“Chuvas, cidades, rodovias e o caos”

Por: Nelson Luiz Pereira

06/02/2020 - 19:02 - Atualizada em: 06/02/2020 - 19:16

A intensidade das últimas chuvas voltou a afetar nossa região. O município de Garamirim foi o mais atingido e, como se não bastasse, a rodovia SC-108, cujas obras de recuperação já se arrastavam por um ano, voltou a ser interditada por conta de novos deslizamentos. É inquestionável que chuvas torrenciais aconteçam. Ademais, a natureza nos garante que, por conta de mudanças climáticas, motivadas seja lá por qual motivo for, elas serão cada vez mais intensas e frequentes. O que não se concebe como natural é o fato de os estragos e prejuízos serem recorrentes. Este é o ponto que merece reflexão.

As cidades não estão preparadas, os cidadãos não estão conscientizados, as rodovias são mal projetadas e inseguras. Segue-se remendando a cada tormenta, alimentando o caos, acreditando na estiagem. Avança-se contornando por vias improvisadas, poluindo, entupindo galerias, ocupando áreas irregulares, destruindo matas ciliares, dando-se o “jeitinho”, e acreditando-se na liberação do minguado e moroso dinheiro público para a reconstrução. Deste caos recorrente ecoa, providencialmente, o notório grito do Titãs: “a gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade”.

As tempestades voltarão, e voltarão, e voltarão, e tudo estará pela metade, porque não há Planos Diretores de Drenagem Urbana sustentáveis. E isto não é uma particularidade de nossa região, mas uma realidade das cidades brasileiras. Insistir em aumentar a capacidade de escoamento das galerias pluviais é uma solução paliativa, ou, pela metade. Há que se adotar sistemas revolucionários de drenagem capaz de absorver e regenerar o ciclo hidrológico natural.

Em síntese, o caos deixará de ser recorrente quando houver efetivo planejamento urbano no tocante a ocupação irregular, a geografia local, as áreas de risco, a hidrografia, a vegetação, os solos, as áreas de preservação e conservação ambiental.