Por Daiana Constantino
Era maio de 2003 quando a tão esperada obra de R$ 10 milhões estava pronta para ser inaugurada: o Centro Cultural da Scar (Sociedade Cultura Artística). Agora, o prédio de seis pisos e de 10 mil metros quadrados, que completa 20 anos, tem o desafio de ampliar cada vez mais sua capacidade de atendimento multidisciplinar em várias vertentes artísticas. Há duas décadas, foi com o concerto de gala “Um nome, uma ideia e um piano”, sob direção de Gilmar Antonio Moretti, no Grande Teatro, que o espaço estreou em Jaraguá do Sul.
A abertura do evento foi marcada por discursos na presença de autoridades empresariais, políticas e artísticas importantes, como o representante do Ministério da Cultura, o ator Sergio Mamberti, e o então governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira.
“Foi um momento de alegria: o ápice de uma trajetória de muita luta e esforço, tanto pela comissão de construção como por toda comunidade envolvida no processo”, recordou Monika Hufenüssler Conrads, presidente da Scar na época.
Para o presidente do Conselho de Administração da Scar, Giuliano Donini, os 20 anos do Centro Cultural representam “mais um dos importantes marcos do empreendedorismo e do voluntariado de nossa comunidade”.
“A ambição coletiva quando da idealização deste projeto, somado a superação de todos os desafios para a sua execução, marcaram um período da história da própria cidade. E este local, que por um bom tempo conviveu com uma construção, que foi mais lenta do que o desejado por todos, hoje é um destacado espaço que reúne a cultura, a articulação empresarial e o Poder Público, que juntos, tem trabalhado para proporcionar ainda mais resultados no ambiente que vivemos”, declarou o presidente.
Passados 20 anos, mais um momento especial deve grifar a história do Centro da Scar. A estrutura do prédio passa por obras de reformas – pintura, colocação de vidro, sistema de segurança na entrada, entre outros. Para julho, está prevista a reinauguração do espaço com uma nova identidade visual.
Segundo Edilma Lemanhê, diretora executiva da Scar, cada andar vai ganhar uma cor representando as modalidades artísticas, com o objetivo de tornar os espaços mais acolhedores ao público. Além disso, uma programação especial está sendo preparada para o público. Ela começará a ser divulgada a partir de maio. Já estão confirmados dois grandes concertos. Um deles vai homenagear o maestro Ricardo Feldens, que faleceu em 2019.
De acordo com Edilma, o Centro Cultural está pequeno para atender toda a demanda de alunos, projetos e produções artísticas. Por isso, a Scar está descentralizando seu atendimento. Em parceria com a Prefeitura de Guaramirim, a associação utiliza cinco salas de aula na biblioteca pública, atendendo 150 bolsistas. E, na Prefeitura de Schroeder, são três salas de aula para 65 estudantes. “Isso faz parte do nosso planejamento de descentralização das nossas atividades. Em breve vamos para mais duas cidades e no ano que vem outras duas”, afirmou. A meta é até 2029 estar presente na maioria das cidades do Norte catarinense. Dezoito cidades estão no radar da Scar.
Já em Jaraguá do Sul, ainda para este ano, a Scar vai levar aulas de teatro gratuitas direcionadas para adolescentes dos bairros João Pessoa, Santo Antônio, Ribeirão Cavalo e Braço do Ribeirão Cavalo e Rio da Luz, com o projeto de 120 bolsas por turma.
Estrutura
Atualmente, o Centro Cultural conta com dois teatros, salas de aula, salas multiuso, camarins, sala de figurinos, estacionamento externo e outros espaços para a realização de eventos artísticos, sociais e corporativos.
Edilma Lemanhê também destaca o volume de projetos em andamento na Scar. “Temos 18 projetos culturais em andamento com mecanismos de incentivos 11 diferentes e isso tem a ver com a sustentabilidade. Não queremos depender de apenas um mecanismo seja federal, estadual ou municipal. Porque se alguma passa por alguma revisão e fica um tempo sem enviar projetos nós temos outros mecanismos. Isso porque nos propomos a fazer com consistência o que nos propomos a fazer. Por isso temos esse cuidado de diversificação das fontes de financiamento dos projetos”, destacou.
Para saber mais sobre os projetos da Scar, suas conquistas ao longo destas duas décadas e seus projetos futuros, confira abaixo entrevista com o presidente Giuliano Donini:
OCP – Para o senhor, o que representa e significa os 20 anos de funcionamento do prédio da Scar?
Donini: Representa mais um dos importantes marcos do empreendedorismo e do voluntariado de nossa comunidade. A ambição coletiva quando da idealização deste projeto, somado a superação de todos os desafios para a sua execução, marcaram um período da história da própria cidade. E este local, que por um bom tempo conviveu com uma construção, que foi mais lenta do que o desejado por todos, hoje é um destacado espaço que reúne a Cultura, a articulação Empresarial e o Poder Público, que juntos, tem trabalhado para proporcionar ainda mais resultados no ambiente que vivemos.
OCP – Ao longo destas duas décadas, quais foram as principais conquistas?
Donini: Realmente acredito que são muitas. Mas elencando algumas, penso que conquistar o respeito e a participação de uma enorme fatia da comunidade nas ações e projetos da Scar, ter se tornando a maior escola da cidade, não por uma questão de tamanho, mas como reflexo da qualidade das entregas, do empenho dos profissionais envolvidos e do acolhimento que a Scar sempre procura proporcionar todos os dias.
OCP – Quais os desafios e projetos futuros para a Scar?
Donini: A Scar, que ambiciona ser um modelo de gestão cultural sustentável, em seu planejamento estratégico traçou alguns desafios para seus próximos anos. Dentre eles destaco o de participar ainda mais da vida das pessoas, estando mais próximo delas e entendendo a dinâmica da região que estamos e influenciamos. Por isso, em fevereiro deste ano inauguramos as unidades da Scar em Guaramirim e Schroeder, contando com mais de 200 alunos nestas novas iniciativas. E agora, em julho deste ano teremos uma grande novidade sobre nossa ampliação, proporcionando mais um espaço para o desenvolvimento e práticas culturais.
OCP – Na sua opinião, qual o papel da cultura e das artes para a comunidade?
Donini: Tem papel bastante relevante de ajudar a consolidar princípios e valores em uma comunidade. Entendemos a cultura como uma atividade econômica sustentável, que dela podem viver profissionais vocacionados as suas práticas. Mas também entendemos esta mesma cultura com um papel de, somado a muitas outras práticas, contribuir para a formação de indivíduos e de comunidades que respeitem diferenças, que sejam responsáveis com os bens comuns, que colaborem com o todo, que pratiquem voluntariado, ou seja, que vivam bem em Comunidade. Entendemos ser papel da Scar promover a evolução humana por meio da arte e da cultura.
OCP – Gostaria de ressaltar mais alguma informação?
Reforçar ainda que a Scar é uma entidade privada, sem fins lucrativos, mas aberta a receber a todos, para que participem de suas iniciativas, se divirtam nos espetáculos proporcionados em seus espaços e para aprenderem ou desenvolverem seus talentos individuais e coletivos.
A importância da Scar para alunos e professores
A Escola de Artes da Scar – música, dança, teatro, artes visuais e audiovisual – tem 2.572 alunos. Destes, 1.633 são bolsistas. Ou seja, 63% não pagam pelas aulas oferecidas pela instituição. Da Escola Renato Pradi, Yasmin Vitória Pereira, 13 anos, participa do Projeto Oficinas Artísticas nas turmas de teatro e audiovisual – parceria entre Scar e Prefeitura para oferecer cursos gratuitos aos alunos da rede municipal de ensino. “Estou gostando bastante de fazer porque é uma coisa nova e acho divertido. Gosto de estar aqui com os meus amigos, conversar, se informar”, disse Yasmin.

Yasmin Vitória Pereira, 13 anos, participa do Projeto Oficinas Artísticas nas turmas de teatro e audiovisual | Foto: Fabio Junkes
Professor de audiovisual, Fabrício Porto destacou a importância da iniciativa e do Centro Cultural para a democratização da arte. “É raro encontrar uma estrutura como a da Scar em qualquer cidade. Eu sou de Joinville e é difícil encontrar uma cidade com essa estrutura de música, salas apropriadas para isso, dança, teatro, audiovisual, câmeras, profissionais. Está sendo uma experiência muito enriquecedora e não tenho notícia de outro lugar no país que tenha um projeto semelhante a esse”, destacou Porto.

Professor de audiovisual Fabrício Porto | Foto: Fabio Junkes
Entre as diversas modalidades oferecidas pela Scar está a acrobacia aérea para crianças de 5 a 7 anos. Da turma Baby Acrobata, a aluna Laura Bartolo, 7, contou como se sente aprendendo a dançar no tecido: “Eu disse para minha mãe que eu queria muito fazer aula de circo e ela fez uma surpresa pra mim que eu poderia fazer essa aula. Eu fiquei muito feliz e acho muito legal.” Para a professora de Laura, Chalimar Junkes, 28, o trabalho é muito gratificante, especialmente por sua ligação de 15 anos com a Scar, que começou como aluna aos 16 anos no Projeto Mais Dança.

Laura Bartolo| Foto: Fabio Junkes
“A gente se sente cada vez mais o coração da instituição. Quando entramos era de uma forma e foi se modernizando. Está a todo tempo aceitando mudanças. E nós, professores, ficamos muito felizes porque participamos dessa construção da história. Daqui 30 anos nossos filhos podem ser alunos daqui e vão saber que sua mãe ou seu pai fizeram parte da mudança e construção da Scar. Isso é muito gratificante”, declarou Chalimar.
Formado no Bolshoi em 2010, o professor Daniel Malagoli, 31, ensina dança contemporânea no para alunos bolsistas de escolas públicas de Jaraguá do Sul. Um ônibus transporta de forma gratuita os estudantes da unidade de ensino até a Scar e eles ganham um lanche na instituição. Os participantes podem escolher entre as modalidades dança e música e teatro e audiovisual.
“A estrutura da Scar é maravilhosa tanto para Jaraguá, para nosso Estado e até para o Brasil. Vemos poucos teatros com essa estrutura com toda, infraestrutura, salas com ar-condicionado. Por isso esse projeto é tão importante porque traz os alunos para uma realidade que eles acham tão distante. E que eles conseguem ver que não e que é possível eles estarem nesse espaço. Eles ficam muito encantados com tudo isso”, destacou o professor.

Daniel Malagoli| Foto: Fabio Junkes
Os depoimentos dos alunos comprovam a relevância do Centro Cultural da Scar para suas vidas. Há um ano e seis meses, Stefany Lima da Silva, 10 anos, se desloca do bairro Jaraguá 99 até o Centro três vezes por semana e passa dez horas semanais na Scar fazendo aulas de arpa no Projeto Música para Todos. Ela tem um objetivo grande: “Viajar pelo mundo espalhando a música e os sons da arpa.” Há cinco anos, Ana Luísa Batista Spengler, 13, faz aulas violino na Scar, mas antes participava das turmas de dança: “Deixei o balé para me dedicar ao violino”.
Para este ano, a meta da Scar é aumentar o número de alunos para 3.200. E dos professores, de 75 para 80.
SCAR EM NÚMEROS
2022 – 360 eventos anuais com 145 mil pessoas
2572 alunos bolsistas e particulares
Para este ano meta: 3200 alunos
2022: 65 professores
2023: 75 professores, até o fim do ano deve chegar a 80 professores
11 núcleos de produção cultural com 250 integrantes
Figurino para as peças teatrais: 30 mil roupas, sapatos, acessórios.
A Scar tem 6 andares, 17 salas de aulas, 6 salas multiuso, um espaço panorâmico, um estudio de audiovisual, um teatro de 946 lugares, um teatro de 220 lugares, um café “CAfé no Tom”
Sobre os instrumentos somam ao todo cerca de 450 unidades com destaque para 36 pianos sendo um de cauda inteira; 17 harpas, entre os vários outros instrumentos dos naipes das cordas, percussão, metais e madeiras.
MEMÓRIA
Monika recorda da época da inauguração do Centro Cultural
Presidente da Scar em 2003, quando o prédio foi inaugurado, Monika Hufenüssler Conrads, disse que o momento foi não apenas marcante, mas emocionante. “Ver a expressão de alegria destes batalhadores com um gostinho de “missão cumprida” e, depois do espetáculo, com a reação do público que aplaudiu de pé nossos artistas, dizendo que tinham sido transportados a outro mundo, que entendiam o valor da arte como instrumento de mudança.
Ver o prédio em “roupagem de gala”, todo iluminado para receber oficialmente os convidados, bem como o engajamento de todos os grupos de trabalho que participaram da apresentação de abertura. Músicos, bailarinos, cantores, equipe técnica, figurino, direção imbuídos do espírito de transformação, procurando dar o melhor de si para que ali se concretizasse o sonho dos visionários deste projeto.”
Na época, a maior preocupação, segundo Monika, “era preencher com vida aquele espaço, torná-lo democrático e que as pessoas de qualquer origem ou parcela da população, tanto bairros como centro, pudessem usufruir”. “Outra ação de sua gestão foi criar uma diretoria de voluntários que passaram a fazer a administração de todos eventos, escola, grupos de orquestra, coral, etc… Ao longo do tempo este grupo foi substituído por profissionais de foco no ramo cultural. As atividades de ensino e produção cultural que já existiam há rua Amazonas tinhas as melhores condições para expandir, e foi o que aconteceu”, recordou ela.
Naquela época, eventos ícones marcaram a história, como o Festival de Formas Animadas, o projeto A Escola Vai ao Teatro, além de poder receber diversos espetáculos de teatro e dança, inclusive internacionais – um dos primeiros foi o Balet Real da Dinamarca.
De lá para cá o que era um sonho e uma forte intenção, tornou-se realidade, de acordo com Monika. “Nestes 20 anos formamos muitos profissionais das artes que ganharam o mundo, hoje temos 3000 alunos nas diversas modalidades, temos produção cultural própria, através das orquestras, grupos de teatro, de dança, artes visuais. Somos conhecidos e reconhecidos por nossa gestão cultural, com consistência e responsabilidade. As pessoas de Jaraguá e região conhecem e usufruem do espaço, sempre com inúmeras possibilidades, temos um público cativo que nos alegra. Conseguimos migrar para o digital, também. Agregamos qualidade de vida à nossa cidade e oportunidades para nossos jovens abrirem horizontes.”
Ela continuou: “Temos uma atuação social forte, trabalhamos em prol da diversidade e equidade. Derrubamos muitos preconceitos, temos eventos de grande porte em nossa cidade. São tantas coisas que fica difícil nominar somente algumas. Mas o balanço dos últimos 20 anos é muito positivo, supera as visões otimistas daqueles anos, mas que continua sendo fruto de muito trabalho, coragem e determinação.”
- Foto: Fabio Junkes
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