As deformidades da parede torácica podem ser dividas em congênitas e adquiridas. No caso das congênitas, pelo fato delas existirem desde sempre, muitas vezes são relevadas por muito tempo, algumas vezes pelos pacientes e outras pelos familiares. No entanto, a melhor atitude a ser tomada, sem dúvidas é a investigação da deformidade, pois assim podemos saber qual o grau de risco que a mesma oferece, e então decidir qual a melhor conduta a ser tomada para evitar complicações futuras.
Deformidades Genéticas
As deformidades genéticas mais conhecidas são: o Péctus Excavatum ou coloquialmente, “Peito de sapateiro”; Péctus Carinatum também chamado de “Peito de pombo” ; e Síndrome do desfiladeiro torácico (como esta pode ser adquirida também comentarei no outro tópico). O Péctus se manifestam desde a fase infantil, tornando-se mais visível quando os indivíduos apresentam o crescimento inicial, podendo ter manifestações dentro da esfera social ou orgânica.
Péctus Escavatum
O Péctus Excavatum pode trazer alterações relacionadas com a diminuição do espaço entre o osso esterno e a coluna, interferindo no funcionamento dos pulmões e do coração; podem também gerar dor crônica e alterações de cunho psico social. No começo da nossa vida até a adolescência, o tórax é mais maleável, após este período, vai ocorrendo uma maior ossificação das estruturas cartilaginosas, com isso os sintomas podem ficar mais evidentes e o tratamento concomitantemente ficará mais difícil de ser realizado. Quando o osso central afunda ele passa a tocar no coração e algumas vezes desloca o mesmo para o lado esquerdo, esta diminuição também cria uma restrição à função respiratória.
Existem níveis de afundamento que são muito bem definidos com uma tomografia computadorizada de tórax e um check-up rápido, cardiológico e pulmonar , assim possibilitando melhor classificação da situação e definição do tratamento.
O tratamento pode ser apenas fisioterápico, algumas vezes pode ser indicado o uso de coletes, e em casos mais selecionados o tratamento cirúrgico será a melhor opção. Como sempre o mais importante é o diagnóstico correto, a partir dele que saberemos o que fazer e assim evitaremos problemas maiores no futuro. Hoje em dia na maior parte dos Péctus escavatum, o tratamento cirúrgico pode ser realizado por video cirurgia, o que facilitou bastante o (Pré-operatório de uma video correção pela técnica de NUSS e o pós-operatório) procedimento, transformando uma cirurgia que era demorada, para uma cirurgia que leva em média 1 hora.
Péctus Carinatum
O Péctus Carinatum por sua vez, dificilmente gerará alterações cardíacas, pois a estrutura se projeta para fora; no entando, ainda pode fazer uma restrição à eficiência respiratória, e pode também gerar dor torácica além de alterações psicológicas que passam a atrapalhar o convívio em sociedade. Neste caso, os exames serão praticamente os mesmos que o relatado acima, assim como o tratamento.
Deformidaes Adquiridas
As deformidades adquiridas podem se relacionar ao trauma acidental, onde nós encontramos as fraturas das costelas, do osso esterno e das estruturas associadas. Porém existem aquelas que são geradas pelos movimentos repetitivos, como a Síndrome do Desfiladeiro Torácico, podendo gerar dor , mudança de cor e formigamento dos membros superiores.
Os acidentes automobilísticos e quedas em geral, podem gerar fraturas costais, que por muito tempo foram deixadas sem tratamento a margem de uma cicatrização espontânea, mesmo que isto pudesse aumentar muito o tempo de internação ou retardar e até inviabilizar o retorno as suas atividades normais. Felizmente nos dias atuais existem serviços de trauma que não deixam mais estes casos sem tratamento, nós em Jaraguá do Sul fomos pioneiros em Santa Catarina, no tratamento cirúrgico de fixação destas fraturas. Existem critérios de indicação da fixação aceitos desde o princípio e hoje em dia foi agregado novos critérios visando uma maior qualidade de vida pós trauma . Os aceitos a longo tempo são aqueles onde o paciente apresenta-se na UTI em ventilação mecânica com múltiplas fraturas que geravam instabilidade da parede.
Atualmente quando pensamos em qualidade de vida, após a alta do hospital, indicamos a fixação para casos de dor que são avaliados como importante, a presença de 3 ou mais fraturas desviadas, ou a presença de algum eixo da costela que adentre o espaço do pulmão, entre outras indicações. Existem pacientes que tiveram alta hospitalar, e a dor após 3 meses não melhora, nestes casos pode ocorrer uma falsa consolidação. Em todos os casos a fixação dos arcos costais vai proporcionar a estabilidade imediata após a cirurgia, gerando uma melhora da dor na grande maioria dos casos, e principalmente, o tórax voltará a ter a sua forma normal. Isto faz a diferença na reintegração destas vítimas à sua rotina pré acidente. Hoje as técnicas buscam sempre o uso de materiais minimamente invasivos, usando sempre que possível a vídeo cirurgia como suporte.
Síndrome do desfiladeiro Torácico
A Síndrome do desfiladeiro torácico acontece porque os vasos arteriais, os venosos e os nervos, para chegarem até o braço precisam passar no meio de estruturas torácicas, que seriam, os músculos escalenos, a primeira costela e a clavícula. Algumas vezes existem pontos que geram uma obstrução. Esta obstrução geralmente é piorada com movimentos de elevação do braço envolvido e ou a rotação do pescoço. Esta posição pode gerar compressão vascular, nervosa ou ambas. Os sintomas e sinais mais comuns são: o formigamento do braço, do ante braço e da mão; o adormecimento frequente destas regiões; a dor crescente em determinadas posições; a falta de força e a mudança da coloração do membro superior, geralmente para tons vermelhos ou mais arrochados.
O tratamento pode variar desde medicações e fisioterapia, até a realização de tratamento cirúrgico, que visa ampliar o espaço onde está a compressão. Normalmente, a liberação ocorre retirando a primeira costela e um segmento dos músculos escalenos. Os principais exames são: o ecodopler de vasos subclávios, angio tomografia e a eletromiografia. A cirurgia é feita geralmente pela técnica aberta, mas uma ótima opção é a realização da mesma cirurgia por uma técnica minimamente invasiva, que seria a video toracoscopia ou a técnica Robótica.
Particularmente, prefiro usar hoje em dia a técnica robótica para o tratamento destas lesões. Por fim, o resultado será uma melhora passagem após a retirada da 1ª costela que funcionava gerando um efeito compressivo, havendo uma melhora imediatamente após a cirurgia.
Algumas complicações como a trombose do vaso, pode ocorrer quando o tratamento não é instituído, e a compressão vascular permanece por mais tempo, exemplo, durante o sono, sendo de fato preocupante. O mais importante como sempre é diagnosticar perfeitamente.