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Quem vê atualmente os alunos do Colégio Evangélico Jaraguá falando em alemão pode não recordar que no ano de 1938 os brasileiros foram proibidos de ensinar e conversar no idioma. Este impacto esteve presente também dentro das próprias famílias, onde o silêncio predominava.
Em 1907, quando o colégio foi fundado, era conhecido como Deutsche Schule, ou “Escola Alemã”.
A partir de 1939 a instituição foi fechada quando ocorreu a campanha de nacionalização criada pelo Governo Vargas.
Para reabrir e poder funcionar novamente, a escola teve que se intitular “Colégio Evangélico Jaraguá”.
Após 80 anos de uma série de medidas impostas, a unidade, localizada no centro de Jaraguá do Sul, comemorou a 4ª edição da Semana da Língua Alemã.
O evento faz parte de uma parceria cultural entre as Embaixadas da Alemanha, Áustria, Bélgica, Luxemburgo e Suécia. Além do município, a iniciativa ocorreu em outras unidades de ensino do Brasil.
O objetivo da atividade é oferecer ao público uma oportunidade de conhecer melhor o idioma e a cultura dos imigrantes.
A programação contou com aulas demonstrativas, oficinas de teatro, palestras e exibições de filmes.
“Começamos a programação na segunda-feira e com uma série de atividades. Entre estes momentos, teve um dia em que os alunos vieram trajados”, relata o professor Herton Leandro Scünemann.
Conforme Leandro, até sexta-feira (12), último dia do evento, muitas atividades lúdicas ocorreram.
“Tivemos na abertura uma aluna que tocou cítara, um instrumento que é utilizado nos alpes e que ainda é pouco conhecido no Brasil”, explica.
Se para muitos alunos aprender uma língua estrangeira é um desafio, para a jovem Letícia Bartel, 12, é uma atividade de rotina. Desde os dois anos de idade ela estuda no Colégio Evangélico.
Segundo ela, a influência pela língua veio através de sua tataravó.
“Ela fugiu para o Brasil quando estava acontecendo a guerra na Alemanha. Em casa ela sempre fala em alemão. Praticamente toda família”, conta.
Letícia revela que sempre teve facilidade com o idioma. “Desde pequena, quando entrei na escola, eu sabia falar alemão antes mesmo do português”, lembra.
Em 2014, quanto tinha sete anos de idade, ela teve a oportunidade de visitar as origens de seus antepassados e vivenciar, o que, antes, estava apenas em sua imaginação.
“Eu era muito pequena, mas me apaixonei pelo país. Gostaria de fazer um intercâmbio e trabalhar lá fora”, brinca.
O colégio Evangélico conta atualmente com 777 alunos. Até o 5º ano todos os estudantes aprendem inglês e alemão. Somente a partir do 6º ano é que os alunos devem escolher qual matéria irão cursar.
“Durante o período pós-guerra não era permitido falar a língua aqui no colégio. Depois quando a escola foi reaberta, os pais e a comunidade se envolveram para trazer a língua na grade”, conta o professor Herton Leandro Scünemann.
A historiadora do Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul, Silvia Regina Kita, relembra que a antiga Deutsche Schule foi fechada após uma professora do primeiro ano ser flagrada conversando em alemão com os alunos.
O caso foi descoberto durante uma vistoria dos militares no colégio. “Era ensinado português, mas eles tinham que falar em alemão. Senão os alunos não entendiam”, salienta.
Outro momento que o município vivenciou foi durante o período que o então prefeito da cidade Leônidas Cabral Herbster realizou alguns decretos para proibir idiomas estrangeiros no município, e, inclusive, nos cemitérios.
”Não se podia nem ter sobrenome alemão nos jazigos. Se fosse descoberto era mandado apagar”, revela a historiadora.
Conforme Sílvia, a comunidade começou a ser censurada e muitos tinham que ter cuidado ao conversar pelos cantos da cidade.
“Foram presas diversas pessoas. Fiscalizam os comércios e o próprio jornal O Correio do Povo foi proibido de colocar o idioma alemão em suas publicações”, revela.
Em média, 138 escolas germânicas foram fechadas no estado de Santa Catarina. Em Jaraguá do Sul, além do Colégio Evangélico, as escolas Paroquial São Luis e Rio da Luz foram atingidas.
De acordo com a socióloga Valdete Daufemback, o ex governador Nereu Ramos desencadeou a intervenção nas escolas alemãs e nos clubes recreativos e culturais no estado, para que ninguém mais falasse qualquer língua estrangeira.
As cidades de Joinville, Blumenau, Pomerode, Brusque e Jaraguá foram fortemente impactadas com este regime.
“Havia espiões por toda parte, que poderiam ser até mesmo vizinhos. Uma rede de intrigas foi instituída”, relembra Valdete.
A socióloga conta ainda que, em Joinville, um antigo hospital psiquiátrico foi transformado em um campo de concentração, para isolar os alemães da região suspeitos de traição à pátria.
“Toda uma geração foi prejudicada porque tiveram que aprender a língua portuguesa de uma hora para outra”, lamenta.
Segundo Valdete, além de não poder cultivar a cultura, os homens e mulheres com uma idade mais avançada não puderam mais frequentar as igrejas porque não conseguiam aprender o português.
Após o fim do regime autoritário muitas famílias tiveram dificuldades para reerguer os costumes da cultura germânica.
“Houve a tentativa de “resgate”, com a criação de museus, casa da cultura, escolas de alemão. Inclusive, na arquitetura, foi incentivada a construção de casas enxaimel”, explica a socióloga.
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