Esta semana a sociedade foi brutalmente nocauteada com um ato de extrema violência em Blumenau. O que nos deixa atormentados, é o fato de sabermos que esse hediondo episódio não foi o último, como também, não foi um caso isolado. Há uma dinâmica orquestrada. As comunidades do mal vêm se multiplicando, e já não se fazem recônditas ao porão da web, ou deep web. Essas criminosas comunidades estão, ousadamente, ascendendo a um patamar superior e mais visível, ancoradas e legitimadas por ‘palanques’ extremistas. Esses ‘ratos bípedes’ estão saindo das tocas, e suas células se multiplicando. Quem tem a capacidade cognitiva de ler as entrelinhas, está percebendo que mensagens extremistas já transitam no andar superior, ou seja, em fóruns de jogos e, até mesmo, nas redes sociais. Essas comunidades doentias que cultuam supremacismo de toda ordem e outras sandices, brotam comumente na adolescência, cujos sujeitos são, vulneravelmente, doutrinados para o ódio. As motivações, a meu ver, são as mais diversas, porém, há duas que não se pode ignorar: a ausência de Estado e a ausência de lar. Com relação à primeira, é incompreensível que, com tantos recursos tecnológicos e de inteligências, ‘ratos’ com vasto rol de antecedentes criminais, seguem convivendo em sociedade sem o mínimo de limitação e controle. Quanto à ausência de lar, a falta de base acaba por violar a lei da natureza gregária do ser humano. A oculta e vingativa resposta a tal negligência, é a violência. Alguns poderão indagar: e a escola? Bem, devido às ausências de estado e lar, ela acaba sendo, tanto parte do problema como parte da solução, mas, jamais culpada. Nosso modelo de sociedade peca em comprometimento e sensibilidade para com as novas gerações. Sistemicamente, nossos filhos estão se vendo constritos entre duas antagônicas bolhas ‘sênior existenciais’ que se odeiam mortalmente, pela simples razão de verem o mundo de forma binária, sendo ele diverso. Sei que é desalentador afirmar isso, mas, vejo que o contrato social de convivência está se deteriorando. Assistiremos, ou sofreremos, novas e breves tragédias, pois, a violência coabita, em essência, a natureza humana, e o campo se mostra fértil. O controle do gatilho está, tão somente, num frágil fio que denomino “intensidade da razão” que, por sua vez, também se encontra em deterioração.
07/04/2023 - 09:04 - Atualizada em: 07/04/2023 - 09:21