As relações familiares, especialmente entre pais e filhos, são profundamente complexas e muitas vezes carregam padrões e maneiras de ser que podem impactar várias gerações. Eu me lembro de diversos conflitos que já tive com meus pais e hoje consigo identificar que a diferença de geração e as experiências de vida em tempos diferentes foram as origens de muitos problemas. Será que tive esses problemas sozinho? Eu acredito que não.
É muito provável que você também tenha tido experiências em que quis “trucar”, questionar seus pais, cheio dos seus conceitos e razões. Nesses momentos, a batalha se trava e muitos relacionamentos se tornam problemáticos por falta de “jogo de cintura” para contornar a situação, não é mesmo?
Aqui estão três tipos de relações que ilustram como essas dinâmicas podem se manifestar:
Relações entre gerações: avós, filhos/as e netos/as.
Cada geração cresce com diferentes ferramentas, experiências e percepções de mundo. O que serviu para os nossos pais pode não servir para nós, e vice-versa, pois estamos em tempos diferentes. Por exemplo, a maneira como lidamos com a tecnologia ou como enxergamos as relações interpessoais mudou muito.
Antes, o contato humano era mais próximo, com conversas olho no olho, mas a chegada da tecnologia apresentou novas formas de comunicação, levando à revolução do mundo online. Muitas vezes, isso resulta em dificuldades de comunicação e mal-entendidos. A transferência de dores e frustrações, sem resolver os próprios conflitos, pode fazer com que filhos repitam padrões disfuncionais.
Ao mesmo tempo que alguns dizem que o contato próximo era melhor, como um aluno da mentoria relatou, o primeiro beijo que ele deu no rosto de seu pai foi aos 35 anos de idade. Isso era comum em gerações anteriores, que bloqueavam as emoções e os sentimentos como um artifício de “fortaleza”, a luta por ser forte.
Outro aluno relatou que nunca disse e nem ouviu o primeiro “eu te amo” de seu pai e só conseguiu liberar essas palavras no funeral dele, apelando com lágrimas para que pudessem se reencontrar e se tornarem amigos, por conta da distância que tinham na relação.
Fatos semelhantes ocorrem em tantas famílias, não é?
Qual foi a sua melhor experiência com seu pai?
Em minhas palestras, relato que todos nós nascemos como filhos e vamos amadurecendo na vida. Depois, nos tornamos pais e, consequentemente, avós. Mas todos nós começamos sendo filhos, e conforme as nossas bases — como fomos educados, se com uma mentalidade flexível ou rígida, com escassez ou abundância, vamos gerando nossos padrões de comportamento e reações emocionais em cada contexto no qual lidamos, coerentes com os nossos valores, com a nossa mentalidade.
Esse percurso nem sempre é fácil.
Muitas vezes, há uma bagunça quando mudamos de estação — de filhos para pais e de pais para avós. Todo mundo está aprendendo junto, com o nível emocional elevado, e isso se torna a origem de muitos problemas.
Os papéis se embaraçam, causando problemas no convívio, como avó no lugar da mãe, filho no lugar do marido, e por aí vai…
Antes de achar que está com a razão neste momento, “Filhos adoram criticar os seus pais, mas quando menos percebem estão sendo cópias se não tomarem consciência”
Pergunta para reflexão: O que você pode estar transferindo da sua vivência com seus pais para a vida de seus próprios filhos?