“♫ Tô chegando aí, bicho/ Tô chegando e é de bicho/ Pode parar com essa história/ De se fazer de difícil/ Que eu tô chegando// Não dá bobeira não/ Cê tá na minha mão// Chegou a Tropa de Elite/ Osso duro de roer/ Pega um, pega geral/ Também vai pegar você” (Tropa de elite, Tihuana)
Sou advogado de carreira, já fui professor, dou palestras. Não sei qual é a profissão do leitor. Mas, muito provavelmente, nossas atividades terão um destino parecido, senão idêntico. Seremos substituídos, mais cedo ou mais tarde, por robôs.
Contudo precisamos levar em consideração principalmente três questões: 1. Sim, muitas das profissões tradicionais estão fadadas ao fim do jeito que as conhecemos; 2. Profissões, ao longo da história, sempre desapareceram, dando lugar àquelas que supriam as novas necessidades; e 3. Estudos apontam que mais 70% das crianças que iniciam agora no ensino fundamental exercerão uma atividade ou profissão, em suas vidas adultas, que nós ainda não conhecemos (e esse número tende a aumentar).
Alguns exemplos da impossibilidade de competir
Ah, Raphael, mas essa é uma visão drástica demais. Sempre haverá, por exemplo, advogados, e médicos, e engenheiros… Concordo e discordo. É possível que sempre haja, ou que ainda subsistam por um longo tempo. Ocorre que os profissionais terão que se adaptar às novas realidades se não quiserem sucumbir no ano seguinte ao da sua formatura.
Há poucos anos foi apresentado um robô (de uma empresa norte-americana) que participou de uma competição com dez advogados especialistas em contratos. Detalhe importante: o robô estava em fase experimental. Robô e humanos tiveram aproximadamente o mesmo percentual de acertos. Os humanos levaram, em média, 90 minutos para resolver as questões. O robô 27. Vinte e sete segundos. Os humanos consumiram um litro e meio de café; o robô nada. De outra empresa, esse mês, um robô vai assessorar, em tempo real, cliente numa audiência sobre multa de trânsito, também lá nos EUA.
Na medicina, para ficarmos em um só exemplo, robôs podem ler mais imagens em uma hora do que um médico especialista em uma carreira inteira. E com mais êxito nos diagnósticos.
No Japão e na Coreia do Sul há robôs professores. Robôs enfermeiros estão sendo desenvolvidos e já têm vagas garantidas em países com falta desses profissionais, como no Reino Unido.
Não será diferente na engenharia, contabilidade ou qualquer outra profissão que exija trabalhos repetitivos de alguma forma. É, com o perdão do trocadilho, humanamente impossível competir com uma máquina nesses casos.
Robôs acessíveis
E para quem pensa que isso só existe no hemisfério norte, que é coisa de gente rica ou só de quem entende de tecnologia, ledo engano. Os robôs já estão presentes em nossas vidas sem que percebamos, como na escolha dos seus filmes ou livros preferidos na Netflix ou Amazon, por exemplo.
Mais do que isso. Se der uma pesquisada na internet, será fácil encontrar – de graça ou com custo razoável – aplicativos com inteligência artificial que lhe ajudarão a escrever seus trabalhos de escola (de qualquer nível) ou seus livros (essa semana um rapaz, utilizando esta tecnologia, “escreveu” e publicou seu livro em três dias!), a desenvolver sua logomarca ou imagens artísticas, a preparar seu discurso ou suas apresentações no trabalho. Não me refiro aos aplicativos tradicionais pelos quais fazemos quase tudo. Falo daqueles para os quais damos a ideia inicial e eles fazem todo o restante.
Ou seja, os robôs – como programas de computador e não humanoides (ainda) – estão chegando, pegando geral, também vão pegar você. Até as atividades de criatividade que se supunha não correrem risco estão fortemente na mira.
Por isso as crianças de hoje serão profissionais de atividades que nós ainda sequer sonhamos. Faz parte do processo evolutivo, assim como sumiram os acendedores de lampiões e os professores de datilografia. O grande dilema é, se com essa tecnologia toda, haverá emprego para todos. Segunda-feira pode ser só história para contar…