Jaraguaense pinta paisagens locais há mais de 30 anos

Por: Elissandro Sutil

15/02/2018 - 07:02

As peculiaridades e cores de Jaraguá do Sul já estão incorporadas ao leve e preciso movimento das mãos da artista plástica Arlete Schwedler, 70 anos. Ao longo de mais de 30 anos atuando como pintora, ela se consagrou como a única artista a retratar paisagens jaraguaenses em seus quadros. São mais de 600 telas produzidas e espalhadas por diferentes estados e países. Muitas delas compõem o acervo histórico do Museu Emílio da Silva e ajudam a contar a evolução do município.

Pelas mãos delicadas de Arlete ainda tomam forma retratos e lugares por onde a pintora passeou, parou e fotografou para posteriormente colocar na tela. Partes destes trabalhos decoram a casa enxaimel onde vive, no bairro Rau. A residência é de 1906 e pertenceu ao avô de Arlete, Julius Karsten.  Apenas esta casa, a artista pintou em três posições diferentes.

Antes de se dedicar somente a pintura, Arlete trabalhou como professora e se envolveu em causas sociais, chegando a fundar o grupo folclórico Grünes Tal. O encanto pela arte está com a jaraguaense desde pequena. “Sempre gostei de desenhar, pintar e ler. Minha mãe me chamava de rato de biblioteca”, brinca Arlete.

Quando parou de lecionar, a jaraguaense fez diferentes cursos para aprender mais sobre a arte e se especializou na técnica do impressionismo clássico com tinta a óleo sobre tela. “Às vezes, para os quadros encomendados, faço o moderno. Mas o impressionismo é mais fácil de desenvolver, consigo pintar sem pincéis, utilizando apenas as mãos. Aplico técnicas de Claude Monet e Édouard Manet, por exemplo”, revela.

Arlete define a pintura como algo que “vem de dentro e faz você esquecer tudo, imergir no quadro”. “Pintar é trazer para uma tela aquilo que está vivo, ou fazer viver aquilo que já se foi. Adoro fazer quadros que retratam o passado porque é como trazer aquele momento para o presente. O povo que não conhece sua história, não tem futuro”, declara a artista.

Um dos quadros da jaraguaense está exposto no Museu de Arte de São Paulo (Masp). A tela retrata uma paisagem da cidade de São Thomé das Letras, em Minas Gerais, há cerca de 30 anos. A pintura recebeu o certificado de melhor quadro impressionista feita pela artista. “Eu estava em uma excursão e parei para tirar uma foto do lugar. Já fizeram ofertas para comprá-lo, mas não aceitei”, comenta ela.

Apesar de não pintar desde o ano passado por complicações de saúde, Arlete pretende voltar à ativa assim que se recuperar. Ela já tem oito encomendas de quadros programadas. Apesar disso, a grande vontade da pintora é retratar novamente o Parque Malwee. “Quero fazer pelo menos umas dez peças do lugar”, observa. Suas obras foram digitalizadas e se transformaram em cartões postais de Jaraguá do Sul.

História da artista se mistura com a de Jaraguá

Um dos quadros mais conhecidos de Arlete é o que retrata a chegada dos imigrantes alemães em Jaraguá do Sul. A tela está exposta no Museu Emílio da Silva e foi pintada em seis meses. Arlete lembra como cada detalhe do quadro foi planejado.

“A mulher em cima do baú é porque meu pai contou que quando a avó dele veio para o Brasil, ela só viu mato em São Francisco do Sul e se desesperou. Começou a chorar e queria voltar. Nela, também representei a força da mulher, que fez muito por Jaraguá”, destaca. Arlete também conta que antigamente o rio Itapocu era mais elevado e a presença de indígenas era grande. “Ainda encontrava objetos típicos nas nossas terras quando brincava”, comenta.

Arlete produziu a tela em seis meses para expor no Museu Emílio da Silva (Foto: Eduardo Montecino)

Para fazer uma paisagem próxima à realidade, Arlete foi até o ponto do rio onde os registros indicavam que os imigrantes tinham chegado para verificar se no local havia montanhas ou não. No museu, ela também tinha um funcionário que modelava segurando um balaio. “Primeiro eu faço o desenho no papel para ter um modelo, depois coloco na tela”, revela.

A jaraguaense também pintou o primeiro casamento entre brancos e negros no município. As impressões pessoais não ficam de lado nas obras de Arlete. Ela consegue colocar no quadro suas experiências pessoais, objetos e convicções. “A gente coloca jardim onde não têm, árvores, detalhes que acrescentam à arte”, enfatiza. A primeira tela reproduzida pela artista foi uma paisagem de Timbó.

Artista retratou o primeiro casamento entre brancos e negros no município | Foto Eduardo Montecino

Arlete continua pesquisando e se aprofundando nas técnicas de pintura. Para iniciar as pinceladas de uma tela, ela revela que começa a treinar os movimentos das mãos cerca de dois meses antes. Já os pincéis, como ela conta, são conservados no vinagre.

A artista ainda reproduziu uma foto da família Karsten saindo de Blumenau para Jaraguá. A mudança foi feita de carroça. Outro quadro memorável é a pintura de Eugênio Victor Schmöckel, um dos ex-diretores e fundador do jornal O Correio do Povo.