Trend de esconder o rosto em fotos pode revelar insegurança e medo de bullying

Venezuela Fury (à direita), filha do pugilista Tyson Fury, com sua prima Valentina (à esquerda) e uma amiga. Foto: Reprodução Redes Sociais

Por: Priscila Horvat

24/10/2024 - 18:10 - Atualizada em: 24/10/2024 - 18:16

As redes sociais de muitos adolescentes estão sem postagens e com fotos com rostos escondidos. Também, quando pais insistem em fazer fotos em família, colocam as mãos, tapando a face, geralmente na frente do nariz. Essa é uma nova trend, conhecida como “nose cover” que, além de ser modinha da internet, pode revelar um desejo de querer se proteger das consequências da exposição em redes sociais.

A psicóloga Bárbara Couto, Mestre em Psicologia Clínica e Saúde pela Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha, explica que esse comportamento está relacionado com uma consciência maior dos adolescentes sobre os riscos do ambiente digital, como o cyberbullying, julgamentos, comparações e medo de virar memes.

“Os chamados ‘nativos digitais’ vivem essa ambiguidade entre o desejo de se conectar e o medo de ser exposto. Muitos adolescentes se cobrem numa tentativa de ter a sensação de privacidade. O medo do bullying é a questão central desse comportamento, principalmente no ambiente on-line, onde é mais propenso a ter esses julgamentos, que são muito rápidos e também muito cruéis”, fala Bárbara Couto.

Fase da construção da imagem

Os adolescentes estão na fase da construção de suas identidades e a autoimagem tem um peso enorme. Além disso, ainda não se desenvolveram emocionalmente e dão muita importância ao que é pensado e falado sobre eles.

“Quando um adolescente se nega a estar em uma foto, os pais precisam respeitar esse desejo. Não ultrapassar esse limite é uma forma de reconhecer a autonomia e as necessidades emocionais dele. Com isso, os filhos entendem que podem confiar nos pais e que as decisões deles são levadas em consideração. Isso é muito importante para o desenvolvimento emocional deles”, esclarece a psicóloga.

Comparação com influenciadores digitais

E nessa construção das suas imagens, os adolescentes precisam de referência, em ter em quem se espelhar. Ao mesmo tempo, são muito vulneráveis às críticas. O problema acontece principalmente quando os adolescentes têm como referência as celebridades, que mostram nas redes sociais imagens da rotina e de corpos perfeitos, além de padrões de vida inatingíveis.

“Isso também pode influenciar no comportamento de não querer se expor nas redes sociais. Nessa fase, a pessoa busca aceitação e pertencimento. A comparação com a vida das celebridades pode gerar uma sensação muito grande de inadequação e imperfeição. Então, os adolescentes escondem o rosto porque não se enquadram nesses padrões de perfeição. O medo de não se encaixarem e não se validarem socialmente reforça esse comportamento de cobrir o rosto”, relata Bárbara.

A adolescência é um período de muitas mudanças físicas, emocionais e sociais, quando é normal sentir mais insegurança. Mas, quando esse sentimento passa a interferir na vida cotidiana de forma mais constante, como não querer mais aparecer em ambiente público e online, se isolar e evitar extremamente situações de exposição, pode ser sinal de que o adolescente está com algum transtorno emocional.

“A sensação de inadequação é comum, mas não pode impedir o adolescente de viver a vida de uma maneira saudável. Quando muda drasticamente a forma como ele se coloca no mundo, apresentando um sofrimento muito significativo, insegurança e medo grandes, pode estar ligado a transtornos de ansiedade ou depressão. Nesses casos, os profissionais de saúde mental são muito importantes, porque a terapia é onde o adolescente pode desenvolver ferramentas para lidar com essa pressão e ter uma percepção mais saudável de si mesmo”, explica a psicóloga.

Como ajudar o adolescente a se aceitar

Para aprender a lidar com essa fase de insegurança e inadequação, os adolescentes precisam se sentir seguros, acolhidos, ouvidos e respeitados.

Os pais, que são os adultos da relação, devem estar dispostos a dialogar de forma aberta e sem julgamento. Sabendo da interferência das redes sociais nesses sentimentos, os pais podem orientar o adolescente a ter uma relação mais saudável com as redes sociais, diminuindo o tempo de uso e seguindo pessoas com realidades mais próximas as dele.

Além disso, os pais devem conversar sobre as pressões das redes sociais, mostrando a diferença entre o que é postado e o que é vida real. “Mas sempre validando os sentimentos desse adolescente, que precisa saber que as emoções dele têm uma razão de existir. Ele precisa ter certeza de que está sendo compreendido e de que não está sozinho para lidar com essa situação. É preciso orientar e não punir ou forçar a exposição que ele não quer,” finaliza a profissional.

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