veia retiniana e na degeneração macular relacionada à idade. A retina é o tecido responsável pela visão, ele recobre o interior do olho e funciona como o filme da máquina de fotografar. O edema macular diabético é a principal causa de cegueira na idade adulta, patologia na qual as veias doentes liberam o plasma do sangue que gera acúmulo de líquido e proteínas entre as camadas retinianas gerando perda visual.

A obstrução da veia retiniana é similar ao acidente vascular cerebral, conhecido como AVC, mas que acomete o olho e tem como característica a obstrução do fluxo sanguíneo, causando sangramentos e isquemia das áreas acometidas. Após o dano agudo inicial, as veias que sofreram a obstrução irão permitir a liberação do plasma sanguíneo da mesma forma que no diabetes.

“A degeneração macular relacionada à idade é uma doença degenerativa com formação de neovasos na área central da retina que pode causar edema, sangramentos e fibrose, essa é uma patologia mais complexa que envolve mecanismos fisiopatológicos não completamente elucidados e é a principal causa de cegueira na idade avançada”, completa Dr. Marcos.

Como é feito o procedimento?

Segundo o oftalmologista, o procedimento é o tratamento “padrão ouro” para muitas das doenças oculares da retina que causam alterações vasculares e com o envelhecimento da população essas doenças estão ficando cada vez mais comuns. Ele é feito com a utilização de uma agulha muito fina, semelhante às agulhas para injeção de insulina. O médico ressalta que o procedimento é rápido e é injetado no interior do olho 0,05ml de medicação através da esclera (parte branca do olho) por uma estreita faixa que fica próxima à borda da córnea. “Essa região é uma das poucas áreas seguras para penetrar dentro do olho sem causar danos aos tecidos nobres oculares”, complementa.

Benefícios

O tratamento inibe o funcionamento e crescimento desordenado de novos vasos sanguíneos. Como as doenças vasculares da retina têm o potencial de causarem cegueira, o benefício óbvio das injeções é a manutenção da visão. O especialista destaca que os resultados obtidos são fantásticos em relação à retinopatia diabética e na obstrução das veias retinianas. “Já em relação à degeneração macular ainda existe uma margem maior de insucessos, pois essa doença causa mais transtornos da arquitetura da retina e ainda existem mediadores da doença que precisam ser melhor estudados”, pondera.

Afinal, o procedimento dói?

Dr. Marcos diz que “toda picadinha dói, mas apesar de ser no globo ocular, não dói mais do que uma picadinha no braço”. Segundo ele, o pequeno estímulo é rápido como um raio e cessa logo quando a agulha penetra no olho. A injeção da substância não causa desconforto mas é comum o paciente perceber uma espécie de onda ou nuvem na visão na ora da aplicação. A retirada da agulha também é indolor.

“Ressaltamos que o procedimento é feito com a utilização de anestésico na forma de colírios e com a utilização de iodopovidona para prevenção de infecção intraocular ou endoftalmite. É realizado em sala cirúrgica por médico oftalmologista especialista em retina”, enfatiza.

Contraindicação

A única contraindicação bem estabelecida é a alergia ao antiangiogênico. Efeitos colaterais não são comuns pois a medicação tem efeitos principalmente dentro do globo ocular. Existem riscos inerentes a qualquer cirurgia, que nos casos das injeções, estão associadas à infecção ocular, descolamento de retina ou formação de catarata. Porém, o maior problema enfrentado em relação ao procedimento é o atraso do paciente em fazer a consulta para diagnóstico do problema e início das injeções, pois a retina não tem capacidade regenerativa e portanto o risco de cegueira é muito alto para os pacientes que não iniciam o tratamento no tempo correto.

“Dessa forma lembramos que a consulta oftalmológica deve ser imediata sempre que o paciente perceber alterações visuais e as consultas periódicas anuais ajudam na prevenção dessas patologias”, finaliza Dr. Marcos.

Sobre o especialista

O Dr. Marcos Henrique S. Martins (CRM 19639 e RQE 11168) atende no Centro Oftalmológico Jaraguá do Sul – Unidade Sadalla Amin Ghanem. É Oftalmologista Retinólogo formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com residência médica em Oftalmologia (2008) e Fellowship em Retina e Vitreo (2010), ambos pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Também é membro da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, da Sociedade Brasileira de Retina e Vitreo e certificado pelo International Council Ophthalmology.