Venha, vamos embora…

Foto: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

24/07/2023 - 13:07 - Atualizada em: 24/07/2023 - 14:29

 

“♫ Ainda fazem da flor/ Seu mais forte refrão/ E acreditam nas flores/ Vencendo o canhão/ Vem, vamos embora/ Que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora/ Não espera acontecer” (Pra não dizer que não falei das flores, Geraldo Vandré).

A virulência que assola a internet assombra. Pessoas peçonhentas, odientas, furiosas, amargas, ásperas, azedas, ácidas, rancorosas, acrimoniosas destilando todo o seu ressentimento e amaridão em textos e vídeos com o único objetivo de contaminar corações e mentes alheios.

Assombra termos que presenciar a mediocridade de pessoa pública, levianamente ou não, confundindo expressamente o “todo poder emana do povo” com “todo poder emana do cano de uma arma”. E esse é só um exemplo do quanto o espírito beligerante salta das ondas da internet para o mundo real. E vice-versa.

A vida imita a arte

Esse ditado já mudou para “a vida imita a internet” (e vice-versa). Quantas pessoas têm sido canceladas e linchadas virtualmente (por enquanto) por conta de uma opinião ou de uma expressão mal colocada? Ou, ainda pior, por causa de uma frase retirada de contexto?

Quanto de racismo, lgbtfobia, misoginia, etarismo entre tantas outras situações de preconceito, tem-se visto em vídeos e textos da internet, compartilhados em redes sociais ou aplicativos como o WhatsApp?

Quantos vídeos assustadores de pessoas que se dizem “de Deus” fomentando descaradamente a violência ou a insinuando de forma (nem tão) velada circulam pela grande rede, chegando a adultos, adolescentes, e mais grave, crianças? E os absurdos dos comentários a matérias, textos ou vídeos? Facínoras, quase sanguinolentos.

O que falta para nossos governantes, legisladores e a nós mesmos para entendermos que violência ou discurso de violência ou discurso de ódio não levam à prosperidade de qualquer sociedade? Mais do que isso, que não levam a lugar algum senão a um túnel escuro, comprido e sem saída? A uma caverna muito pior do que aquela de Platão? Que ilusões são essas?

A arte imitando a vida

Assusta-me a possibilidade de a arte passar a imitar a vida no seu mais baixo e vil viés intelectual, como se voltássemos a uma era culturalmente jurássica. Bons tempos em que obras excepcionais eram consideradas apenas como tais e, assim, nos faziam refletir. Madame Bovary (Gustave Flaubert) não transformou as mulheres em devassas, Memórias de Adriano (Marguerite Yourcenar) os homens em devassos, O senhor das moscas (William Golding) as crianças em assassinas, A metamorfose (Franz Kafka) as pessoas em baratas.

Assusta-me a possibilidade de, por outro lado, viramos uma sociedade como a retratada em Fahrenheit 451 (Ray Bradbury) ou dependente de algum tipo moderno de “soma”, a droga que nunca nos deixa tristes, de Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley).

Assusta-me, mas ainda quero crer que há chances de alcançarmos e potencializarmos o que há de bom na internet, cultural e socialmente falando, com flores vencendo a ignorância, para que crianças e jovens tenham mais e melhores perspectivas.

Do contrário, restará apenas à inteligência artificial re-ensinar a humanidade como ser criativa, pacífica, próspera, culta e inteligente…

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.