O nome Charles Ponzi permanece sinônimo de fraude financeira mais de um século após seus golpes. Nascido Carlo Pietro Giovanni Guglielmo Tebaldo Ponzi, em 1882, na Itália, ele migrou para os Estados Unidos em 1903 em busca do “sonho americano”. No entanto, sua trajetória transformou-se em um conto de ambição, engenhosidade criminosa e queda espetacular.
Ponzi chegou a Boston sem recursos e trabalhou em empregos modestos, como garçom e operário. Seu primeiro contato com o crime ocorreu no Canadá, onde foi preso por falsificação em 1908. Após cumprir pena, retornou aos EUA e envolveu-se em contrabando de imigrantes, o que lhe rendeu nova prisão. Essas experiências moldaram sua visão de que o sucesso rápido justificava meios ilegais.
Em 1919, ele descobriu uma brecha nas moedas internacionais: os International Reply Coupons (cupons de resposta postal), que poderiam ser comprados em países com moeda desvalorizada e revendidos onde tivessem maior valor.
Ponzi prometeu a investidores um retorno de 50% em 45 dias, alegando lucrar com a arbitragem desses cupons. Na prática, o modelo era inviável, mas ele usou o dinheiro de novos investidores para pagar os antigos — nascia ali o “esquema Ponzi”.
Fortuna rápida
A promessa de riqueza rápida atraiu milhares. Em menos de um ano, Ponzi arrecadou cerca de US$ 15 milhões (equivalente a mais de US$ 200 milhões hoje). Viveu com extravagância: comprou uma mansão, carros de luxo e roupas caras. Sua imagem de homem bem-sucedido alimentou a confiança pública, mesmo quando jornais, como o Boston Post, começaram a investigar suas operações.
No entanto, a queda foi tão rápida quanto a ascensão. Em agosto de 1920, as autoridades descobriram que, para honrar os pagamentos, ele precisaria de 160 milhões de cupons postais — algo impossível, já que apenas 27 mil existiam. Portanto, investidores correram para resgatar seus fundos, e o esquema desmoronou.
Ponzi foi preso, acusado de fraude postal, e condenado a cinco anos de prisão.
Ruína do criador do ‘esquema Ponzi’ no Brasil
Após cumprir parte da pena, enfrentou novos processos e foi deportado para a Itália em 1934. Sem recursos, tentou recomeçar como empresário, mas fracassou. Em 1939, mudou-se para o Brasil, onde viveu uma existência obscura. Trabalhou como tradutor, vendedor e até professor de inglês, mas nunca recuperou a fortuna.
Nos últimos anos, Ponzi morava em um quarto alugado no Rio de Janeiro, dependendo de ajuda de conhecidos. Em 1949, morreu pobre e doente, aos 66 anos, no atual Hospital Escola São Francisco de Assis. Seu corpo foi enterrado em um túmulo sem identificação, financiado por caridade.
A ironia de sua história é marcante: o homem que enriqueceu explorando a ganância alheia terminou a vida na miséria. Com base nele, surgiu o termo “esquema Ponzi”, usado até hoje para definir fraudes que pagam retornos fictícios com o capital de novos participantes.
Sua vida, portanto, serve como alerta contra a ilusão de lucros fáceis e a cegueira gerada pela ambição desmedida. Charles Ponzi não inventou a fraude financeira, mas tornou-se seu rosto mais memorável — um símbolo de como a ganância pode destruir até mesmo seus arquitetos.