A 35ª edição da Schützenfest começa no dia 6 de novembro em Jaraguá do Sul, colorindo a cidade com a prática do tiro esportivo, trajes típicos, chope artesanal e o som das bandas que embalam os 11 dias de festa.
Mas, por trás de toda essa alegria, há uma história que atravessa gerações, repleta de resistência cultural, comunidade e amor às tradições germânicas.
Nascida do espírito associativo dos colonizadores que chegaram ao Vale do Itapocu no início do século XX, a Festa dos Atiradores resgata tradições. Cada edição é um mergulho no passado e um lembrete de como a cultura germânica se mantém viva em Jaraguá do Sul.

Foto: Divulgação/Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul
A história dos atiradores em Jaraguá do Sul começa em 1906, quando foi fundada a Sociedade de Atiradores Jaraguá, a primeira da cidade. O grupo foi formado por membros da comunidade, entre eles o coronel da Guarda Nacional Bernardo Grubba e sua esposa, que doaram parte de suas terras recém-adquiridas para a instalação do primeiro estande de tiro da região.
A partir dali, o costume do tiro esportivo se espalhou pelo Vale do Itapocu. Outras sociedades surgiram nas décadas seguintes, como a Dr. Lauro Muller (1916), Rio Cerro II (1916), Einigkeit (União) (1928), Concórdia (1931) e Boa Esperança (1952).
As Festas de Rei e Rainha, que aconteciam anualmente nas sociedades, simbolizavam o orgulho e o espírito de confraternização das comunidades. O ponto alto era a Marcha de Busca do Rei e da Rainha, um desfile festivo que reunia famílias inteiras e culminava com o grande baile em que as novas majestades do tiro eram coroadas.

Foto: Divulgação/Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul
Resistência e recomeço
Essa convivência harmoniosa foi interrompida a partir de 1938, durante a Campanha de Nacionalização, quando o uso do idioma alemão passou a ser proibido no Brasil.
Documentos foram escondidos, atas passaram a ser redigidas em português e várias sociedades tiveram que mudar seus nomes. Muitas sedes foram ocupadas por militares, que recolheram bandeiras, armas e registros, boa parte jamais devolvida.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, as sociedades começaram, aos poucos, a se reerguer. Já nas décadas de 1970 e 1980, a região vivia um novo movimento de valorização cultural.
As comunidades do interior voltaram a organizar suas festas e torneios de tiro, até que uma ideia começou a tomar forma: por que não reunir todas as sociedades em um único grande evento?
A criação da Schützenfest
Foi no bairro Rio da Luz, em 1988, que a proposta ganhou força. Representantes de várias sociedades se reuniram para discutir a criação de uma festa que unisse todos os grupos da região. Assim nasceu a Pré-Schützenfest, uma confraternização que serviria de modelo para algo maior.
Em 18 de março de 1989, a ideia se concretizou com a criação da Associação dos Clubes e Sociedades de Tiro do Vale do Itapocu (ACSTVI), formada por 25 sociedades. A missão era clara: resgatar, difundir e manter vivas as tradições germânicas.

Primeiro cartaz da festa. Foto: Divulgação/Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul
Poucos meses depois, entre 13 e 22 de outubro de 1989, Jaraguá do Sul realizava a 1ª Schützenfest, a Festa dos Atiradores. O evento contou com competições nas modalidades carabina 22, chumbinho e flecha, apresentações folclóricas, bandas típicas, gastronomia alemã e o tradicional baile para coroação do Rei e da Rainha do Tiro.
Desde então, a Schützenfest passou a crescer em estrutura e prestígio, tornando-se um patrimônio imaterial da cidade. Hoje, 17 sociedades de tiro participam da programação, que se estende por 11 dias de festa, misturando competições esportivas e manifestações culturais.
Símbolos que contam histórias
O tiro esportivo é o coração da Schützenfest. um símbolo de disciplina, precisão e união. Nos estandes, os visitantes podem experimentar as modalidades tradicionais, como o tiro de chumbinho e de seta, perpetuando uma prática que ultrapassa gerações.

Foto: Divulgação/Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul
Os trajes típicos também são parte fundamental da festa. As roupas de inspiração bávara, com lederhosen e chapéus adornados, representam o orgulho da herança cultural. Já os desfiles das sociedades, com suas bandeiras e fanfarras, são um espetáculo à parte: um retrato vivo da história dos imigrantes e da alegria de celebrar suas origens.
Outro símbolo importante é o Schützenbaum, o mastro dos atiradores, decorado com os brasões das sociedades — um sinal de fraternidade e união entre os grupos. E, claro, há o mascote Wilfried, criado em 1998 por Fernando César Bastos. Jovem, alegre e trajado como um autêntico atirador, ele substituiu o antigo personagem Hans Bier, reforçando a imagem da festa como um evento familiar e cultural.

Foto: Divulgação/Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul
Curiosidades que marcaram época
- A primeira Schützenfest aconteceu entre 13 e 22 de outubro de 1989.
- Até 1992, as rainhas e princesas eram eleitas por venda de votos. A primeira foi Sonéia Hornburg, da Sociedade Aliança.
- De 1993 a 1995, as candidatas foram escolhidas por competição de tiro, e, a partir de 1996, por concurso de beleza.
- A banda alemã Die Original Mottener, contratada entre 1991 e 1997, embalou a festa e deixou um legado: o vocalista Kalle Mager compôs a canção “Wir gehn zum Schützenfest”, hoje considerada o hino oficial da festa.
- Em 1990, as mulheres passaram a disputar oficialmente as provas de tiro.
- Em 2019, pela primeira vez, o Rei e a Rainha dos Atiradores eram um casal de verdade: Ináurea Reinke Schmidt e Claudio Ivair Schmidt.
- A mudança dos estandes de tiro para a entrada dos pavilhões deu mais visibilidade à prática e aumentou a participação do público.
- O Wilfried se tornou mascote oficial em 1998, reforçando o espírito alegre e cultural do evento.
