“♫ O homem é o lobo do homem, o lobo/ O homem é o lobo do homem, o lobo/ Sempre em busca do próprio gozo/ E todo zelo ficou pra trás/ Nunca cede e nem esquece/ O que aprendeu com seus ancestrais/ Não perdoa e nem releva/ Nunca vê que já é demais” (O lobo; Pitty).
Robôs com corpos bem femininos, ressalte-se! Muita gente ficou surpresa semana passada ao ver imagens circulando pela internet do bilionário da inovação Elon Musk abraçando e beijando “algumas” robôs. Para quem não viu ainda, é só clicar aqui. Publiquei algumas das fotos que pulularam.
Este foi mais um dos factoides envolvendo o multiempreendedor. Mas dessa vez, pelo menos aparentemente, ele não teve nada a ver com a história. Outra pessoa criou as imagens em aplicativo com inteligência artificial e elas ficaram, com o perdão do trocadilho, realmente realistas.
SOMOS TODOS NÓS
Outro dia comentei aqui mesmo nessa coluna sobre as fotos do Papa e de Donald Trump, talvez nem tão realistas como essas do dono da Tesla, mas que deixaram muita gente em polvorosa: o argentino vestido com um casaco a la rapper e o americano brigando e fugindo da polícia.
Está definitivamente cada vez mais difícil separar o joio do trigo no que se refere a imagens que recebemos todos os dias nas nossas redes sociais e aplicativos de mensagens. Como saber se aquilo que está ali é real ou não? Se aquela imagem transmite algo que efetivamente aconteceu ou se é uma montagem criada por programa de computador de última ou penúltima geração?
Não tem como, salvo se o destinatário tiver o cuidado de investigar, procurar, pensar, ler. E isso dá trabalho. Dói. Principalmente em era de voracidade das pessoas sobre o tempo ou do tempo sobre as pessoas; não sei mais qual é qual ou quem é quem. Só sei que isso se abate sobre todos nós. E o conhecimento, fruto da informação, está sendo superado pelo excesso de informações sem conhecimento.
OS OUTROS
Mas, claro, sempre haverá aquela parcela da sociedade que dirá que a culpa é dos outros. Que outros? Quaisquer outros, desde que sejam outros, e que esses outros não pensem como esta parcela da sociedade.
No acaso de alguém passar uma informação falsa, uma imagem que não corresponda à realidade, e que, eventualmente, cause prejuízo, moral ou material, a alguém, pode-se reputar a culpa a outro. Ou outros. Afinal, a informação foi recebida de alguém querido, ou expert, ou famoso, ou qualquer coisa.
Imagens como a do Papa com roupa moderna ou do Musk beijando robôs não geram danos à sociedade, mas revelam um perigoso caminho que estamos começando a aprender a trilhar (e às cegas), e nos obrigam, indiscutivelmente, a refletir com muito mais seriedade sobre fake news, deep fakes, comportamento e sociedade.
Houve um tempo em que homem era o lobo do homem. Será que chegou o tempo da máquina sê-lo?