Após três décadas de atuação artística e fomento à cultura, principalmente em Jaraguá do Sul, o Grupo de Teatro Gats encerrou os trabalhos. O anúncio, feito nesta quarta-feira (29) por meio de uma carta aberta e concretizado com um evento de despedida, apontou problemas financeiros e a falta de incentivos municipais como motivos para o fechamento.
Conforme o integrante do grupo, Rubens Franco, uma junção de fatores contribuiu para a decisão de fechar a instituição. “Todos os anos planejamos o ano seguinte e há algum tempo viemos protelando, enquanto conseguíamos nos virar, essa decisão”, conta. Ele relembra a ascensão cultural que o grupo e a própria cidade teve nos últimos quatro anos, porém, diz que esse cenário mudou. “Realizamos um trabalho de insistência, fomos nos unindo, fazendo fóruns e participando de comissões em prol da cultura, o governo vinha fazendo sua parte e mandava incentivo, formatava leis para garantir a estabilidade cultural da cidade. Estávamos confiantes, mas a crise veio e a coisa ficou mais difícil”, esclarece.

“Não teremos nenhum incentivo municipal no ano que vem”, disse Rubens Franco ao justificar a decisão de encerrar a entidade responsável pela formação de dezenas de atores ao longo de três décadas | Foto Eduardo Montecino/OCP
Na opinião de Franco, apesar de algumas cidades da região estarem conseguindo contornar a crise e evoluir no segmento cultural, em Jaraguá do Sul ele não vê perspectivas de melhora, principalmente depois do fim do edital do Fundo de Cultura. “Começou a complicar e não só para o Gats, está difícil para diversos grupos onde os projetos aconteciam pelo Fundo Cultural. Não teremos nenhum incentivo municipal no ano que vem e nosso trabalho é aqui, embora tenhamos uma caminhada fora, queremos fazer a coisa funcionar aqui”, afirma Franco. “Percebo que não há visão cultural na administração atual e fica difícil continuar com nosso trabalho aqui em Jaraguá do Sul. Fizemos o que pretendíamos nessa caminhada e estamos fechando esse ciclo agora, depois veremos como fica daqui para frente”, disse.
Do nascimento, em um parque fabril, aos palcos Brasil afora
Fundado em 1987, o Gats nasceu da reunião de um grupo de amigos em um parque fabril. Passou pelo Centro Cultural da Scar até ter sua sede própria, que se tornou um Ponto de Cultura Teatro Vivo através de uma ação do Ministério da Cultura no programa Cultura Viva. Além de apresentações e oficinas, o local sediava cursos de teatro para todas as faixas etárias e abria espaço para aulas de dança e capoeira, através de parcerias com outros artistas e entidades. “Estamos fazendo isso de cabeça erguida porque sabemos que tomamos uma série de atitudes em prol do fomento da arte, empoderamento dos artistas e nosso ímpeto sempre foi esse. Só temos a agradecer imensamente as pessoas que acreditaram no grupo”, diz.
Entre os principais trabalhos desenvolvidos pelo Gats estão as peças “Enigma do Amarelo”, “Maria Lavadeira” e “O patinho feio”, além de participações importantes em projetos como A Escola vai ao Teatro, Festival de Formas Animadas, Cultura Artística ao Cidadão, Pesquisa Móin-Móin, Oficinas e Curso de Teatro e Palco Giratório do Sesc, somando mais de 30 participações em festivais de teatro nacional e internacional e a conquista de diversos prêmios.
A secretária de Cultura, Esporte e Lazer, Natália Lúcia Petry, foi procurada pela reportagem, porém, afirmou desconhecer a decisão do grupo de encerrar as atividades e preferiu não comentar o assunto até se inteirar dos fatos.
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