Resumo da notícia
- Especialistas relacionam doenças infecciosas e a interferência humana desordenada no meio ambiente
- Países precisam investir em políticas públicas de proteção de áreas ambientais e contenção do tráfico ilegal de animais silvestres
- O pangolim, que pode ter sido o vetor de transmissão do coronavírus para humanos, é o mamífero mais traficado do mundo.
Em meio a tantas discussões decorrentes da pandemia provocada pelo novo coronavírus (Covid-19), cientistas alertam que a razão para o surgimento desta e de outras doenças infecciosas está, em grande parte, na interferência humana na natureza, de forma desordenada.
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), 61% dos organismos causadores de doenças em seres humanos são transmitidos a partir de animais.
Além da Covid-19, a Aids, a H1N1, a Sars, a Mers e o Ebola são outros exemplos de zoonoses. No Brasil, o caso mais famoso é o vírus da Zika, que causou um surto no país em 2018.
“Há uma forte ligação entre a degradação do meio ambiente e a proliferação de zoonoses”, explica a pesquisadora Leide Takahashi, gerente de Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).
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Segundo ela, o desmatamento das florestas nativas, para fins de mineração ou transformação em grandes áreas de agricultura e pastagens, provoca profundo impacto na fauna, flora e também nos vírus neles abrigados.
“A destruição do equilíbrio natural que mantinha a circulação de vírus em baixa intensidade, modifica as interações entre os animais silvestres e seus próprios patógenos e facilita o estabelecimento de pontes epidemiológicas de animais silvestres para animais e para os homens”, completa.
De acordo com Takahashi, a sociedade precisa compreender rapidamente os efeitos da degradação ambiental no longo prazo.
“A notícia boa é que essa crise nos mostrou, e vem nos mostrando cada vez mais, que a ciência é peça-chave para a prevenção dos nossos maiores problemas.”
Combate à degradação da natureza
A opinião é compartilhada pelo biólogo e cientista Braulio Dias, que é membro da RECN e ex-secretário-executivo da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica.
De acordo com ele, os países precisam aproveitar as diversas pesquisas que foram e têm sido feitas sobre o assunto para investir em políticas públicas de proteção de áreas ambientais e contenção do tráfico ilegal de animais silvestres.
Um estudo publicado no final do ano passado na revista Science revelou que 5.579 tipos de aves terrestres, mamíferos, anfíbios e répteis escamados são comercializados no mundo, o que equivale a 18% de todas as espécies conhecidas.
Transmissão do coronavírus
O pangolim, que pode ter sido o vetor de transmissão do coronavírus para humanos, é o mamífero mais traficado do mundo.
Para Dias, é imprescindível que, além de aumentar a fiscalização em áreas de degradação ambiental, como a Amazônia, os países precisam estabelecer regras e normas adicionais para o funcionamento de mercados que vendem carne animal de origem silvestre, evitando a comercialização de produtos sem inspeção sanitária ou de origem ilegal.
“Esse é o tipo de argumentação que deve ser feita justamente agora, enquanto os impactos da crise ainda estão vivos na mente das pessoas. O custo da prevenção de pandemias é infinitamente menor do que lidar com seus efeitos”, conclui.
Fonte: Assessoria de Imprensa
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