Oscar 2020: Ator jaraguaense analisa filmes indicados à principal premiação

Por: Elissandro Sutil

07/02/2020 - 15:02 - Atualizada em: 07/02/2020 - 17:27

Neste domingo (9) acontece a cerimônia de premiação do Oscar 2020, o evento que reconhece a excelência do trabalho e das conquistas na arte da produção cinematográfica.

Filmes incríveis e atores amados dos espectadores estão entre os indicados desde ano.

 

 

Produções de alta qualidade estão nomeadas e para você que não assistiu todos os filmes, mas ainda assim quer saber do potencial à estatueta, o ator jaraguaense Guilherme Fernandes fez as críticas de alguns dos filmes.

Guilherme já ganhou o prêmio de melhor ator na 38ª Edição do Troféu Gralha Azul e algumas premiações internacionais com o filme “O Vale”, gravado aqui em Jaraguá do Sul.

Os favoritos de Fernandes são “Parasita” e “Joker“. “A minha vontade pessoal é de que ganhasse o Parasita”, comenta.

Ele acredita que no futuro a produção será estudada por ser um filme “com muitas camadas” e diferente do que estamos acostumados.

“E tem o Joker também, mas esse sou suspeito à falar”, brinca o ator. “Fico pensando ‘qual o filme que vai entrar para a história? Aquele que a gente vai lembrar no ano que vem ou daqui a cinco anos’ e acho que o Joker vai entrar para esse hall de celebridades”, comenta.

Confira as críticas dos filmes que estão concorrendo à estatueta:

Era Uma Vez em… Hollywood

Foto Reprodução

“Um filme nada convencional, que te pega de surpresa e questiona sua forma de entender cinema. Sempre que imaginei um caminho para a trama, ela foi para outro lado.

O filme se apropria da liberdade poética para recriar fatos e homenagear o passado, expandindo nossa percepção de contar histórias e levantando a pergunta de até onde a ficção consegue chegar.

Neste filme Quentin Tarantino abre mão das cenas de violência e sangue para acompanhar a rotina de Hollywood nos anos entre 1950 e 1960, do glamour das festas entre celebridades aos bastidores dos grandes estúdios.

Dar uma pesquisada no caso Manson antes de ver o filme é uma boa dica para entender as sutilezas do conflito, e se prepare para um cinema peculiar, refinado, digno de Quentin Tarantino.”

Parasita

Foto Reprodução Filme

“Com pouquíssimas referências sobre a cultura cinematográfica da Coreia do Sul, imaginei pelo nome do filme que iria ver monstros atacando a humanidade, pessoas correndo e gritando… Mas o que me foi apresentado é um monstro totalmente diferente.

Um filme inteligente. Se passa nos dias de hoje, lá na Coreia do Sul, e acompanha a vida de uma família de classe social baixa morando praticamente no subsolo da cidade.

Um dia, o filho desta família é chamado para trabalhar como professor de inglês substituto em uma casa de pessoas ricas, na parte alta da cidade. O conflito que se desenvolve a partir disso é curioso, divertido, com um humor ácido e cheio de críticas.

A medida que desvendamos a história, nos aprofundamos na vida dessas duas famílias, entendendo com elas mais sobre a Coreia do Sul e percebendo como sua realidade é parecida com a nossa.

O diretor Boog Joon-Ho não tem medo de criar uma caricatura divertida das classes sociais e discutir em cima disso. Consegue passar pela comédia, pelo drama e o suspense de forma orgânica e fluida, revelando experiência em criar um filme de muitas camadas.

Parasita, além de um filme genial, é também uma imersão na cultura da Coreia do Sul, conseguiu marcar uma identidade cinematográfica para seu país e deixar o mundo curioso com suas próximas produções.”

Coringa

Foto Reprodução Filme

“O Coringa é o vilão mais famoso das histórias em quadrinho, sua loucura sempre foi sedutora não só a mim, mas a muitos jovens por aí. O filme gerou expectativa antes de ser lançado e cumpriu com elegância tudo que prometeu.

O roteiro se passa em Gothan, a cidade do Batman, que ainda é apenas uma criança vivendo com seus pais em sua mansão. Ele não é o foco desse filme, o protagonista é Arthur Flek (Joaquin Phoenix), um homem sofrido, com transtornos mentais, oprimido e injustiçado, vive em uma Gothan afogada em desemprego, violência e falta de assistência social.

O filme é um retrato da cabeça do Coringa, vivemos com ele sua rotina, acompanhando suas psicoses e esquizofrenias, seus sonhos e ambições, como também a forma como enxerga a sociedade. No fim, não é difícil entender suas motivações contra o sistema.

Joaquin Phoenix merece palmas, seu estudo de personagem desenvolveu um trabalho complexo, profundo e sombrio, o seu corpo esta transformado, o olhar indecifrável, a gargalhada original, sua performance é inquietante, penosa e brutal, sem dúvidas um dos prediletos ao Oscar 2020.

A direção de Todd Phillips é redonda, nos abre as portas para a psique de Arthur Flek, traz o Coringa para um lugar real, levantando questionamentos relevantes, como quantas pessoas diariamente não se confrontam com situações parecidas com as de Arthur Flek?

Se prepare para um vilão cativar seu coraçãozinho. Coringa é imperdível, é a história do cinema mundial acontecendo na nossa frente, com a gente, é emoção demais!”

Adoráveis Mulheres

Foto Reprodução Filme

“Feminista até os ossos. Traz assuntos importantes como liberdade feminina e o comportamento predominantemente machista da época de 1860, quando os Estados Unidos atravessavam a Guerra Civil.

Contado de maneira natural e íntima, você é convidado a passear pelos cômodos da casa dos March, acompanhando a passagem de cada uma das quatro irmãs da adolescência para a vida adulta.

Sentimos o peso de suas escolhas, as dificuldades da vida, o sentimento de pertencimento que reverbera diferente em cada uma e como o passar dos anos amadurece a personalidade de cada uma das irmãs.

A direção é de Greta Grewing, que já conquistou meu coração em 2017 quando ela concorreu em algumas indicações ao Oscar com “Lady Bird”.

Neste filme ela mantém sua importância em desenvolver um roteiro leve, coeso e naturalista, usando da iluminação, dos cenários e figurinos impecáveis para criar poesia e beleza da época. Usa de uma metalinguagem muito interessante em que escritora, filme, personagem, real e ficção conversam entre si.

A mulher no centro da discussão, com toda sua beleza e também seus problemas, um filme cativante. Recomendo lenço umedecido para as lágrimas que rolarem.”

Ford vs Ferrari

Foto Reprodução Filme

“Não sou nada por dentro do universo automobilístico, então filmes de velocidade nunca me pegaram, até eu assistir Ford Vs Ferrari.

Em meados da década de 60, a Ford, fabricantes de carros dos EUA, com sua equipe de marketing, decide criar um carro de corrida para dar visibilidade a marca.

Neste processo, negociou com a Ferrari, fabricante italiana que estava à beira da falência. Porém, quando Enzo Ferrari soube que sua marca não competiria na Le Mans naquele ano de 1966, desistiu do acordo e fechou com a Fiat, também italiana.

Henry Ford II frustrado, contrata os melhores dos EUA para desenvolver seu carro de corrida do zero e competir com a Ferrari na Le Mans, uma prova de corrida extremamente difícil que dura 24 horas.

É assim que a história começa. Em cima deste acontecimento real, somos então apresentados para nossos protagonistas, que desenvolvem um carro de corrida ao nível da Ferrari.

Temos uma lição de perseverança, de cumplicidade e amizade, um recorte incrível do mundo das corridas e dos carros supervelozes.

O diretor é James Mangold e para ele não importa o jogo, mas os jogadores e sua cooperação. A cinegrafia é grandiosa, com cortes rápidos e mixagem sonora precisa, todos os detalhes estão lá, os pneus cantando, o ronco do motor, o batimento acelerado do coração do piloto.

Para amantes do universo dos carros, um presente. Para iniciantes da velocidade como eu, uma aula.”

O Irlandês

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“Um filme para sentar e assistir com calma. Diferente do que estamos acostumados nos filmes de máfia, este não é um filme com muita ação e tiros para todos os lados.

Aqui, Martin Scorcese lhe convida a passar as suas próximas três horas e meia ao lado de Frank Sheeran, o assassino predileto da Máfia, um imigrante irlandês em solo americano em busca de recomeçar a vida após ter servido na Segunda Guerra Mundial.

A história se passa em três períodos diferentes de cronologia. No presente, Frank já é um senhor de idade em cadeira de rodas, esperando o fim de sua vida no asilo, lhe contando sua jornada de vida como matador de aluguel.

A medida que o filme progride, muitos silêncios se estabelecem na vida dele. Seja por culpa, arrependimento ou negligência, as decisões de Sheeran criam cicatrizes profundas em suas relações com família e amigos. A pergunta final é feita ao espectador, você perdoaria Frank Sheeran?

Ver atores lendários como Robert de Niro, Al Pacino, Harvey Keitel e Joe Pesci juntos já faz do filme um evento único, tão importante que Joe Pesci voltou de sua aposentadoria apenas para atuar neste filme.

O diretor é Martin Scorcese, consagrado diretor no gênero gângster. Entre seus projetos estão os consagrados filmes “Os Bons Companheiros”, “Caminhos Perigosos”, “Gangues de Nova York” e “O Lobo de Wallstreet”.

Dessa vez, Scorcese volta a este universo, mas com uma perspectiva diferente, amadurecida, melancólica, focada no indivíduo e toda sua complexidade, marcando uma nova fase de trabalho.”

1917

Foto Reprodução Filme

“Minha sensação ao sair da sala do cinema foi como se eu estivesse em um parque de diversões e tivesse acabado de visitar sua nova atração. O filme 1917 é uma imersão total no cinema e em todo horror e beleza que uma guerra mundial pode ter.

Dois jovens soldados ingleses são incumbidos de cumprir a missão de avisar a um coronel que 1600 de seus homens estão prestes a cair em uma armadilha alemã, além de salvar o irmão de um deles que serve no front de batalha. Resumidamente, ir do ponto A ao ponto B, mas o que Sam Mendes cria a partir disso é uma experiência cinematográfica.

A linguagem do filme faz toda a diferença, é um pseudo plano-sequência, como se a câmera nunca fosse desligada durante toda a jornada, como em um videogame.

Imagens fortes da destruição, de trincheiras amarrotadas, corpos de pessoas e cavalos mortos, mesclam com a sutileza de uma cerejeira a beira do córrego.

A guerra neste filme é um pano de fundo, o foco é o ser humano e o que motiva seu coração a seguir adiante, uma jornada cheia de altos e baixos, no meio da desolação, uma chama de esperança e muita urgência em cumprir a missão.

Sam Mendes se destaca com sua direção precisa do início ao fim, para acertar a linguagem que se propôs. A câmera neste filme é quase outro personagem, pontuando onde devemos colocar nossa atenção.

O resultado é um trabalho fantástico, onde todo o esforço e dedicação para a realização do filme é também sua mensagem final: para realizar uma missão impossível é preciso uma vontade sobre-humana, que ultrapasse seus limites e expanda seus horizontes do que é possível.”

História de um Casamento

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“No cinema é possível viver tudo o que nossa imaginação é capaz de criar. Mas, o que acontece quando a ficção se preocupa em manter-se fiel à realidade como pontapé inicial? História de um Casamento é um bom exemplo disso.

Charlie e Nicole parecem o casal perfeito. No início do filme você se apaixona de cara pelo casal e seu filho. Como eles poderiam terminar? Assim surge o conflito do filme e em cima do processo de divórcio ele se desenvolve.

Ela quer ir para Los Angeles para uma oportunidade na TV. Ele, diretor de teatro, prefere ficar em Nova York em sua companhia que está despontando.

Seria até um término tranquilo, mas Nicole resolve procurar uma advogada casca-grossa e força Charlie a fazer o mesmo e é quando conhecemos o pior de cada um.

A direção de Noah Baumbach se esforça para criar a verdade que o filme precisa ter para acontecer. Temos que acreditar neste casal e na relação dos dois.

Neste ponto o roteiro cumpre sua função: é envolvente, dramático e cauteloso, habita o lugar da não interpretação, onde os atores são tão naturais que nem parecem atuar. Palmas para Adam Driver e Scarlett Johansson, pela entrega ao papel.

Com a premissa de contar sobre o término de um relacionamento, a mensagem do filme se encontra no caminho oposto, em como mesmo separados, Charlie e Nicole ainda podem encontrar o perdão, equilíbrio e amizade entre os dois.

Um filme triste, pois a separação nunca é feliz, mas bonito, humano e sincero.”

Jojo Rabbit

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“Ousado e espinhoso, o longa brinca com a caricatura do alemão e do nazismo. O protagonista é Johannes Betzler, vulgo Jojo Habbit, um menino alemão tão fissurado pelo Reich que seu melhor amigo é um Hitler imaginário.

Roman Griffin Davis vive o personagem do título, ator mirim excepcionalmente talentoso, diz as maiores atrocidades com sarcasmo e leveza, toca sentimentos complexos, tem frescor e peso no olhar.

Sob sua perspectiva infantil e inocente entendemos o nazismo e o que ele representava para os alemães naquela época.

O filme enfatiza por meio de piadas o repúdio pelo autoritarismo e a alienação da população, levando a acreditar que seus inimigos eram monstros com chifres e presas.

Taika Waititi, diretor rebelde com gosto para a fantasia, interpreta a versão imaginária de “Hitler” no filme.

Como diretor, opta por uma paleta bem colorida para fotografia e direção de arte, acerta no roteiro engraçado, crítico, de humor sarcástico e às vezes, bobo, potencializando a inocência de Jojo Habbit em sua visão sobre o mundo.

Um filme subversivo, sobre a alienação e autoritarismo, mas acima de tudo sobre esperança, para que as muitas pessoas que se parecem com “Jojo Habbit” mundo afora ainda possam deixar o preconceito de lado e ser melhor.”

 

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