Popularmente conhecida como a Capital Catarinense do Arroz, Massaranduba concentra no setor agrícola 40% de sua economia. A bananicultura também tem se destacado e vem crescendo significativamente, além da piscicultura e palmáceas, que hoje ocupam um espaço antes ocioso e agora produtivo no município.
De acordo com a Secretaria de Agricultura, atualmente Massaranduba possui aproximadamente 653 propriedades produzindo arroz, totalizando 6.000 hectares de área cultivada, com uma produtividade média de 8 mil quilos por hectare. A produção total é de 48 mil toneladas, atingindo um valor de R$ 28,8 milhões.
A bananicultura é produzida em 218 estabelecimentos (2.100 hectares), com produtividade de 30 toneladas por hectare (total de 63 mil toneladas), chegando ao valor de R$ 21 milhões.
Já a piscicultura está presente em 98 estabelecimentos, atingindo 111 hectares. Em destaque está a produção de tilápias. A produtividade atinge 15.315 quilos por hectare.
Entre as culturas diferenciadas que estão recebendo o apoio da Prefeitura está a da pitaya, fruta pouco conhecida, mas que já caiu no gosto de parte da população. Massaranduba conta com aproximadamente dez produtores de pitaya, um setor em fase de implantação e direcionamento técnico da cultura.
A Secretaria está fomentando o cultivo da fruta a fim de agregar valor às propriedades rurais, através da diversificação das áreas. Por ser uma cultura nova na região, a equipe técnica está aprimorando formas de cultivo e de tratos culturais, principalmente quanto à questão da polinização das variedades.
Comercializada no Brasil como fruta exótica, a pitaya abre espaço no mercado, embora o preço seja alto, se comparado a outras frutas. A novidade está atraindo cada vez mais produtores na região, já que ela vem ganhando importância por parte do consumidor por ser um produto de excelência em qualidade: é nutritiva, doce – apesar de não ser rica em açúcar – e possui poucas calorias.
Riqueza descoberta ao acaso
Na propriedade onde possuía um viveiro de palmáceas, o produtor Longin Janzen, 38 anos, descobriu, ao acaso, uma nova fonte de renda. Foi assim que passou a cultivar e produzir a pitaya, nas variedades pink e branca, seu atual empreendimento.
Segundo ele, a matriz da produção foi trazida pelo pai para a propriedade há alguns anos. O pé foi plantado junto a uma palmeira, “fora do caminho”, e passou a se desenvolver e subir agarrado à árvore, como uma espécie de trepadeira.
“Em 2012, ela floresceu bem no alto e deu uma fruta. Aí a gente foi atrás para saber mais sobre a pitaya e começamos a produzir mudas, que são plantadas junto aos postes”, explica.
No início, foi difícil avançar na produção, pois as plantas floresciam, mas não davam frutos. Primeiro, acreditou que o motivo seria os pés muito novos. Resolveu esperar mais um ano, mas o resultado foi o mesmo.
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Depois, passou a tentar a polinização em horários diferentes, sempre entre 22h e 2h, esperando alguma mudança.
Ele conta que, numa noite, abriram 118 flores que viraram 18 frutos, mas não entendia o que tinha ocorrido de diferente, pois outras centenas de flores que tentou polinizar não vingaram.
A dificuldade maior ocorre porque a flor abre numa única noite a cada ciclo. Se polinizada, o fruto deve ser colhido após 30 a 35 dias.
“Desanimava. Aí acabei não dando continuidade. Em 2016, descobri que essa variedade (pitaya pink) tem o pólen auto-incompatível. Portanto, tem que coletar o pólen dessa aqui (pitaya branca) para cruzar. Foi a partir daí que passei a produzir frutas grandes e bonitas e a plantar a variedade branca também”, destaca.
A polinização manual pode ser realizada removendo-se as anteras de uma flor e tocando com ela o estigma – área do pistilo das flores – de outra flor, ou então coletando-se o pólen e utilizando-se um pincel para polinizar múltiplas flores.
Na última safra, o produtor afirma que vendeu a pitaya a R$ 6, cada, em média. Nos estabelecimentos comerciais o produto encarecia cerca de 30%. Contando as vendas diretas ao consumidor, ele comercializou a fruta em Massaranduba, Corupá, Joinville e Blumenau.
“Em Jaraguá do Sul, me pediram rastreabilidade, mas não tenho ainda. Para o próximo ano, já quero ver na Cidasc o que é necessário para conseguir o selo”, garante. Os produtos monitorados levam um código em seus rótulos que permite que o consumidor veja toda a cadeia de produção até o supermercado.
Em uma fruteira em Jaraguá do Sul, o preço de duas unidades da pitaya rastreada, agora fora de época, chegou a R$ 28 (a branca) na última quinta-feira (24).
Janzen mostra uma pitaya pink que restou da sua produção. A fruta, bonita e com aspecto saudável, é pequena, tem aproximadamente 180 gramas.
De acordo com o agricultor, é de uma remessa que colheu na semana passada e que não vai para o mercado. “É consumida aqui mesmo. Eu vendo para o mercado as que pesam a partir de 250 gramas a 300 gramas”, revela.
Aumento da produção
Além de ser uma novidade no mercado brasileiro, a pitaya tem no valor nutricional um ponto positivo. A fruta é fonte de vitaminas A, C e zinco, é antioxidante, tem ação termogênica, regula o colesterol, auxilia no processo digestivo, entre outros benefícios.
Pode ser consumida da forma convencional ou em sucos, mousses, pudins, sorvetes e outras receitas que são a cara do verão.
“A pitaya é uma fruta bem saudável e quando ela fica mais tempo no pé e amadurece bem ela fica docinha”, aponta Janzen.
Inicialmente, o produtor cultivava apenas a variedade pink. Os pés mais antigos foram plantados em 2013, originados da matriz.
“São 25 (pés) nessa fileira. Só daqui esse ano eu tirei 150 quilos de fruta. Colhi 830 quilos ao todo. Tenho mais de 500 pés plantados na propriedade, mas alguns não estão produtivos ainda”, ressalta.
Na parte mais alta da plantação, há 250 pés cultivados há quase dois anos e que estão produzindo melhor que os antigos, pois, segundo ele, as mudas são mais resistentes.
“Aquela roça foi plantada da maneira correta e agora pretendo trocar algumas mudas aqui embaixo também, quero chegar a 800 postes”, planeja.
Cuidados com a planta
Também chamada ‘dragon fruit’ (fruta dragão), a pitaya possui diversas variedades, como a branca, a amarela, a pink, a baby, a da índia, entre outras. A polpa da pink tem a cor de uma beterraba e a fruta tende a ser um pouco mais doce que a branca, especialmente se amadurecer no pé.
“Mas tem que ter cuidado porque ela racha e vai abrindo igual uma flor e não se aproveita. Por isso, quando ela começa a rachar já tem que colher, e às vezes ela não está madura, por isso a fruta parece aguada. Eu procuro deixar ao máximo no pé para que ela fique saborosa e ainda estou fazendo pesquisas quanto a isso”, explica.
Ele diz que muitos produtores garantem que quando colhida verde a pitaya não altera seu sabor. Mas Janzen tem outra opinião. O produtor acredita que qualquer fruta colhida verde tem seu sabor alterado.
“Qualquer fruta que amadurece no pé vai estar mais doce do que se colher verde”, aponta.
O produtor já participou de visitas técnicas e palestras para aprender um pouco mais sobre o cultivo da pitaya, mas ressalta que ainda há pouca informação sobre a cultura. Há cerca de dois anos, ao buscar publicações pela internet, o agricultor não encontrava muito material no Brasil.
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Segundo Janzen, a pitaya vem da América Central, de países como Guatemala e Costa Rica, mas é produzida em larga escala no Vietnã, Indonésia, Israel e Flórida.
“Diz que o Vietnã ela é plantada há mais de cem anos. Não é novidade lá. Mas no Brasil, a produção iniciou há uns dez anos”, informa.
Por ser um cacto de floresta tropical, a planta da pitaya precisa de dias mais longos para produzir. Seus ciclos acontecem de outubro a abril. Em 2018, o agricultor colheu seis ciclos. As plantas também gostam de umidade. Todo o manejo é praticamente feito só por Janzen.
Migração para orgânicos
O produtor, que já fez curso de conservação de solo, atualmente está migrando para a produção de orgânicos. Antes, no espaço ocupado pela pitaya havia plantação de pupunha, que foi eliminada.
“Não estamos passando nenhum pesticida, nada. A terra está sem agrotóxico ou produto químico há mais de dois anos. Estou fazendo a certificação, mas como é participativo eu preciso de um prazo maior. Preciso completar um ano e meio no grupo para ganhar a certificação”, revela. Para isso, a roça já ganhou algumas barreiras de proteção.
Na propriedade, ele também deu início ao cultivo de lichia, com mais de 200 pés já plantados. “Produção ainda não tem. Eu vendi 100 quilos no verão retrasado, porque os pés estavam pequenos e colhi pouquinho. Nesse último verão não produziu nada. E isso foi geral, todos que conheço aqui na região, se produziram, foi pouco. Vamos ver no próximo verão”, diz.
Outra fruta não tão conhecida que ele tem na propriedade para consumo próprio, por enquanto, é o melão-de-são-caetano. Janzen a considera muito bonita e muito saudável, o problema, para ele, é que não dura tempo suficiente para comercializar.
“A gente colhe assim que ela começa a amarelar e em um ou dois dias ela já está amarela e abrindo, então, para o mercado é difícil. Alguém falou que tem que colher verde, mas entra naquela questão: será que vai ficar gostosa?”, questiona.
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