Réplica de antiga ponte sobre o Rio Itapocu poderá ser reconstruída em Jaraguá do Sul

Pilar centenário (à direita) e a ponte Abdon Batista ao fundo | Foto: Fábio Junkes

Por: Elisângela Pezzutti

31/08/2024 - 06:08

Quem circula por Jaraguá do Sul já deve ter percebido a presença de um pilar de pedra no leito do Rio Itapocu, nas proximidades da Rua Max Wilhelm, entre o Centro e o Baependi. O que talvez nem todos saibam é que ela é centenária e foi a sustentação da antiga ponte metálica Abdon Batista, construída em 1913. Agora, passado mais de um século, o Município considera a possibilidade de construir uma réplica da estrutura original, já que a ideia da construção de uma ponte estaiada foi deixada de lado pela prefeitura, após o contrato com a empresa vencedora da licitação ser rompido.

Pilar de pedra foi erguido em 1913| Foto: Fábio Junkes

“Licitamos a obra da ponte estaiada, mas a empresa vencedora não conseguiu fazer e acabamos rompendo o contrato. Como não havia um segundo colocado e os preços dos materiais aumentaram muito para relançar a licitação, acabamos deixando isso de lado por enquanto. Mas, tem sim, a possibilidade dela ser reconstruída como era antigamente”, informa o secretário municipal de Obras e Serviços Públicos, Otoniel da Silva.

Ainda de acordo com o secretário, no fim de setembro deve ser concluída a construção de um deck na Rua Max Wilhelm, onde ficava o antigo Casarão. O objetivo é criar um espaço central agradável de contemplação do Rio Itapocu, valorizando as belezas naturais do local e oferecendo mais uma opção de lazer para quem mora ou visita Jaraguá do Sul.

Deck para contemplação do Rio Itapocu deve estar pronto no final de setembro | Foto: Fábio Junkes

Preservação da história

Há mais de 20 anos, houve, por parte do Patrimônio Histórico, uma proposta elaborada pela arquiteta Suzana de Souza, para restaurar o pilar centenário e construir uma réplica da ponte metálica que existia no local, para dar mais mobilidade a pedestres e ciclistas, trazendo vitalidade urbana às ruas Hugo Braun e Max Wilhelm, e tornando-se mais um atrativo turístico, que geraria renda e divulgação da cidade, que já tem, no Morro Boa Vista, a “Chiesetta Alpina”, réplica de uma pequena igreja construída no século IX, nos alpes italianos, e uma réplica da Igreja de Santa Paulina em construção na Vila Lenzi.

O leitor do OCP, Frank Guenther Grandberg, nascido em 1949, recorda-se da antiga ponte metálica. “Lembro que pescávamos robalos de 3 quilos do alto da ponte, com linhadas de mão. Havia muitos peixes naquela época”, conta. Ele é favorável a que seja construída uma réplica da ponte metálica no local. “Concordo plenamente! Acho que aquele pilar é uma fortaleza histórica que deve ser preservada”, afirma.

Grandberg relembra que antigamente pescava no Rio Itapocu, do alto da ponte metálica | Foto: Arquivo pessoal

Tudo começou em 1909

A primeira ponte, que futuramente receberia o nome de Abdon Batista, foi construída em madeira, no ano de 1909, e ficava pouco mais de um metro acima do leito normal do rio. A estrutura acabou sendo levada pela grande enchente de 1911 e, com isso, a população, que na época era de quase 8 mil habitantes, voltou a fazer a travessia do rio com o uso de balsas.

Antes de 1909, a travessia do Rio Itapocu era feita em balsas | Foto: Arquivo Histórico

A segunda ponte, com cerca de 90 metros de extensão, foi inaugurada em março de 1913 e tem uma história inusitada: a estrutura havia saído da Inglaterra com destino à África do Sul em 1912, mas o navio acabou aportando em Florianópolis e a ponte foi descarregada. O então deputado estadual Abdon Batista viu no equívoco a oportunidade de atender à necessidade dos jaraguaenses.

A nova ponte foi então construída entre a Rua Max Wilhelm e a via hoje denominada Rua Hugo Braun. “Na época (1913), a Rua Hugo Braun não existia. Era denominada de Abdon Batista e saía da ponte em direção ao Centro. O acesso não era o mesmo da atual ponte Abdon”, explica a historiadora Sílvia Kita.

Comunidade prestigiou a inauguração da ponte metálica | Foto: Arquivo Histórico

A nova ponte, que recebeu o nome de Abdon Batista, tinha estrutura de ferro e piso de madeira. Em 1925, recebeu cobertura em zinco. Com a expansão industrial e o desenvolvimento dos setores têxtil e metalomecânico, em 1965 foi inaugurada a ponte de concreto que é utilizada até hoje.

Em 1925, a ponte recebeu cobertura em zinco | Foto: Arquivo histórico

Quem foi Abdon Batista

Abdon Batista nasceu em Salvador (BA), em 30 de julho de 1851. Formou-se em Medicina na Bahia, onde também clinicou nos primeiros anos, até se mudar para Santa Catarina, em 1880. Casou-se em 1884, com Thereza Augusta Nóbrega de Oliveira, filha do ervateiro Coronel José Antônio Oliveira. Por influência do sogro, entrou para a política, pelo Partido Liberal e, para divulgar as ideias do partido, criou e editou o jornal “O Democrata”, em São Francisco do Sul. Fixou residência em Joinville em 1888. De lá, atendia moradores das colônias de Hansa-Humboldt (Corupá), Jaraguá, Bananal (Guaramirim), Massaranduba e região do Rio Itapocu.

Abdon Batista era médico e mudou-se da Bahia para Santa Catarina em 1880 | Foto: Reprodução/Arquivo OCP

Destaque na política

Na vida pública, ocupou os cargos de juiz de paz, vereador, presidente do Legislativo, superintendente municipal (prefeito), deputado provincial e estadual, presidente da Assembleia Legislativa, vice-presidente da província (equivalente a vice-governador), tendo ocupado o cargo de governador por vários meses, deputado federal por três mandatos e senador da República. Ele faleceu em 15 de março de 1922.

 

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Elisângela Pezzutti

Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.