Há frases que atravessam o tempo e permanecem verdadeiras. “Todo o poder emana do povo” é uma delas. Está na Constituição Federal, é certo, mas deveria estar gravada também em cada consciência, especialmente naqueles que de alguma forma exercem liderança, seja no serviço público, seja no mundo empresarial.
Costumamos associar o poder à capacidade individual de decidir, investir ou liderar. Mas a experiência mostra que a verdadeira força transformadora não está em um só, está no coletivo, nas pessoas que acreditam num propósito comum, que têm coragem de questionar o que está posto e disposição para construir algo melhor juntas.
As empresas, em sua essência, são reflexos da sociedade. Reúnem histórias distintas, talentos diversos e pontos de vista que, quando ouvidos de fato, produzem inovação, crescimento e legitimidade. Não há organização sólida onde não exista o sentimento de pertencimento. O mesmo vale para um país, quando a coletividade desperta, o que parecia distante torna-se possível.
Nos últimos dez anos, o empresariado brasileiro provou sua capacidade de adaptação e superação. Enfrentamos a recessão de 2015 e 2016, que afetou setores inteiros, e dela surgiram novas formas de gestão e eficiência. Resistimos à pandemia reinventando negócios em tempo recorde. Nesse mesmo período vimos nascer um ambiente vibrante de startups e tecnologia como Nubank e Ifood que transformaram o setor bancário e de alimentação, além da chegada da Uber ao Brasil, em 2014, que inaugurou uma nova era na mobilidade e nas relações de trabalho, um símbolo de como a inovação pode desafiar modelos e criar novas oportunidades.
O empresariado brasileiro, e falo aqui com o olhar de quem já viu muitos ciclos, precisa reavivar essa consciência de corresponsabilidade. Não cabe apenas esperar que as transformações venham de fora. É preciso agir de dentro, propor caminhos, fortalecer o diálogo e viver no dia a dia a ética que tanto cobramos das instituições.
Talvez, nesse último trimestre do ano, seja pertinente olharmos para dentro e refletirmos sobre o papel que cada um de nós, empresários, gestores, empreendedores, tem na construção do país que desejamos deixar.
Porque, no fim, toda mudança que realmente permanece nasce do mesmo princípio que dá sentido à democracia: do povo, com o povo e para o povo.
Paulo Luíz da Silva Mattos
OAB/SC 7.688
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