Para CEO da Warren, Selic baixa muda padrão de investimentos no Brasil

Foto: Agência Brasil

Por: Pedro Leal

02/07/2020 - 05:07

A taxa básica de juros, a Selic, chegou ao menor patamar da história no último dia 17, ao ser fixada em 2,25% ao ano.

Pela oitava vez consecutiva, os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiram reduzir a taxa, como já era esperado pelo mercado financeiro.

Em comunicado, o BC informou que a redução dos juros nas últimas reuniões é compatível com os impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus e que, para as próximas reuniões, poderá haver um “ajuste residual” no estímulo monetário.

A taxa de juros Selic é a referência para os demais juros da economia e é definida pelo Copom em oito reuniões ordinárias ao longo do ano.

É a taxa média cobrada em negociações com títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, registradas diariamente no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).

Uma vez definida a taxa Selic, o BC atua diariamente comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião do Copom.

Por meio da definição da Selic, o BC busca controlar a inflação do país, mantendo-a dentro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional.

Para este ano, a meta é de 4%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,5% e o superior, 5,5%.

Investimentos em renda fixa perdem atrativo

Segundo o CEO da consultora de investimentos Warren, Tito Gusmão, a redução na taxa Selic traz também o efeito de mudar o perfil de investimentos no país.

Sempre fomos o país da taxa de juros altíssima. Antes, era possível deixar o dinheiro em CDB e ganhar 1% ao mês. Agora, com juro baixo, o Brasil precisa aprender a investir. A renda fixa deixa de pagar tão bem e é preciso aprender sobre outras formas de investimento”, explica.

Um efeito desta mudança no perfil de investimentos é o aumento na procura por investimentos em ações. Atualmente, são cerca de dois milhões de CPFs com investimentos na bolsa – ainda pouco.

Tito Gusmão | Foto Divulgação

“A Bolsa mais do que dobrou de tamanho nos últimos anos, mas ainda abrange apenas 1% da população, muito pouco em comparação com, por exemplo, os EUA, onde 70% da população economicamente ativa tem algum investimento em ações”, diz.

Outra mudança de perfil que deve vir com os juros baixos é a economia real.

“Com renda fixa pagando pouco, quem tem uma grana acumulada deve buscar investimentos mais atrativos, como abrir um negócio próprio ou investir em uma sociedade e fazer o dinheiro rodar”, nota.

Situação do dólar

Outro efeito colateral dos juros baixos se dá na alta do dólar. Segundo Gusmão, o Brasil sempre foi um destino atraente para investimentos estrangeiros nos juros, apesar da instabilidade do país.

Gestores de fundos financeiros, como fundos de pensão, por exemplo, investiam em títulos nacionais para aumentar os rendimentos nos juros – e com os juros baixos, esse dinheiro tende a sair do país, dado que a instabilidade segue, mas o investimento não remunera como antes.

“Caso tenhamos um pouco mais de estabilidade política o dinheiro volta, mas ainda deve ficar na faixa dos R$ 5 por um tempo”, avalia.

Devido à pandemia de coronavírus, que desaqueceu a economia, o mercado financeiro projeta inflação abaixo do piso da meta. Com a inflação baixa e o país registrando até deflação, como ocorreu em maio, o BC tem tido espaço para cortar a Selic.

Em situações normais, ao reduzir a Selic, o Banco Central estimula a economia porque os juros mais baixos ajudam a tornar o crédito mais barato e incentivam o consumo e os investimentos.

Os investimentos em poupança têm rendimentos menores com a Selic mais baixa. Isso acontece porque os rendimentos da poupança são 70% da Selic, mais a Taxa Referencial (TR).

 

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