Adolescentes tardios, longevidade, empregos e aposentadoria

FOTO: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

14/11/2023 - 11:11 - Atualizada em: 14/11/2023 - 16:47

Com algumas pequenas alterações dependendo da fonte, quando meus pais nasceram, na década de 40, a expectativa de vida média do brasileiro era de 45 anos. Quando eu nasci, na década de 70, era de quase 60 anos. Quando minha primeira filha nasceu, em meados dos anos 90, era de mais de 67. Meus gêmeos nasceram em 2021 e não tenho os números exatos, mas possivelmente algo em torno dos 77 ou 78 anos de idade.

Mas, sinceramente, acredito que a expectativa de vida de uma criança que tenha nascido após 2020, se não passar fome ou morrer em alguma guerra, com o avanço tecnológico da medicina e da inteligência artificial, deve superar tranquilamente os 120 anos, para ser bem conservador.

Adolescentes tardios.

Se há uns 10 ou 15 anos já se falava criticamente sobre os filhos que se mantinham na casa dos pais, independentemente das motivações, até depois dos 30 anos, o que podemos imaginar quando as pessoas viverem em média até os 120 ou 150 anos?

Quais serão as expectativas de vida (não de idade), os anseios, as esperanças e as intenções práticas dessa molecada que está nascendo agora quando tiverem 15, 20 ou 30 anos, sabendo que terão mais 100 anos, pelo menos, pela frente? Como os pais, as escolas e sociedade estão se preparando para este novo e longo desafio?

Empregos ou trabalhos.

Foi-se o tempo das homenagens àquele empregado que ganhava um relógio por ter trabalhado 40 anos na mesma empresa. Aquele orgulho de vestir a camisa pensando em ficar eternamente no mesmo empregador está cada vez mais raro.

Hoje é mais comum ver uma pessoa com menos de trinta anos já ter passado por várias experiências profissionais. O ditado “pedra que muito rola não cria limo” deixou de fazer o sentido original. Em verdade, os jovens não querem criar limo; querem diversificar seus aprendizados. E a tecnologia atual facilita este pensamento.

Mas é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que vemos jovens de mentes abertas buscando alternativas em busca de crescimento profissional, há aqueles que nunca estão satisfeitos, que acreditam que terão, sem esforço, a sorte da fama de 15 segundos que poderá lhes garantir todo um futuro (a frase equivocadamente reputada a Andy Warhol fala de 15 minutos, eu sei, mas hoje isso é tempo demais para alguns).

E esta questão leva à próxima.

Aposentadoria.

Antes de falar propriamente sobre aposentadoria, em um tempo com vida média de 120 ou 150 anos, é crível esperar que as pessoas fiquem no mesmo trabalho, no mesmo estabelecimento, fazendo as mesmas coisas por quase cem anos?

Considerando este aspecto, é correto impor a um jovem de 16 ou 17 anos que decida seu futuro em um vestibular tão jovem? Não estamos, como sociedade, muito atrasados em rever estes conceitos, especialmente se não temos a mínima ideia das profissões que vão surgir ao longo dos próximos anos?

E se temos dificuldade de perceber a importância de rever os conceitos sobre o início da atividade profissional ou da prematuridade das escolhas impostas aos adolescentes ante um universo que está nascendo, o que estamos refletindo sobre o fim da vida, cada vez mais longínquo?

Aposentar com 60, 70 ou 80 anos será inviável, econômica e psicologicamente. Como ficar mais algo entre 50 e 90 anos vivendo às custas de previdência, seja ela pública ou privada? Quer dizer, a pública a esta altura já quebrou. E do ponto de vista psicológico, como deixar as pessoas apenas “curtindo sua aposentadoria” em casa?

Do início ao fim temos que, urgentemente, rever com seriedade todos os preceitos construídos até agora sob pena de muito em breve estarmos, como humanidade, completamente perdidos nesta selva de bits e bytes que cresce a cada dia.

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.