Centenas de máquinas fotográficas que datam desde o início do século passado até os anos 2000 passaram a fazer parte do acervo do Museu Histórico Emílio da Silva. A doação veio de um dos grandes entusiastas e disseminador da fotografia de Jaraguá do Sul, o empresário Waldemar Behling.
O exemplar mais antigo é uma máquina tripé Lumex Lux, com corpo de madeira e fole, e chassis de vidro no lugar do filme. Um modelo igual ao que era usado por Behling e o sogro João Rudolfo Loss nos primeiros anos da memorável Foto Loss, na década de 1930.

Modelo como essa era usado no início da Foto Loss | Foto Natália/ Trentini
Equipamentos para revelação e ampliação de fotografia estão entre o acervo doado, assim como a primeira máquina digital comprada por Behling: uma Canon modelo de bolso, adquirida em 2003 para uso pessoal nas viagens que fazia como voluntário no Rotary Clube.
Em uma estante de mogno em uma das salas no térreo do museu, estão enfileiradas pelos anos os mais diferentes modelos de câmeras fotográficas.
Uma evolução tecnológica que é desconhecida de muitas crianças e adolescentes acostumados com os smartphones. Mas os modelos mais interessantes, certamente, são os antigos e analógicos. Máquinas de meio quadro, quadro inteiro, 4×4, 6×6, 6×9.

Foto Natália/ Trentini
Behling conta que a intenção com a doação é exatamente essa: colocar à disposição das pessoas um pouco da história da arte de fotografar.
A coleção começou como uma vontade do filho de Waldemar, na época adolescente e interessado por câmeras fotográficas antigas, e depois seguiu sendo mantida pelo empresário.
“A gente foi efetuando trocas de equipamentos com clientes que queriam comprar uma máquina nova, e assim foi adiante”, conta. Outras chegaram por doações da comunidade, sabendo dessa atividade.
Mas o maior volume veio de uma doação do amigo Célio Mafra, jaraguaense que vivia em Curitiba e consertava máquinas fotográficas.
Pelo bom relacionamento, ele fez uma troca de alguns filmes por uma caixa cheia de equipamentos que os donos haviam enviado para o conserto, mas nunca voltaram para buscar. “Isso engrossou o nosso acervo”, relembra.

Câmeras do período da popularização da fotografia | Foto Natália/ Trentini
Durante muitos anos, esse pequeno museu da fotografia ficou montado na casa de Behling, mas ele relembra que já era procurado com objetivo educacional.
“No começo as escolas sabiam disso e viam com a classe de alunos para ver, para eu falar da fotografia”, conta.
Valor cultural e histórico
De acordo com o diretor de Cultura da Prefeitura de Jaraguá do Sul, Sidnei Lopes, por meio do acervo de Waldemar Behling será possível levar a memória da origem da fotografia adiante, mostrando as bases dessa evolução que leva as pessoas a terem um acesso tão fácil a uma foto.
“Quando a gente fala em tecnologia, não é só o agora ou o futuro. Teve uma tecnologia muito importante no passado que fez a gente chegar aonde chegamos”, reflete.
O diretor lembra a própria história local. Antigamente, no início do século, o momento de bater uma foto era uma acontecimento com hora marcada. Algo raro. Toda família se reunia para um único clique.

Equipamentos de ampliação de fotos Foto Natália/ Trentini
Com o passar dos anos, haviam fotos de batizados, casamentos e outros momentos especiais. Logo haviam álbuns e as pessoas paravam para relembrar os acontecimentos.
Com a fotografia digital, o cotidiano passou a ser registrado e os arquivos de fotos digitais se tornaram imensos. “Vale a reflexão do equilíbrio, de selecionar algumas para guardar impressas”, comenta.
Evocando a frase: “Uma foto vale mais do que mil palavras”, Lopes ressalta que a fotografia é um dos elementos de mais veracidade para se contar uma história, o que ressalta a importância desses equipamentos para os espaços de preservação.
As origens do Photo Atelier Loss
Uma salinha em casa na década de 30. Foi assim que começou a história que levou à paixão pela fotografia que pode ser acompanhada nas peças que hoje ganham espaço no museu.
João Rudolfo Loss, vindo de Curitiba com uma máquina fotográfica embaixo do braço anos antes, fazia fotos em um pequeno cômodo para os documentos e registrava os casais logo após a cerimônia nos fins de semana.

João Rudolfo Loss iniciou o atelier de fotografia na década de 1930 | Foto Natália/ Trentini
Waldemar Behling chegou como ajudante muitos anos mais tarde, na década de 50, por volta dos 14 anos. Já interessado pela fotografia, fazia cursos por correspondência enquanto trabalhava em uma casa comercial que ficava na Procópio Gomes de Oliveira.
Por indicação do pai, que puxava casamentos com a caminhonete no fim de semana, Waldemar soube que Loss precisava de ajuda e na semana seguinte trocou o emprego com prontidão, ávido por trabalhar na área de interesse.

Sede da primeira loja | Foto Natália/ Trentini
Foram muitos anos de evolução. Além de compartilhar a paixão por fotografar, Waldemar entrou para a família ao casar com a filha de Rudolfo, Rosemary. E assim levou a profissão do sogro adiante e estampou o nome da família na fachada de uma majestosa e moderna loja na Marechal Deodoro da Fonseca, nos anos 90.
Quem queria tirar fotos naquela época, normalmente precisava ir no fotógrafo. Waldemar lembra que na década de 50 em Jaraguá do Sul, ou você iria no Foto Loss, ou no Foto Piazera.
No estúdio, a máquina de corpo de madeira com um tripé, um espaço de 4 por 6 com cenário que dava para tudo: casamento, comunhão, batizado, foto de documento.
O movimento era tanto, que Waldemar e seu João Rodolfo chegavam a atender até 20 casamentos em um fim de semana.

Grandiosa loja era reconhecida como uma das mais bem equipadas | Foto Natália/ Trentini
Da foto preto e branco aos filmes coloridos foram muitos anos. O primeiro boom na fotografia aconteceu na década de 80 com as revelações em 1 hora.
“Ninguém acreditava, imagina. Antes eram 3, 4, 5 dias”, conta Behling.
Aos poucos agregou outras tecnologias e virou uma grandiosa loja na esquina da Marechal. Mesmo fechada desde 2005, a Foto Loss virou uma boa lembrança para Jaraguá do Sul.
“A gente estava com um dos estabelecimentos mais bem montados do Sul do Brasil na área de fotografia, informática, instrumentos musicais, áudio e vídeo. Nossa loja era muito linda, móveis todos de mogno”, relata Waldemar.
O fim dos negócios aconteceu no começo dos anos 2000, quando a foto digital entrou na vida das pessoas de vez e a demanda pelas revelações e outros serviços deixou de existir.
Como visitar o museu?
O Museu Histórico de Jaraguá do Sul Emílio da Silva está aberto para visitação diariamente e fica na avenida Marechal Deodoro da Fonseca, na praça central. Fica aberto de segunda a sexta-feira das 17h30 às 11h30; das 13h as 16h30. Nos sábados, fica aberto pela manhã, das 9h às 12h.
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