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O papel dos Jogos de Cartas na cultura brasileira

Foto: divulgação

Por: OCP News Jaraguá do Sul

25/06/2025 - 15:06 - Atualizada em: 25/06/2025 - 15:42

Na mesa de madeira desgastada de um boteco paulistano, um baralho bem surrado passa de mão em mão enquanto o rádio transmite, em volume baixo, o noticiário esportivo. O retrato é comum de Norte a Sul. Cartas embaralhadas, risadas altas, a obrigatória “mão de onze” no truco, e, não raro, algum debate acalorado sobre a última mão de pôquer vista no streaming.

Assim como a bola de futebol, o baralho virou espécie de patrimônio imaterial, costurando gerações e sotaques em um tecido cultural que se estende dos quintais de terra batida às arenas turísticas dos grandes torneios. O fascínio começou ainda no período colonial, quando os naipes europeus desembarcaram nos porões dos navios portugueses.

Logo se espalharam pelos salões e pelas vilas brasileiras. Hoje sabemos que os baralhos, criados na China no século X, chegaram à Europa medieval via rotas árabes antes de aportarem por aqui, ganhando “sotaque” local em jogos como truco e buraco. E, como em tudo, o jeitinho brasileiro recriou jogos tradicionais e versões que perduram até hoje.

O pôquer explodiu no Brasil com todo um esporte. A Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH) estima mais de 12 milhões de praticantes ativos em 2025, número impensável há pouco mais de uma década. A diferença na classificação de mãos de poker e variedade de métodos de jogo (cash, MTT, Sit & Go, knockout) conquistou os brasileiros, criando competições e torneios específicos.

Entender a hierarquia das mãos é só o primeiro passo. Quem vence com regularidade combina seleção disciplinada de mãos iniciais em posição, uso das odds do pote e da fold equity para transformar draws em bons semi-bluffs e ajuste de estratégia ao tamanho das pilhas.
Empurrando all-in com pares médios quando restam menos de 20 blinds ou buscando sets silenciosamente quando ultrapassam 100. No jogo de torneio, ainda pesam conceitos de ICM na reta final e uma gestão de banca que reserva ao menos 200 buy-ins para absorver a variância inevitável.

O circuito profissional acompanha o boom, já que o BSOP Millions 2024, maior festival latino-americano da modalidade, programou 90 torneios, gerou R$60 milhões em prêmios garantidos e viu um Super High Roller premiar o campeão Kelvin Kerber com quase R$2 milhões.

A popularização também reacendeu o velho debate “habilidade versus sorte”. No Congresso Nacional tramitam projetos que diferenciam jogos de estratégia (entre eles pôquer e xadrez) das modalidades de puro acaso. De qualquer forma, os operadores de poker online devem cumprir exigências rígidas de compliance.

Mas se o futebol reina no gramado, o truco domina as mesas comunitárias, e se organiza, inclusive, em campeonatos de duplas que lotam ginásios de clubes do interior. Um bom exemplo é o XXVII Torneio de Truco do Assary Clube de Campo, em Votuporanga (SP), que em novembro de 2024 reuniu vinte parcerias e mobilizou o público durante toda uma tarde de sábado.

O interesse por cartas está ligado aos board games, outra febre brasileira. Cafés temáticos em São Paulo, como a tradicional Ludus Luderia, oferecem mais de 1.800 títulos para quem quer migrar do truco para partidas de Catan ou Coup sem perder o clima de confraternização.

Não se trata de nicho, jogos de tabuleiro já respondem por 13,1% das vendas de brinquedos no país, segundo levantamento da Abrinq divulgado pelo Sebrae em janeiro de 2025. Do analógico ao digital, a transição é quase inevitável. A Pesquisa Game Brasil 2024 confirma que 73,9% dos brasileiros jogam algum tipo de game e que o smartphone é a plataforma favorita para 48,8% deles.

Além da diversão, as cartas cumprem função social. Torneios beneficentes chancelados pela CBTH, como o histórico Poker Solidário de 2009, arrecadam donativos e reforçam a imagem do jogo como ferramenta de inclusão. Projetos pedagógicos em comunidades carentes utilizam baralhos para ensinar probabilidade, enquanto clubes de terceira idade adotam jogos de tabuleiro leves para estimular cognição e fortalecer vínculos.

 

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OCP News Jaraguá do Sul

Publicação da Rede OCP de Comunicação